Lembro-me, aqui há uns 3 anos atrás numa altura conturbada e incerta, de ter escrito qualquer coisa em género de teoria, sobre como por vezes a
resolução das complicações que ocorrem na vida nos permitem guiar-nos pelos caminhos certos à medida que vamos resolvendo essas complicações que – pasme-se – não cessam de se produzir, nas suas diferentes dimensões, com mais ou menos importância, com mais ou menos contornos e implicações, mais graves ou menos graves nas eventuais consequências, mas sempre presentes, interligando diferentes aspectos da vida num bailado repetitivo, complicação, resolução, complicação resolução, e por aí adiante… Estarei assim eu dessa forma constantemente a manter-me no caminho certo, diga-se a redireccionar o meu caminho para o manter certo, evitando as complicações que conseguir, e resolvendo as que não consigo evitar…? O tempo do verbo no gerúndio não é muito assegurador de que realmente a teoria é infalível, mas é o que temos.
Seguramente que na minha teoria entrará um inevitável factor desgaste que não estarei porventura a contemplar na sua verdadeira dimensão, provavelmente porque ainda mal o sinto, mas sei – e já o escrevi também – que mais tarde ou mais cedo,
tudo se paga, material, comportamental ou emocional. Esta contingência tem um elemento particularmente acutilante pelo facto de ser faca de 2 gumes, como uma vela que arde dos 2 lados, mais tarde ou mais cedo, tudo se paga, seja do lado da complicação, seja do lado da resolução, é inevitavel e matemático.
Gostava de conseguir antecipar as complicações antes delas se produzirem, aliás, antecipar até chego a conseguir com regular frequência, agora evitar que as complicações se materializem é que raramente está ao meu alcance… Fosse eu uma potência militar como a Coreia do Norte e anunciaria ataques nucleares preventivos para evitar – o que resultou – complicações. Mas eu não sou potência militar, tenho apenas alguns neurónios exercitados pela leitura técnica e pelo Xadrez, uma inegável experiência de vida, formação académica para dar e vender, o que na prática por vezes de pouco ou nada me serve e me obriga a servir-me também de um par de raquetes calejadas, eventualmente de um par de instrumentos de ortodontia em lona ou cabedal, e em último recurso, um espanta-espíritos entalado na cintura das calças (este último muito útil, entre outras situações, nas minhas longas viagens solitárias de mota que impliquem passagens, paragens ou dormidas em locais duvidosos).
Teorias à parte, a grande sabedoria, em face das complicações, está mais em ter a capacidade de, em vez de alimentar as complicações, saber desdramatiza-las, não lhes chegando sequer a dar tal estatuto, erradicando-as da vida,
thus descomplicando a vida. Não sendo isso possível, é resolver então a complicação, desenvolve-se uma estratégia, sacrifica-se um peão, mesmo uma torre, valoriza-se a rainha e protege-se o rei, é o xadrez da vida. Adiante…
Para a complicação do momento (motor de arranque da mota gripado), os 2 semestres de “Gestão de Projecto” no 2º ano da 1ª licenciatura de pouco me servem (nem os conhecimentos de mecânica). Resta-me planear o dia de forma a obter o melhor e mais eficiente resultado possível, assim:
1- Sair de casa às 7:00h e conseguir pegar a mota de empurrão (são 200Kgs a seco).
2- Serpentear pelo trânsito da A5 até à saída de Carnaxide/Linda a velha.
3- Descer até à Marginal em Algés, apanhar o sentido Cascais-Lisboa e passar o viaduto para a Av da India.
4- Fazer o percurso todo até ao Cais do Sodré (sabendo que os últimos 1000 metros depois de Santos serão feitos em sentido proibido)
5- Percorer rapidamente a zona ribeirinha passando T. do Paço, Xabregas, Beato, Poço de Bispo e virar para Chelas naquela rotunda quadrada com uma escultura colorida e esquisita antes da Matinha e da Expo.
6- Tentar não me perder nos Olivais para encontrar o caminho para a Picheleira.
7- Estar às 9:00h da manhã à porta da oficina da “motopeças (Yamaha)” a rezar para que eles, ao contrario do meu mecânico em S. João do Estoril, não fechem para férias na 2ª quinzena de Agosto.
Se estiverem abertos, lindamente, se estiverem fechados, na altura penso nisso porque há múltiplas possibilidades mas nem todas têm o mesmo rácio de praticabilidade e eu tenho imperativamente que resolver o probl... a complicação, sem falta amanhã!
Efectivamente há complicações com diferentes graus de importância. A importância que tem uma "complicação" é uma unidade de medida intrinseca que depende de factores por exemplo como o que se tem a perder, o que se tem a ganhar ou o quanto se investiu, pelo que é um exercício perfeitamente idiota e presunçoso tentar quantificar, desvalorizando ou sobrevalorizando, a importância que tem para outrém uma dada complicação, por oposição à importância que se lhe atribui.
De igual modo, há complicações que se resolvem mais facilmente que outras, e há certo tipo de complicações que se camuflam de aparentemente resolvidas e alheadas, mas depois arrastam-se, insistem, persistem e resistem... essas (e agora falo por antecipação) quando deixa de ser possivel ignorar, acabam por ter que se resolver... como diriei...?
Do pé p'ra mão!?