Re-Post - triplo - (Do princípio, até ao fim!)
(Do princípio...)
"Não me lembrava que esta rua era tão mal iluminada..."
O taxi que me deixou ali deu a volta na entrada de um portão e passou por mim devagar deixando 2 trilhos escuros no lençol de neve que cobriu o asfalto. Se estivesse em portugal aquela hora ainda seria de dia, mas ali tinha 2 horas de noite a mais, um bonús!
Avançei com passos determinados enterrando a sola das botas na neve fôfa que enrigessia sob cada pegada marcada no chão. Não me lembrava do número da porta, acho que nunca o soube, mas sabia que ia reconhecer o local quando lá chegasse.
Que deserto, não se via vivalma na rua, não se ouvia mais do que uma leve brisa a acariciar os galhos despidos das árvores... Sintia o frio da noite encher-me os pulmões. O fumo do meu cigarro desenhava-se no ar sem esvanecer.
"É aqui!" Reconheceria esta porta de olhos fechados e só cá estive meia-duzia de vezes. Às vezes penso que gostava de conseguir aproveitar melhor esta memória fotográfica com que estou equipado...
"Será que devia ter telefonado a dizer a que horas chegava?"
A campainha tocou sobre a pressão do meu dedo, dois toques curtos, como sempre...
trin, trin...
Depois silêncio.
trin, trin... insisti
Afastei-me. "Não vou tocar mais, devia mesmo ter telefonado, vou ter que secar, está um briól desgraçado!". Continuei a descer a rua, nunca tinha ido para aquele lado da rua e sempre tinha sentido curiosidade para saber o que era o néon que se via ao fundo, depois das quatro-estradas.
Era um coffee-shop, claro!
Passei a porta exterior e bati com as botas no tapete de arame, tirei o casaco para sacudir a neve e entrei.
Dirigi-me ao balcão como se estivesse a entrar no hall da minha casa, de passagem por uma mesa atirei o casaco para uma cadeira e peguei no cardápio... De tantos nomes em Holandês um sobresaiu aos meus olhos ainda não acostumados à meia-luz.
Levantei os olhos e pedi um café, um pacotinho de "DoomFlower" e mortalhas king-size. A empregada era gira...
Sentei-me e entreti-me a fabricar, copiosamente, como um artesão. Passaram uns 20 minutos, em camera lenta, a música interferiu comigo docemente, como eu gosto...
O meu telefone vibrou em cima do tampo da mesa, atendi sem olhar para o visor...
"Olá, chegaste bem? Já estou em casa, vens cá ter?..."
________
(...até ao fim!)
Desliguei o telefone e pousei-o na mesa. Pedi outro café... Se ao menos vendessem alcool nos coffee-shops... Continuei sentado, tinha acabado de negociar ao telefone mais 20 minutos de tempo para mim, tempo do "eu" despido do "nós". Sentia-me bem, cansado mas tranquilo. Sentia também um misto de euforia mental misturado com entorpecimento físico, ou era do frio, ou era o "Doom Flower" a contribuir para ampliar as sensações.
Peguei na base do copo e tirei a caneta da Amnistia Internacional do bolso... entreti-me a contornar a azul todas as letras da palavra "The Schmurf"... Depois lembrei-me de como tudo tinha começado há 6 anos atrás, lembrei-me do princípio e de como não sabia quando chegaria ao fim daquela viagem. Virei a base de copo ao contrário e escrevi uma palavra: "debut", decorei-a com o número 4 em numeração romana.
Os versos sairam-me de primeira, fiquei contente, não costumam sair de primeira...
Re-li o que escrevi, depois meti o meu novo tesouro no bolso e deixei uma nota de 20 Guilders entalada por baixo da caneca de café. Levantei-me, dirigi-me à porta e saí para o frio da noite...
"Que frio..."
_______
(Do princípio até ao fim!)
Voltei a subir a rua, tinha parado de nevar mas o frio continuava, e adivinhava-se ainda mais frio durante a madrugada. Cheguei perto da porta e ela já estava na rua à minha espera... “Vamos ali ter com uma amiga minha, combinamos encontrar-nos no centro” O beijo de quem não se via há mais de 1 mês passou despercebido no entorpecimento dos nossos lábios frios.
Fomos a um bar chamado “American Dream”, tinha uma decoração a condizer com o nome e que estava muito bem aquecido. Não estava ainda cheio, as pessoas normais àquela hora costumam estar a jantar...
