Vesper
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Lembro-me desde muito cedo de o meu Pai me levar a ver cada filme novo do 007 conforme saía no cinema. Geralmente iamos ao Casino Estoril ou ao Oxford em Cascais, outras vezes iamos ao cinema de Paço de Arcos e outras vezes ainda a cinemas de Lisboa quando o filme em questão não era exibido nos cinemas perto de casa.
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Lembro-me particularmente bem do primeiro 007 com o Roger Moore e de como, apesar do smoking piroso de casaco branco, me captivou imediatamente com o ar de gentleman atrevido, com as piadas faceis e o levantar de sobrolho malandro. Naturalmente os gadjets do "Q" também apelavam à minha fantasia, sempre elaborados, improvaveis, rebuscados mas eficazes. Os carros então, faziam-me mexer inquieto na cadeira a cada perseguição (que inspiram ainda hoje a forma como eu conduzo, e de onde o Lotus Spirit Turbo, anfibio e com sistema de auto-destruição, continua a ser um dos meus carros preferidos), e as cenas de esfrega-e-não-molha e de sedução eram momentos que eu não percebia porque raio tinham que entrar num filme de acção.
Em 83, em pleno reino de Roger Moore, o Sean Connery voltou a vestir o smoking do 007 uma última vez no fantástico "Never say never again", um remake do filme "007 - Thunderball" de 1965 (também com o Sean Connery),
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Depois da fase Roger Moore veio o mal aclamado Timothy Dalton, que embora não tenha convencido o mundo com os seus 2 filmes, conseguiu conferir uma faceta mais realista e humana ao imaculado e impavido agente de Sua Magestade, dinossauro da guerra fria. Saiba-se que Timothy Dalton é um de muito poucos actores Shakesperianos ainda vivos (o equivalente em Portugal a ser "Actor do Teatro Nacional"). Pela primeira vez o 007 sofria com conflitos tipicamente humanos como a consciência moral, o remorço e a vingança. Lembro-me de ter visto o filme "007 - The living daylights" pela 1ª vez em Paris, em 89 e de me ter passado por ser dobrado em Francês.
Mais tarde, já eu adulto feito e a morar em Inglaterra, comprei uma colecção em VHS com os filmes todos do James Bond. Tinha acabado de sair o "Goldeneye", o primeiro 007 com o Pierce Brosnan e o primeiro filme da série efectivamente filmado in loco na ex-União Sovietica. Por uns tempos re-avivei a memória de todos os esses filmes que tinha visto na infância.
Com o Pierce Brosnan mais uma vez o actor escolhido imprime ao James Bond as suas caracteristicas próprias, e assim o 007 volta a ter um humor pertinente e aguçado, e um novo tipo de charme fruto dos anos de representação do actor irlandês em papeis similares (como aliás já tinha sido o caso de Roger Moore). Pela primeira vez o 007 diz palavrões, como qualquer comum mortal, e os enredos variam da monotonia da guerra fria, do SPECTRE ou dos exlusivos vilões megalomaniacos, para abordar temas da actualidade como os recursos energeticos, o posicionamento estratégico politico internacional e a macro-economia. Na minha opinião o Pierce Brosnan deveria ter sido escolhido para o papel 10 anos antes.
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...e heis que em 2006 surge o polémico novo Bond - Daniel Craig -. Um 007 louro, a atirar para o metrosexual mais do que para o viril, com cara de puto, enfim, diferente dos outros todos.
O filme novamente é um remake (desta vez oficial da United Artists) e o James Bond na tela é simplesmente arrebatador a todos o niveis.
Note-se em primeiro lugar que este 007 sangra literalmente, é efectivamente torturado, chora, diz palavrões, é frio e irreverente, quase indisciplinado, ao mesmo tempo que mostra ser naive e inexpreriente. Contudo é extremamente violento e agressivo nas cenas de acção e luta, mais do que em qualquer dos outros filmes, e contrastantemente apaixona-se como nunca antes e é traido com todos os requintes inerentes à cegueira do amor incondicional humano.
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Ora eu que gosto de pensar que sei algumas coisitas sobre os filmes do 007, re-vi recentemente o "Casino Royale" e não pude deixar de ficar impressionado com a forma como este filme consegue manter todos os traços principais dos outros todos e ao mesmo tempo acrescentar tanto de novo, e tão bom! É particularmente captivante pelos diálogos inteligentes entre o James Bond e a "Vesper" (a Girl Bond), e na realidade foi este pensamento que originou que eu escrevesse este post, apenas para fazer uma citação:
"É curioso como as pessoas que nunca aceitam conselhos insistem sempre em dá-los".
Para todo o tipo de informação sobre filmes e actores do 007 existem tantas referências na internet que o melhor que posso recomendar é mesmo ir ao Google, e deixar a coisa correr.
2 passageiros clandestinos:
Já te fartaste de dizer que és dislexico.
'Bond Girl' e 'Girl Bond' é um exemplo?
Vou assinalar o erro, sim, acho que é um erro por distracção, nada a ver com disléxia. Mas obrigado pela leitura atenta.
F
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