domingo, agosto 03, 2008

Abrir a campandula e libertar as borboletas

"A inteligência é a capacidade de adaptação a novas circunstâncias"
Lembro-me desta definição de Inteligência conforme a aprendi nas aulas de Psicologia Cognitiva, no 2º ano... e revejo-me facilmente nesta teoria, muito facilmente!
O que ainda estou para perceber é porque raio é que tenho que passar o tempo a colocar essa teoria em prática?! É que no fim de tanta inteligência algo transparece em mim, de forma gritante, algo que me diz que devo ser é um grand'a burro!
Mas enquanto essa vela vai ardendo dos dois lados, socorro-me de um certo descernimento para avançar em frente.
Aqui há uns tempos alguém me deixou um comentário num post que dizia simplesmente "Escrever ajuda, e tu escreves bem"... Fiquei sem resposta e fiquei com essa frase atravessada no gosto que tenho em escrever. Sem dúvida que de alguma forma nessa altura esse comentário me inspirou (ler "me ajudou") a continuar a escrever (ler "a ultrapassar") o momento, porque para além do gosto que tenho em escrever, escrever consegue às vezes ser uma excelente terapia. Contudo eu vejo a escrita primordialmente como uma forma de expressão, no límite uma forma de expressão dotada de ligeiro caracter artistico que dá uma forma mais redonda ao pontiagudo do contéudo, e que por vezes serve perfeitamente para colocar a realidade em perspectiva, tal e qual como se perspectiva um fundamento da vida ao representa-lo em formato de modelo matemático...
É curioso como faço ambas as coisas com alguma frequência... Filho de peixe sabe nadar.
Sim, escrever ajuda, sou forçado a admiti-lo. Quanto à parte de eu escrever bem, ora, ora...
A beleza está nos olhos de quem a vê, pelo que escrever bem depende de haver quem saiba ler bem, e assim o comentário que recebi nessa altura, agora, já tem uma resposta à sua medida: "Ler ajuda, e tu lês bem".
Hoje escrevo o que às vezes chamo "Post de Sábado", algo a que me habituei a fazer e que às vezes se prolonga para além de Sábado, um hábito que mantenho como uma colecção que se alimenta com itens novos de vez em quando.
Colecções é comigo, apanhei o vício com um dos meus melhores Amigos. Gosto de coleccionar coisas, colecciono moedas estrangeiras, caixas de fósforos personalizadas, canetas de tinta-permanente, Selecções do Reader's Digest, baralhos de cartas por estrear, imagens guardadas no computador e tabuleiros de xadrez...
Pode parecer absurdo, mas colecciono tantas coisas que acho que a minha maior coleccção é mesmo uma colecção de coleccções... Uma das colecções que tenho é de cartas escritas por mim, cartas que escrevi mas que nunca enviei, tenho bastantes, escritas em folhas soltas, em cadernos, guardadas no meio de livros, algumas já dentro do envelope e outras com sêlo e tudo, mas por qualquer motivo são cartas que nunca cheguei a enviar, mas que continuo a coleccionar.
Por vezes lamento as respostas que nunca recebi por nunca ter enviado algumas das cartas que escrevi, outras vezes penso simplesmente nos dissabores que poupei aos destinatários que não as receberam. Depende das cartas, e depende dos destinatários... Algumas dessas cartas não têm sequer destinatário, outras ainda - provavelmente as que me deram mais gosto escrever - são cartas sem principio e sem fim, só com o meio...
A determinada altura juntou-se a essa colecção de cartas por enviar uma colecção de emails que também nunca enviei, e mais recentemente acrescentei-lhe uma colecção de Posts que nunca coloquei online, no Blog (mas já volto a este assunto).
A minha colecção de colecções cabe em 2 caixas de cartão, já por diversas vezes estive para me desfazer delas, mas acabo sempre por me conter. Algumas das minhas colecções são de coisas que não ocupam espaço nenhum, como citações de livros e filmes que sei de cor, nomes de personagens e interpretes, letras de músicas e resultados de jogos de futebol, viagens de escape e momentos de reclusão, números de telefone e titulos académicos, experiência profissional e experiência de vida... Mas há outras coisas que colecciono e que ocupam todo o espaço do mundo, como a minha fantástica colecção de aventuras e desventuras, de erros e de tiradas de mestre, de memórias e esquecimentos, alegrias e tristezas, sonhos e pesadêlos, sucessos e fracassos, arrependimentos e orgulhos, de cicatrizes no corpo e de cicatrizes na alma (e destas últimas até tenho algumas para a troca!). Este tipo de colecções nem que um dia queira nunca vou conseguir deitar fora, ou sequer desfazer-me delas. Fazem parte de mim, integralmente. O resto são só hobbies, cada qual no seu lugar.