A amiga dela já lá estava, chamava-se Olga, a Maria já me tinha falado dela, era muito bonita de cara, como as Russas são quase todas, da altura da Maria mas com as curvas escondidas na roupa folgada.
Lembro-me que a atmosfera cresceu e evoluiu ao passo de cada rodada de cerveja que íamos pedindo... Nessa altura o meu entender de Russo permitia-me acompanhar a maior parte da conversa, por vezes alternávamos para Inglês e quando eu ou a Maria queríamos dizer algo mais privado dizíamos em Francês... Ocasionalmente elas trocavam uma ou outra frase em Holandês mas isso não me fazia confusão.
A determinada altura a Maria ausentou-se e a Olga, perfeitamente out of the blue disse uma Frase: “A Maria gosta muito de ti Francisco, ela nunca faria nada com outro homem...” Sorri, “Ainda bem” disse eu “Também gosto muito dela...”.
A Maria voltou com um empregado que trazia uma bandeja com 3 cervejas e 3 shots de Vodka. Continuamos animados, a tensão inicial libertou-se com o alcool e deu lugar a alguma intimidade. O tal “Doomflower” que eu tinha fumado no “Schmurf” já se tinha esvanecido e hesitei em ir à casa de banho enrolar “uma”, “uma” pequena, só para mim... Mas deixei-me estar, de qualquer forma já estava a ficar meio bezâno...
Daí a pouco a Olga ligou ao marido para ele a vir buscar, ou pelo menos para vir beber um copo connosco. A Maria explicou-me que era um casamento de conveniência, ele era Holandês, quarentão e tinha um Porsche 911. A Olga era estudante, boa nas horas do caraças e precisava de um Visto de residente. Dormiam em quartos separados e mais uma série de pormenores que fariam bastante confusão a qualquer Católico.
Mandamos vir mais uma rodada, já para 4, o marido da Olga apareceu pouco depois...
O resto da noite são breves episódios na minha memória, sem continuidade, dispersos e sem eu saber muito bem a justificação de alguns acontecimentos.
Lembro-me de irmos para um outro bar em frente à Estação Central de Rotterdham... Estávamos numa mesa de quatro, dois a dois, a Olga ao meu lado direito, a Maria em frente da Olga, e o bacâno (não me lembro o nome dele) ao lado da Maria, ou seja à minha frente.
Elas envolveram-se numa conversa qualquer de gaja, em Russo, cheias de risos e animação. Eu e o Marido da Olga falamos de coisas de gajo, futebol, carros e gajas, em Inglês (Ele não falava Russo, e eu pouco percebia).
A determinada altura a Maria e a Olga pararam de falar uns instantes e sem que a minha mais profunda intuição o pudesse prever, levantaram-se das suas cadeiras e aproximaram-se uma da outra sobre a mesa num gesto simultâneo e continuo que culminou num beijo, um beijo languido e sensual, um beijo linguado... Eu e ele paramos de falar um instante e olhamos para elas, sorrimos, depois a falar como se nada fosse... Elas voltaram a sentar-se e continuaram a conversa delas.
O sangue nas minhas veias começou a borbulhar, ou então era o álcool a preparar das suas. Fiz um esforço para controlar os maus fígados, aqueles que tinha quando era adolescente e me metia em zaragatas sempre que bebia. Mantive um ar sereno, sereno mas dinâmico.
Lembro-me de ter pensado num filme com o Richard Gere e o Andy Garcia e numa cena em particular, uma daquelas cenas à filme que quando vemos na tela temos a certeza que são perfeitamente irreais. Naquele momento essa cena acendeu-se na minha cabeça, veio à luz, real, mais real que o filme alguma vez a poderia representar. Continuei a conversa com o outro idiota gesticulando com a mão esquerda... Com a determinação cega pela intensidade dos eventos coloquei a mão direita no entre-pernas da Olga, senti o formato, o calor e o húmido que as calças deixavam passar... 1 minuto... 2 minutos... 5 minutos... A conversa continuou animada, contei-lhes uma anedota sobre o milénio novo que se aproximava e os medos do Y2K, rimo-nos todos. A Olga de vez em quando ajeitava a posição do corpo, abria ou fechava as pernas consoante o meu toque se intensificava ou abrandava. Estava tão absorvido no que estava a fazer que a mão dela a tocar em mim me passou perfeitamente despercebida...
