...e enquanto esperava, no fundo da rua...
Isto já andava prometido, mesmo desejado, há tempo demais, uma aventura… Mas a vontade, por muita que seja, às vezes por si só não chega, porque a decisão precisa de uma combinação de factores, uma conjectura quase perfeita, harmoniosa, de elementos internos e externos de mim. Já aqui o escrevi antes, em género de hesitação, que a determinada altura valores mais altos se levantaram e tudo o que pudesse querer fazer ficou em suspenso, mas agora, com os valores todos elevados, tomei a decisão em 2 segundos, entre uma passa num cigarro e um olhar furtivo para o decote da fulana na mesa ao lado, entre um café bebido frio e o jornal do dia anterior:
Vou dar uma volta de mota, volto amanhã… Foi no Sábado.
Desenhei o itinerário na cabeça, entre locais para posar para a foto no telemovel e outros lugares que apareçam: Atravesso a ponte sem mapa (deitei-os todos fora no Verão passado) e faço-me à aventura, como eu gosto, sempre em frente, ir andando até me apetecer parar num lugar qualquer, observar desconhecidos, fotografar o Mar e o céu, conhecer lugares novos, revisitar lugares que já conheço, beber aquele whisky a mais e deixar outro pago para quando voltar, e soltar o animal… enfim, espalhar o charme, ou a estupidez natural, depende de quem olha, mas fazê-lo da única maneira que sei: genuinamente.
Uma volta de mota com blusão de cabedal mas com àgua no bico, uma decisão simples, inspirada num rasgo de decote que me distraiu de ler o jornal, vou andando, aproveitar o Sol, gastar serotonina, vou abrir a berguilha e ver o que morde…
Na A2 trauteei a “125 azul” dos Trovante com letra adaptada à versão “Virago preta e cromada” e sem me importar muito que na versão original essa música fale de alguém que morreu num desastre de mota, justamente na A2. O Ar quente a 180 Km/h (bendita gasolina de 98 octanas) é embriagante, compreendo-o, desacelero… livrei-me de muitas e boas quando era puto, não é agora que me vou tornar numa estatística.
O Ferry em Setubal não me levou para Troia, trocaram-lhe as voltas e eu não sabia, e assim, como que por artes mágicas, vi-me abençoado com um novo trajecto que contorna o passado e que como uma inesperada máquina do tempo me coloca 10 minutos à frente do planeado, às portas da Comporta. Primeira paragem: Um bar na praia que me fez lembrar as noites passadas com a C. Cintra, mas que hoje pouco mais tem para me oferecer do que um fantástico rasgo de Atlântico, infelizmente poluido com umas bandeirolas na areia da praia a imitar o Café d’el Mar de Ibiza (nota mental para não pôr lá os pés em época balnear ou à hora das refeições ao fim-de-semana). Bebi o meu copo, tirei um foto ao fim do dia e ao sair a empregada veio ter comigo cá fora para me dar um cartão da casa…Agradeci-lhe em russo e recebi um sorriso em troca, tinha-lhe topado o sotaque quando ela me cumprimentou à chegada… Estupidez natural em acção.
Próxima paragem, uma bomba de gasolina escondida na natureza onde a memória mais vívida que tenho foi de um dia não me ter sido lá permitido salvar uma cadelinha abandonada… serviu para me lembrar que há coisas que prefiro esquecer, e outras que nunca me consigo lembrar. Bebi uma imperial-traçada com um Motard de Virago 1100 (bom gosto) mas com blusão verde fluorescente (arghhh….) Sim, sim camarada, a gente vê-se em Faro p´ró ano, já me tinhas dito…
Melides passou-me ao lado como nunca antes e a tabuleta para Grandola também… Depois veio uma aldeia castiça a caminho da lagoa de Santo André, uma aldeia que a memória selectiva só me permite lembrar dos momentos bons que lá passei (sim, revisitar os mesmos lugares, sobretudo aqueles onde se foi feliz, assuntos resolvidos em mim, mesmo que pendentes nem sei bem aonde ou porquê).
