Os meandros da ironia
Determinada banda de rock progressivo de que falo com frequência canta o seguinte: "the past is a terrible place to live". Concordo tanto quanto discordo, porque depende muito de que é que se está a referir. Mas não é sobre isto que quero falar...
Em Janeiro de 2005, após uma vertiginosa e escandalosa promoção a um cargo de Direcção na Holding de Empresas onde na altura eu era Gestor de Marketing de Exportação, ví-me subitamente entalado no meio de jogos de bastidores e guerrilhas internas entre duas facções distintas da Administração dessa empresa. A minha promoção a Director de Exportação, se bem que tenha sido merecida e por mérito próprio, teve que ser aguerridamente defendida, tanto por mim como por quem me promoveu. Incidentalmente, 1 ano depois fui ajudado a demitir-me, tanto por factores internos, como externos, como por opção pessoal (reconheço agora que ter-me demitido para correr atrás de sônhos que nem eram meus foi um dos maiores erros da minha vida, pelo qual ainda estou a pagar).
Passaram-se mêses e anos e gradualmente, independentemente da minha vida pessoal, mas em tudo a ela correlacionada, à minha vida profissional deixou de se lhe poder chamar "carreira", porque ora arrancava promissora, ora deixava o motor ir abaixo, inerte, como se algo me puxasse sistemáticamente para baixo, como se nenhum dos meus esforços nunca fosse o suficiente...
Isso ficou no passado, o tal passado onde seria terrivel continuar a viver. Hoje, ironicamente, no espaço de 1 mês a mesma empresa convida-me 2 vezes seguidas para assumir novamente um cargo de Direcção, desta feita como expatriado (com todas as regalias inerentes mas com um vinculo precário demais para me fazer atirar para fora de pé sem colete de salvação), e 2 vezes seguidas eu recusei, sem sequer negociar.
Levei muito tempo e sofri grandes amarguras até conseguir finalmente impor-me como Consultor Independente (tenho que me chamar alguma coisa...), e mesmo assim; sem grande alarido, sem facturar tanto quando podia, sem me esforçar tanto como devia e sem o mesmo gosto com que o teria feito noutra altura; não sei se estou simplesmente a cumprir, fora de prazo, uma promessa que fiz a mim próprio (tal como uma vez voei numa tempestade com 2 anos de atrazo), ou se estou apenas a sobreviver...
Hoje fui contactado por uma empresa Canadiana da qual nunca tinha ouvido falar, e anexada à solicitação de preços que me enviaram vinha uma apresentação em PowerPoint ilustrativa do tipo de produtos que essa empresa procura importar do nosso mercado.
Qual não foi o meu espanto ao abri-la e constatar que inclúi uma análise de mercado feita por mim há 5 anos atrás no sector privado, que ainda é utilizada hoje, e que a apresentação PowerPoint desenvolvida no trabalho que me valeu a promoção a Director em 2005 serve ainda hoje como cartão de visíta que determinada entidade estatal utiliza para promover lá fora determinado sector da economia Nacional. Não sei explicar porquê, mas com todos os motivos para me sentir orgulhoso de algo que fiz, vi-me invadido por uma tristeza implacavelmente paralizante, como se o comboio tivesse partido e eu o tivesse perdido por ter ficado na gare a dar uma esmola (e sei exactamente ao que me estou a referir).
Escrevi uma vez aqui, neste blog, que "o caminho é longo, lento e pesaroso", mas constato que hoje, sem me aperceber bem como ou porquê, atingi um pequeno patamar a que me tinha proposto quando não tinha nada mais a perder, e que mesmo assim, com a tal tristeza que trago na alma, continuo a sobreviver, como se a sobrevivência fosse um virus incubado em mim, sem cura… O passado é um lugar terrivel para se viver, certo, mas depende ao que é que se está a referir, porque se por um lado eu acordo todos os dias a esgrimar o passado para longe de mim, há momentos do meu passado que nunca me poderei esquecer, e que são tudo em que acredito, e é por isso que continuo a lutar contra o medo de acordar.
Está na altura de voltar a subir um bocadinho mais a fasquía…
Em Janeiro de 2005, após uma vertiginosa e escandalosa promoção a um cargo de Direcção na Holding de Empresas onde na altura eu era Gestor de Marketing de Exportação, ví-me subitamente entalado no meio de jogos de bastidores e guerrilhas internas entre duas facções distintas da Administração dessa empresa. A minha promoção a Director de Exportação, se bem que tenha sido merecida e por mérito próprio, teve que ser aguerridamente defendida, tanto por mim como por quem me promoveu. Incidentalmente, 1 ano depois fui ajudado a demitir-me, tanto por factores internos, como externos, como por opção pessoal (reconheço agora que ter-me demitido para correr atrás de sônhos que nem eram meus foi um dos maiores erros da minha vida, pelo qual ainda estou a pagar).