Durante a hora que se seguiu elas repetiram a façanha do beijo umas duas ou três vezes, a minha reacção foi a mesma, mas a dificuldade em me controlar aumentou exponencialmente. Esforcei-me por fazer um ar igual ao outro otário, como se nada me surpreendesse... Acho que fui bem sucedido nesse esforço.
Passadas mais umas rodadas de cervejas mal bebidas pagámos e saímos... A Olga anunciou que o Marido se ia embora. Lembro-me de me despedir dele com um aperto de mão, por uma vez não tinha a mão gelada ao cumprimentar alguém.
Enquanto eu fui comprar cigarros eles foram andando para o parque de estacionamento, comprei uma garrafa de 200cl de J&B que bebi pelo gargalo num trago e aproveitei um canto refundido para fumar um charro. No percurso de regresso tirei do bolso a base de copo do “The Schmurf”” e re-li o que tinha escrito algumas horas antes, o poema parecia uma peça daquele puzzle:
Debut IV
O princípio sou eu
Sou princípio
E sou o fim
Sou presente respirado
Que se sente indiferente
À frente de toda a gente
Inspirado no passado
Respirado no presente
Sou desejo
Sou vontade
Sou ensejo
Sou saudade
O princípio e o fim
Sei que os sinto assim
Quando voltei para junto delas o outro otário já se tinha ido embora. Dirigimo-nos para casa da Maria e noite envolveu-nos aos três num quarto em chamas.
Nos dois anos que se seguiram eu e a Maria nunca falámos daquela noite, nunca comentámos, nunca manifestámos um ao outro se tinha sido bom para nós ou não.
Mas nessa mesma noite, a frase descabida que a Olga me tinha dito no “American Dream”, quando a Maria se tinha levantado da mesa, instalou-se na minha mente, indelevelmente: A que propósito é que ela me veio com aquela conversa, de que a Maria nunca faria nada com outro homem?...
Mas essa história fica para outra vez...
"Não me lembrava que esta rua era tão mal iluminada..."
O taxi que me deixou ali deu a volta na entrada de um portão e passou por mim devagar deixando 2 trilhos escuros no lençol de neve que cobriu o asfalto. Se estivesse em portugal aquela hora ainda seria de dia, mas ali tinha 2 horas de noite a mais, um bonús!
Avançei com passos determinados enterrando a sola das botas na neve fôfa que enrigessia sob cada pegada marcada no chão. Não me lembrava do número da porta, acho que nunca o soube, mas sabia que ia reconhecer o local quando lá chegasse.
Que deserto, não se via vivalma na rua, não se ouvia mais do que uma leve brisa a acariciar os galhos despidos das árvores... Sintia o frio da noite encher-me os pulmões. O fumo do meu cigarro desenhava-se no ar sem esvanecer.
"É aqui!" Reconheceria esta porta de olhos fechados e só cá estive meia-duzia de vezes. Às vezes penso que gostava de conseguir aproveitar melhor esta memória fotográfica com que estou equipado...
"Será que devia ter telefonado a dizer a que horas chegava?"
A campainha tocou sobre a pressão do meu dedo, dois toques curtos, como sempre...
trin, trin...
Depois silêncio.
trin, trin... insisti
Afastei-me. "Não vou tocar mais, devia mesmo ter telefonado, vou ter que secar, está um briól desgraçado!". Continuei a descer a rua, nunca tinha ido para aquele lado da rua e sempre tinha sentido curiosidade para saber o que era o néon que se via ao fundo, depois das quatro-estradas.
Era um coffee-shop, claro!
Passei a porta exterior e bati com as botas no tapete de arame, tirei o casaco para sacudir a neve e entrei.
Dirigi-me ao balcão como se estivesse a entrar no hall da minha casa, de passagem por uma mesa atirei o casaco para uma cadeira e peguei no cardápio... De tantos nomes em Holandês um sobresaiu aos meus olhos ainda não acostumados à meia-luz.
Levantei os olhos e pedi um café, um pacotinho de "DoomFlower" e mortalhas king-size. A empregada era gira...
Sentei-me e entreti-me a fabricar, copiosamente, como um artesão. Passaram uns 20 minutos, em camera lenta, a música interferiu comigo docemente, como eu gosto...
O meu telefone vibrou em cima do tampo da mesa, atendi sem olhar para o visor...
"Olá, chegaste bem? Já estou em casa, vens cá ter?..."