Parei no café de um Poeta que conheci mas que nunca li, mesmo a tempo de ver o Leixões a marcar o 1º golo ao FCP… O “meio” soube-me bem e o que deixei pago ainda soube melhor. ‘Tá-se bem no Alentejo mas não tenho tempo para ficar aqui, nem nada que me prenda, prazer em vê-los, concerteza que vou aparecendo, até qualquer dia…
Segui viagem, ficaram para trás Santo André, Sines, Porto Côvo e um local fantástico à beira da estrada onde uma vez a “belle 4L” marcou um ferro indelével na paixão numa tarde de memória partilhada e porta aberta com as pernas a desafiar a gravidade e a gritar “ais” e “uis” com o tráfego a passar… Em frente é o caminho e a palavra chave é “indelével”, tal como a imagem do decote que me fez fazer à estrada horas antes…
Vila Nova de Milfontes, a tempo de ver o fim do jogo no café com o Pai de um Amigo engripado (‘Tás melhor xavale?), depois um quarto reservado no hotel e a mota na garagem, um abraço ao amigo engripado, um beijo na namorada nova (G’anda borracho meu, faz por merecê-la) e uma omelete improvisada porque não estavam a contar comigo para jantar (é o que dá não me levarem a sério quando digo que um dia apareço sem avisar). A conversa do serão foi fantástica, como sempre, animada e divertida e a vontade de rir foi levada ao extremo… Depois beijinho que se faz tarde e até amanhã, vou beber um copo a um sítio qualquer, o primeiro que encontrar.
Hola Guapa! Si, hablo um poco de castellano, un Bar? Si, tienes el Sudoeste por essa calle abajo… Talvez tenha bebido demais, ou não, o decote era parecido com o que trazia na memória e o número no porta-chaves era consecutivo ao meu… Passou-me pela cabeça que o pior que posso alguma vez fazer a uma mulher é ter que beber para conseguir olhar para ela a direito, livrei-me disso, pousei o copo e vesti-me de galanterias e cantigas de bandido… Sofia? Que giro, é o nome de uma das minhas irmãs… Isso escreve-se com “f” ou com “ph”? Madrid? Sim, sou capaz de ter que lá ir esta semana… Como é que se diz “camisinha” em espanhol? Bolas, já me esqueci…
De manhã fui ver a foz do Rio Mira e pedi a um casal de estranhos para me tirar um retrato... Não sei se a mulher da limpeza estranhou mais não ter nada para arrumar no meu quarto, ou se estranhou o trabalho a dobrar no quarto ao lado do meu… De qualquer forma a essa hora já eu estava a caminho de Odemira: “Love them and leave them”, nunca me vou esquecer dessa frase, é pontualmente uma verdade verdadinha e por umas horas serviu para viajar até às noites de promiscuidade casual em Inglaterra… Tudo tem o seu tempo. Vinhos finos, vinhos finos, matam a sede ao corpo e alimentam o Ego.
Atestei o depósito em Odemira e fiz meia volta numa rotunda de empedrado a combater a vontade de continuar em frente sem parar, por uns momentos, na minha cabeça, a Virago fez o Paris-Dakar no deserto da Mauritânia a fugir de bandidos nómadas de Kalash AK-47 ao ombro e camelos pastelentos e cobertos com mantos de entrançado colorido… Senti uma vontade enorme de voltar ao “Comporta Café” e beber o tal whisky a mais… Apenas me desviei do caminho para tirar umas fotos junto à Ilha do Pessegueiro, e mais adiante para ver o Mar na Lagoa de Santo André e mandar umas mensagens SMS de cortesia, calha sempre bem, sobretudo quando não se deve nem teme.
Melides outra vez seguido de Pinheiro da Cruz, um dia vou lá parar (salvo seja) para descobrir quem é o produtor de um vinho com 6 castas que me ofereceram uma vez, serão os presidiários? Segui sem parar, como sempre.
Na Comporta tinha tirado umas fotos absolutamente fantásticas ao horizonte no dia anterior, mas naquele momento incomodou-me o barulho das pessoas, bebi um desejado whisky e deixei uma caipirinha por beber (quero lá saber o que ficaram a pensar!), de qualquer forma a porcaria das bandeirolas já me estava a irritar… Depois fui à porta ao lado, à “Ilha do Arroz”, nunca lá tinha entrado, bebi o tal whisky a mais e vim-me embora sem aquecer a cadeira…Vai-me sair caro o passeio, mas que se lixe, mereci-o, além disso o fim do mês está aí outra vez, e o Princípio de Arquimedes re-inventou-se no fim do Verão quando o estado “líquido” passou a ser o do dobro do que era o estado “bruto” (bastou mudar de código postal, sempre o disse!).
Tróia, Ferry, Setúbal, Palmela pelo tracejado do tráfego intenso da estrada nacional 10 e o lusco-fusco na Serra da Arrábida.
