Aqui há coisa de 2 anos e tal criei um perfil numa comunidade virtual que me permitiu manter o contacto com uma boa centena de pessoas que me passaram pela vida durante os 8 anos em que vivi fora de Portugal, até 2002. Embora eu já tivesse um perfil de Hi5 há muitos anos, onde mantenho contacto com pessoas que conheço pessoalmente (e com algumas que nem sei de onde conheço), e mesmo com toda a febre das comunidades virtuais já a caminho da cura, essa nova comunidade onde me inscrevi em 2007 – o Facebook – trouxe uma novidade: Não existia em Portugal, ou melhor, não existia em lingua portuguesa (o que logo à cabeça excluia os suspeitos do costume, ie, os adeptos do Hi5).
Afinal de contas, a maioria dos meus contactos no Facebook são pessoas com quem apenas posso comunicar em inglês e em francês, logo faz todo o sentido manter essas águas separadas…
Mas, tal como quase tudo na Internet, o factor novidade dessa coisa chamada Facebook gradualmente esbateu-se em mim e passei a fazer login apenas quando os alertas por email me indicavam uma qualquer actualização, ou uma mensagem de alguém, ou até um pedido de amizade de alguém que na altura me tinha escapado, ou que ainda não era utilizador… As pessoas mais chegadas, mais presentes, ligam-me quando me querem dizer alguma coisa, e vice-versa, e algumas não as vejo já há uns anitos, antes de existirem comunidades virtuais… Adiante.
No Verão passado, ao actualizar o meu estado civil no Facebook (e no Hi5 para o mesmo efeito), apercebi-me que os responsaveis pelo Facebook estavam a traduzir essa aplicação para passar a estar disponível também em português, e para isso pediam traduções aos poucos utilizadores de lingua original portuguesa (português de Portugal) para o traduzir. Lembro-me de ter pensado que não seria com a minha ajuda…
…e bom, dito e feito, e desde há uns 2 ou 3 mêses que assisto quase diariamente à propagação de utilizadores portugueses no Facebook – já disponivel em português - todos os dias recebo 2 ou 3 pedidos de amizade (a maioria dos quais vindos das mesmas pessoas que tenho adicionadas aos contactos no Hi5, pasme-se!), e todos os dias tento perceber porque é que uma aplicação que conseguia ter caracteristicas e funções bastante pertinentes e inovadoras relativamente ao Hi5, se torna agora também banalizada, como um factor moda, uma plataforma para se colocar fotografias garridas, actualizar estados de alma efémeros e dados pessoais inuteis e frugais, sem importância, uma feira de vaidades à boa maneira portuguesa, descaracterizada, fútil, vã…
Lembro-me de aqui há umas décadas (adoro poder medir o tempo com esta ordem de grandeza) ter lido algures que Portugal estava atrasado, social e culturalmente falando, cerca de 30 anos em relação aos EUA, e 20 anos em relação à Europa. Hoje, constato que esse atraso diminuiu bastante, e o atraso é de apenas 2 ou 3 anos…
…estamos a falar do País onde na segunda metade dos anos 90, os cépticos iluminados regorgitaram veborreias e outras “eias” contra os caminhos da globalização. Os mesmos cépticos que hoje até nas actualizações do Twitter se babam todos a tentar mostrar ao mundo (globalizado, entenda-se), que são pioneiros de alguma coisa. Pioneiros do atraso!
Olhando para trás, talvez eu devesse ter ajudado a traduzir aquela coisa, como se de algum modo isso contribuisse para reduzir o “atraso” sintomatico da inércia da população deste cantinho à beira mar plantado… Talvez. Mas a realidade é que enquanto os meus compatriotas continuarem a andar a toque de caixa do que se faz lá fora, em detrimento da criação de inovação à qual parece que são alergicos, isto vai sempre andar com um atraso.
Como eu gostava de poder escudar-me na desculpa de que é genético, mas por experiência eu sei que é apenas por falta de visão, por coçar a barriga, por puro comodismo, por encosto aos chamados direitos adquiridos, atrofiantes do progresso, que sobraram residualmente da conquista da Democracia e da Liberdade, e que se arrastam na sociedade portuguesa, há 35 anos, como um peso morto, a sobra de um dia de Abril, do qual me lembro apenas de ver os tanques e os soldados na Rua, um dia necessário, um dia bom e uma causa ainda melhor, mas que derivado de toda a ingerência que se lhe seguiu, mais parece ter sido apenas um tiro ao lado.