________
(...até ao fim!)
Desliguei o telefone e pousei-o na mesa. Pedi outro café... Se ao menos vendessem alcool nos coffee-shops... Continuei sentado, tinha acabado de negociar ao telefone mais 20 minutos de tempo para mim, tempo do "eu" despido do "nós". Sentia-me bem, cansado mas tranquilo. Sentia também um misto de euforia mental misturado com entorpecimento físico, ou era do frio, ou era o "Doom Flower" a contribuir para ampliar as sensações.
Peguei na base do copo e tirei a caneta da Amnistia Internacional do bolso... entreti-me a contornar a azul todas as letras da palavra "The Schmurf"... Depois lembrei-me de como tudo tinha começado há 6 anos atrás, lembrei-me do princípio e de como não sabia quando chegaria ao fim daquela viagem. Virei a base de copo ao contrário e escrevi uma palavra: "debut", decorei-a com o número 4 em numeração romana.
Os versos sairam-me de primeira, fiquei contente, não costumam sair de primeira...
Re-li o que escrevi, depois meti o meu novo tesouro no bolso e deixei uma nota de 20 Guilders entalada por baixo da caneca de café. Levantei-me, dirigi-me à porta e saí para o frio da noite...
"Que frio..."
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(Do princípio até ao fim!)
Voltei a subir a rua, tinha parado de nevar mas o frio continuava, e adivinhava-se ainda mais frio durante a madrugada. Cheguei perto da porta e ela já estava na rua à minha espera... “Vamos ali ter com uma amiga minha, combinamos encontrar-nos no centro” O beijo de quem não se via há mais de 1 mês passou despercebido no entorpecimento dos nossos lábios frios.
Fomos a um bar chamado “American Dream”, tinha uma decoração a condizer com o nome e que estava muito bem aquecido. Não estava ainda cheio, as pessoas normais àquela hora costumam estar a jantar...
A amiga dela já lá estava, chamava-se Olga, a Maria já me tinha falado dela, era muito bonita de cara, como as Russas são quase todas, da altura da Maria mas com as curvas escondidas na roupa folgada.
Lembro-me que a atmosfera cresceu e evoluiu ao passo de cada rodada de cerveja que íamos pedindo... Nessa altura o meu entender de Russo permitia-me acompanhar a maior parte da conversa, por vezes alternávamos para Inglês e quando eu ou a Maria queríamos dizer algo mais privado dizíamos em Francês... Ocasionalmente elas trocavam uma ou outra frase em Holandês mas isso não me fazia confusão.
A determinada altura a Maria ausentou-se e a Olga, perfeitamente out of the blue disse uma Frase: “A Maria gosta muito de ti Francisco, ela nunca faria nada com outro homem...” Sorri, “Ainda bem” disse eu “Também gosto muito dela...”.
A Maria voltou com um empregado que trazia uma bandeja com 3 cervejas e 3 shots de Vodka. Continuamos animados, a tensão inicial libertou-se com o alcool e deu lugar a alguma intimidade. O tal “Doomflower” que eu tinha fumado no “Schmurf” já se tinha esvanecido e hesitei em ir à casa de banho enrolar “uma”, “uma” pequena, só para mim... Mas deixei-me estar, de qualquer forma já estava a ficar meio bezâno...
Daí a pouco a Olga ligou ao marido para ele a vir buscar, ou pelo menos para vir beber um copo connosco. A Maria explicou-me que era um casamento de conveniência, ele era Holandês, quarentão e tinha um Porsche 911. A Olga era estudante, boa nas horas do caraças e precisava de um Visto de residente. Dormiam em quartos separados e mais uma série de pormenores que fariam bastante confusão a qualquer Católico.
Mandamos vir mais uma rodada, já para 4, o marido da Olga apareceu pouco depois...
O resto da noite são breves episódios na minha memória, sem continuidade, dispersos e sem eu saber muito bem a justificação de alguns acontecimentos.
Lembro-me de irmos para um outro bar em frente à Estação Central de Rotterdham... Estávamos numa mesa de quatro, dois a dois, a Olga ao meu lado direito, a Maria em frente da Olga, e o bacâno (não me lembro o nome dele) ao lado da Maria, ou seja à minha frente.
Elas envolveram-se numa conversa qualquer de gaja, em Russo, cheias de risos e animação. Eu e o Marido da Olga falamos de coisas de gajo, futebol, carros e gajas, em Inglês (Ele não falava Russo, e eu pouco percebia).