A paragem em Almada serviu para revitalizar as energias e afastar as incertezas, passei a Ponte outra vez, mais uma vez… Quantas vezes mais vou atravessar a ponte?
Fiz as curvas da marginal mais devagar do que é habitual…
Vou dar uma volta de mota, volto amanhã… Foi no Sábado.
Desenhei o itinerário na cabeça, entre locais para posar para a foto no telemovel e outros lugares que apareçam: Atravesso a ponte sem mapa (deitei-os todos fora no Verão passado) e faço-me à aventura, como eu gosto, sempre em frente, ir andando até me apetecer parar num lugar qualquer, observar desconhecidos, fotografar o Mar e o céu, conhecer lugares novos, revisitar lugares que já conheço, beber aquele whisky a mais e deixar outro pago para quando voltar, e soltar o animal… enfim, espalhar o charme, ou a estupidez natural, depende de quem olha, mas fazê-lo da única maneira que sei: genuinamente.
Uma volta de mota com blusão de cabedal mas com àgua no bico, uma decisão simples, inspirada num rasgo de decote que me distraiu de ler o jornal, vou andando, aproveitar o Sol, gastar serotonina, vou abrir a berguilha e ver o que morde…
Na A2 trauteei a “125 azul” dos Trovante com letra adaptada à versão “Virago preta e cromada” e sem me importar muito que na versão original essa música fale de alguém que morreu num desastre de mota, justamente na A2. O Ar quente a 180 Km/h (bendita gasolina de 98 octanas) é embriagante, compreendo-o, desacelero… livrei-me de muitas e boas quando era puto, não é agora que me vou tornar numa estatística.
O Ferry em Setubal não me levou para Troia, trocaram-lhe as voltas e eu não sabia, e assim, como que por artes mágicas, vi-me abençoado com um novo trajecto que contorna o passado e que como uma inesperada máquina do tempo me coloca 10 minutos à frente do planeado, às portas da Comporta. Primeira paragem: Um bar na praia que me fez lembrar as noites passadas com a C. Cintra, mas que hoje pouco mais tem para me oferecer do que um fantástico rasgo de Atlântico, infelizmente poluido com umas bandeirolas na areia da praia a imitar o Café d’el Mar de Ibiza (nota mental para não pôr lá os pés em época balnear ou à hora das refeições ao fim-de-semana). Bebi o meu copo, tirei um foto ao fim do dia e ao sair a empregada veio ter comigo cá fora para me dar um cartão da casa…Agradeci-lhe em russo e recebi um sorriso em troca, tinha-lhe topado o sotaque quando ela me cumprimentou à chegada… Estupidez natural em acção.
Próxima paragem, uma bomba de gasolina escondida na natureza onde a memória mais vívida que tenho foi de um dia não me ter sido lá permitido salvar uma cadelinha abandonada… serviu para me lembrar que há coisas que prefiro esquecer, e outras que nunca me consigo lembrar. Bebi uma imperial-traçada com um Motard de Virago 1100 (bom gosto) mas com blusão verde fluorescente (arghhh….) Sim, sim camarada, a gente vê-se em Faro p´ró ano, já me tinhas dito…
Melides passou-me ao lado como nunca antes e a tabuleta para Grandola também… Depois veio uma aldeia castiça a caminho da lagoa de Santo André, uma aldeia que a memória selectiva só me permite lembrar dos momentos bons que lá passei (sim, revisitar os mesmos lugares, sobretudo aqueles onde se foi feliz, assuntos resolvidos em mim, mesmo que pendentes nem sei bem aonde ou porquê).
Parei no café de um Poeta que conheci mas que nunca li, mesmo a tempo de ver o Leixões a marcar o 1º golo ao FCP… O “meio” soube-me bem e o que deixei pago ainda soube melhor. ‘Tá-se bem no Alentejo mas não tenho tempo para ficar aqui, nem nada que me prenda, prazer em vê-los, concerteza que vou aparecendo, até qualquer dia…
Segui viagem, ficaram para trás Santo André, Sines, Porto Côvo e um local fantástico à beira da estrada onde uma vez a “belle 4L” marcou um ferro indelével na paixão numa tarde de memória partilhada e porta aberta com as pernas a desafiar a gravidade e a gritar “ais” e “uis” com o tráfego a passar… Em frente é o caminho e a palavra chave é “indelével”, tal como a imagem do decote que me fez fazer à estrada horas antes…
Vila Nova de Milfontes, a tempo de ver o fim do jogo no café com o Pai de um Amigo engripado (‘Tás melhor xavale?), depois um quarto reservado no hotel e a mota na garagem, um abraço ao amigo engripado, um beijo na namorada nova (G’anda borracho meu, faz por merecê-la) e uma omelete improvisada porque não estavam a contar comigo para jantar (é o que dá não me levarem a sério quando digo que um dia apareço sem avisar). A conversa do serão foi fantástica, como sempre, animada e divertida e a vontade de rir foi levada ao extremo… Depois beijinho que se faz tarde e até amanhã, vou beber um copo a um sítio qualquer, o primeiro que encontrar.