Mas na vida real nem tudo pode ser assim compartimentado de forma segmentada e simplista, há uma interligação entre os vários aspectos da vida que não se podem seccionar independentemente uns dos outros. Há um interligação, um conjunto de sinapses directas e indirectas que fazem com que de uma acção num dado aspecto da vida surja um efeito quase directo noutro aspecto qualquer... de certa maneira isso consiste numa forma de continuidade cuja integridade, no meu entender, é vital manter assegurada, em nome do equilibrio e da estabilidade, a todos os níveis.
De outra forma a vida perde parte da sua magia... Imagine-se: Hoje é assim e amanhã já não é, agora quero e mas depois torna-se complicado, e como ficou complicado vou apagar tudo para a coisa se simplificar para o meu lado, mas... de repente tornou-se tudo simples de novo, então toca a complicar outra vez, e então hoje é assim, mas amanhã é complicado, então apaga-se... Não! Seria um circulo vicioso sem dinâmica, sempre a patinar e a voltar ao ponto de partida, sem nunca avançar. Uma espécie de sucessão de catarses perpétuas. Pessoalmente não consigo viver assim, não posso viver assim, não estou sozinho no mundo, não posso lidar com a vida das outras pessoas com a mesma ligeireza com que escolho se me apetece matar a sede com uma cerveja ou com uma caipirinha.
Hoje é como pode ser - é o que temos -, e amanhã será o melhor que eu conseguir que seja, porque se eu tentar fugir ao complicado de hoje, não vou conseguir simplificar o amanhã e o máximo que consigo é apenas iludir-me...
Assim, se hoje é complicado, eu tento simplificar, e se hoje é simples eu permito que se complique um bocadinho para fazer a coisa avançar de patamar, e cada vez que uma nova complicação aparece então eu sei que estou no bom caminho, sei que resolvi a complicação que tinha e já tenho uma nova complicação para resolver, e a complicação resolve-se sem se ter que apagar nada do que já se simplificou (ler "conquistou") antes.
... no seu conjunto abrangente, isto é simples continuidade, e não é muito complicado, é como passear à beira do Mar, basta colocar um pé à frente do outro, e andar em frente.
De um certo ponto de vista, quando compartimentar significa organizar, então faz todo o sentido, agora segmentar de forma determinante não faz sentido nenhum, porque como tudo está interligado, e não estamos sozinhos no mundo, acaba-se por se perder o fio à meada, e provocam-se danos, danos em si e danos colaterais...
O descernimento é seguramente o elemento estabilizador para que se consiga compartimentar o que deve ser compartimentado, mas mantendo a Big Picture sempre em perspectiva, sempre!
Voltando então ao assunto de Posts que escrevi mas que não coloquei online no Blog, tenho um que gostei muito de escrever, que está escrito há umas boas 2 semanas, mas que por qualquer motivo relacionado com luzes acesas e mêdos do escuro (que é como quem diz, com cautela e com a cabeça bem no lugar), na altura não o postei no Blog. É um Post particularmente bem esgalhado, escrito num daqueles rasgos de espontaneidade que tanto me caracterizam. Mas o momento passou, e esse Post perde-se no tempo, como uma lágrima que se perde na chuva...
Talvez o devesse ter colocado imediatamente no Blog... Acho que nunca vou saber... Há tantas coisas que nunca vou saber, tanto que fica por fazer...
A única coisa que sei é que indubitavelmente perdi o mêdo do escuro, perdi-o num fim de tarde ventoso à beira-rio, num instante de incompreenção, inesperado, receado, perpicazmente mal antecipado, sem discurso ensaiado, sem perceber se o discernimento existe ou não, num breve momento onde toda a minha coragem para enfrentar as incertezas do escuro, para arriscar, para lutar, para me manter à tona d'água e nadar, continuar a nadar... toda essa coragem, toda a luminescência que trago num colar ao peito, toda a vontade do mundo! Nada disso foi suficiente para conseguir acender a luz no outro lado do Rio, na outra margem... Resta-me continuar a tentar, porque não sei desistir, e continuar a tentar é do que melhor sei fazer. Eu luto pelo que quero, e sacrifico-me pelo que gosto... Já estou como o Sting: "If you love somebody, set them free", mas nunca sei muito bem se sou eu que estou a libertar, ou se me estão a libertar a mim... a realidade é que não é preciso libertar alguma coisa de que se gosta e esperar que ela volte para se saber se realmente essa coisa gosta de nós... Basta colocar um pé à frente do outro, como passear à beira-mar.
Eu não tenho mêdo do escuro, e por mais escuro que o mundo se torne, nunca há de ofuscar o brilho no meu olhar, porque de qualquer forma o meu nome quer dizer isso mesmo, chamo-me Francisco, deriva do Latim, Francus - homem livre!

1 passageiros clandestinos:

Blogger By myself chamou a hospedeira e disse:

Só sei dizer que escreves ESPECTACULARMENTE!! Vou "linkar-te", pois não sei já como vim aqui parar, mas adorei o muito que já li e decerto o que ainda vou ler. Faz parecer fácil escrever assim. Parabéns.
Bjs

4:19 da manhã  

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