A determinada altura a Maria e a Olga pararam de falar uns instantes e sem que a minha mais profunda intuição o pudesse prever, levantaram-se das suas cadeiras e aproximaram-se uma da outra sobre a mesa num gesto simultâneo e continuo que culminou num beijo, um beijo languido e sensual, um beijo linguado... Eu e ele paramos de falar um instante e olhamos para elas, sorrimos, depois a falar como se nada fosse... Elas voltaram a sentar-se e continuaram a conversa delas.
O sangue nas minhas veias começou a borbulhar, ou então era o álcool a preparar das suas. Fiz um esforço para controlar os maus fígados, aqueles que tinha quando era adolescente e me metia em zaragatas sempre que bebia. Mantive um ar sereno, sereno mas dinâmico.
Lembro-me de ter pensado num filme com o Richard Gere e o Andy Garcia e numa cena em particular, uma daquelas cenas à filme que quando vemos na tela temos a certeza que são perfeitamente irreais. Naquele momento essa cena acendeu-se na minha cabeça, veio à luz, real, mais real que o filme alguma vez a poderia representar. Continuei a conversa com o outro idiota gesticulando com a mão esquerda... Com a determinação cega pela intensidade dos eventos coloquei a mão direita no entre-pernas da Olga, senti o formato, o calor e o húmido que as calças deixavam passar... 1 minuto... 2 minutos... 5 minutos... A conversa continuou animada, contei-lhes uma anedota sobre o milénio novo que se aproximava e os medos do Y2K, rimo-nos todos. A Olga de vez em quando ajeitava a posição do corpo, abria ou fechava as pernas consoante o meu toque se intensificava ou abrandava. Estava tão absorvido no que estava a fazer que a mão dela a tocar em mim me passou perfeitamente despercebida...
Durante a hora que se seguiu elas repetiram a façanha do beijo umas duas ou três vezes, a minha reacção foi a mesma, mas a dificuldade em me controlar aumentou exponencialmente. Esforcei-me por fazer um ar igual ao outro otário, como se nada me surpreendesse... Acho que fui bem sucedido nesse esforço.
Passadas mais umas rodadas de cervejas mal bebidas pagámos e saímos... A Olga anunciou que o Marido se ia embora. Lembro-me de me despedir dele com um aperto de mão, por uma vez não tinha a mão gelada ao cumprimentar alguém.
Enquanto eu fui comprar cigarros eles foram andando para o parque de estacionamento, comprei uma garrafa de 200cl de J&B que bebi pelo gargalo num trago e aproveitei um canto refundido para fumar um charro. No percurso de regresso tirei do bolso a base de copo do “The Schmurf”” e re-li o que tinha escrito algumas horas antes, o poema parecia uma peça daquele puzzle:
Debut IV
O princípio sou eu
Sou princípio
E sou o fim
Sou presente respirado
Que se sente indiferente
À frente de toda a gente
Inspirado no passado
Respirado no presente
Sou desejo
Sou vontade
Sou ensejo
Sou saudade
O princípio e o fim
Sei que os sinto assim
Quando voltei para junto delas o outro otário já se tinha ido embora. Dirigimo-nos para casa da Maria e noite envolveu-nos aos três num quarto em chamas.
Nos dois anos que se seguiram eu e a Maria nunca falámos daquela noite, nunca comentámos, nunca manifestámos um ao outro se tinha sido bom para nós ou não.
Mas nessa mesma noite, a frase descabida que a Olga me tinha dito no “American Dream”, quando a Maria se tinha levantado da mesa, instalou-se na minha mente, indelevelmente: A que propósito é que ela me veio com aquela conversa, de que a Maria nunca faria nada com outro homem?...
Mas essa história fica para outra vez...
3 passageiros clandestinos:
Grandes aventuras as tuas... Reúne estes textos todos e leva-os a uma editora. Estou a falar a sério, F.. O mundo merece conhecer-te.
Beijos
Sou mesmo antiquada, camiliana, irremediavelmente romântica... monogâmica até em termos de desejo. Mas já vou (valha-nos ao menos isso) percebendo que estou meio deslocada e aceitando que haja diferenças nas formas de amar e de estar nas relações. Acho que não vou conseguir essa abertura no que toca às minhas, though...
Tens uma experiência de vida rica e invejavel
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