Hola Guapa! Si, hablo um poco de castellano, un Bar? Si, tienes el Sudoeste por essa calle abajo… Talvez tenha bebido demais, ou não, o decote era parecido com o que trazia na memória e o número no porta-chaves era consecutivo ao meu… Passou-me pela cabeça que o pior que posso alguma vez fazer a uma mulher é ter que beber para conseguir olhar para ela a direito, livrei-me disso, pousei o copo e vesti-me de galanterias e cantigas de bandido… Sofia? Que giro, é o nome de uma das minhas irmãs… Isso escreve-se com “f” ou com “ph”? Madrid? Sim, sou capaz de ter que lá ir esta semana… Como é que se diz “camisinha” em espanhol? Bolas, já me esqueci…
De manhã fui ver a foz do Rio Mira e pedi a um casal de estranhos para me tirar um retrato... Não sei se a mulher da limpeza estranhou mais não ter nada para arrumar no meu quarto, ou se estranhou o trabalho a dobrar no quarto ao lado do meu… De qualquer forma a essa hora já eu estava a caminho de Odemira: “Love them and leave them”, nunca me vou esquecer dessa frase, é pontualmente uma verdade verdadinha e por umas horas serviu para viajar até às noites de promiscuidade casual em Inglaterra… Tudo tem o seu tempo. Vinhos finos, vinhos finos, matam a sede ao corpo e alimentam o Ego.
Atestei o depósito em Odemira e fiz meia volta numa rotunda de empedrado a combater a vontade de continuar em frente sem parar, por uns momentos, na minha cabeça, a Virago fez o Paris-Dakar no deserto da Mauritânia a fugir de bandidos nómadas de Kalash AK-47 ao ombro e camelos pastelentos e cobertos com mantos de entrançado colorido… Senti uma vontade enorme de voltar ao “Comporta Café” e beber o tal whisky a mais… Apenas me desviei do caminho para tirar umas fotos junto à Ilha do Pessegueiro, e mais adiante para ver o Mar na Lagoa de Santo André e mandar umas mensagens SMS de cortesia, calha sempre bem, sobretudo quando não se deve nem teme.
Melides outra vez seguido de Pinheiro da Cruz, um dia vou lá parar (salvo seja) para descobrir quem é o produtor de um vinho com 6 castas que me ofereceram uma vez, serão os presidiários? Segui sem parar, como sempre.
Na Comporta tinha tirado umas fotos absolutamente fantásticas ao horizonte no dia anterior, mas naquele momento incomodou-me o barulho das pessoas, bebi um desejado whisky e deixei uma caipirinha por beber (quero lá saber o que ficaram a pensar!), de qualquer forma a porcaria das bandeirolas já me estava a irritar… Depois fui à porta ao lado, à “Ilha do Arroz”, nunca lá tinha entrado, bebi o tal whisky a mais e vim-me embora sem aquecer a cadeira…Vai-me sair caro o passeio, mas que se lixe, mereci-o, além disso o fim do mês está aí outra vez, e o Princípio de Arquimedes re-inventou-se no fim do Verão quando o estado “líquido” passou a ser o do dobro do que era o estado “bruto” (bastou mudar de código postal, sempre o disse!).
Tróia, Ferry, Setúbal, Palmela pelo tracejado do tráfego intenso da estrada nacional 10 e o lusco-fusco na Serra da Arrábida.
A paragem em Almada serviu para revitalizar as energias e afastar as incertezas, passei a Ponte outra vez, mais uma vez… Quantas vezes mais vou atravessar a ponte?
Fiz as curvas da marginal mais devagar do que é habitual…
1 passageiros clandestinos:
há poucos como tu F.
mantém-te sempre assim, humano e puro.
(adjectivos aos pares)
beijos
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