Passaram-se mêses e anos e gradualmente, independentemente da minha vida pessoal, mas em tudo a ela correlacionada, à minha vida profissional deixou de se lhe poder chamar "carreira", porque ora arrancava promissora, ora deixava o motor ir abaixo, inerte, como se algo me puxasse sistemáticamente para baixo, como se nenhum dos meus esforços nunca fosse o suficiente...
Isso ficou no passado, o tal passado onde seria terrivel continuar a viver. Hoje, ironicamente, no espaço de 1 mês a mesma empresa convida-me 2 vezes seguidas para assumir novamente um cargo de Direcção, desta feita como expatriado (com todas as regalias inerentes mas com um vinculo precário demais para me fazer atirar para fora de pé sem colete de salvação), e 2 vezes seguidas eu recusei, sem sequer negociar.
Levei muito tempo e sofri grandes amarguras até conseguir finalmente impor-me como Consultor Independente (tenho que me chamar alguma coisa...), e mesmo assim; sem grande alarido, sem facturar tanto quando podia, sem me esforçar tanto como devia e sem o mesmo gosto com que o teria feito noutra altura; não sei se estou simplesmente a cumprir, fora de prazo, uma promessa que fiz a mim próprio (tal como uma vez voei numa tempestade com 2 anos de atrazo), ou se estou apenas a sobreviver...
Hoje fui contactado por uma empresa Canadiana da qual nunca tinha ouvido falar, e anexada à solicitação de preços que me enviaram vinha uma apresentação em PowerPoint ilustrativa do tipo de produtos que essa empresa procura importar do nosso mercado.
Qual não foi o meu espanto ao abri-la e constatar que inclúi uma análise de mercado feita por mim há 5 anos atrás no sector privado, que ainda é utilizada hoje, e que a apresentação PowerPoint desenvolvida no trabalho que me valeu a promoção a Director em 2005 serve ainda hoje como cartão de visíta que determinada entidade estatal utiliza para promover lá fora determinado sector da economia Nacional. Não sei explicar porquê, mas com todos os motivos para me sentir orgulhoso de algo que fiz, vi-me invadido por uma tristeza implacavelmente paralizante, como se o comboio tivesse partido e eu o tivesse perdido por ter ficado na gare a dar uma esmola (e sei exactamente ao que me estou a referir).
Escrevi uma vez aqui, neste blog, que "o caminho é longo, lento e pesaroso", mas constato que hoje, sem me aperceber bem como ou porquê, atingi um pequeno patamar a que me tinha proposto quando não tinha nada mais a perder, e que mesmo assim, com a tal tristeza que trago na alma, continuo a sobreviver, como se a sobrevivência fosse um virus incubado em mim, sem cura… O passado é um lugar terrivel para se viver, certo, mas depende ao que é que se está a referir, porque se por um lado eu acordo todos os dias a esgrimar o passado para longe de mim, há momentos do meu passado que nunca me poderei esquecer, e que são tudo em que acredito, e é por isso que continuo a lutar contra o medo de acordar.
Está na altura de voltar a subir um bocadinho mais a fasquía…
7 passageiros clandestinos:
Olá, não me conheces nem eu te conheço a ti. Depois de ler este texto e o que escreveste nas ligações que indicaste, só tenho uma coisa para te dizer: FORÇA PILOTO, SEGUE EM FRENTE, SEM MEDO, CORAGEM, TU CONSEGUES, NUNCA DEIXES DE ACREDITAR, BOA SORTE!
Bjinho. MM
Conheço essa gare.
Costumo dizer que nunca volto onde fui feliz, para que esses momentos que guardo não se transformem noutra coisa. ;)
Gosto das tuas histórias, F. Gosto, porque me sinto sempre a ouvir-te numa mesa de café. E a coragem de expores assim o teu percurso não é para qualquer um. Não é.
Nota-se pelo que escreves que tens uma boa capacidade de insight, consegues olhar para dentro de ti desmontando o passado, e isso é extremamente importante e salutar.
Mesmo que não se saiba para onde se quer ir, sabe-se a onde não se quer voltar. E isto é um acto de coragem.
Marta: Benvinda ao VC e obrigado pelo teu comentário, libertou um sorriso morninho.
Smootha: Quando se apanha um comboio, perde-se para sempre a possibilidade de apanhar o seguinte. Uma caracteristica das gares é que se pode sempre apanhar o próximo. Thanks baby ;-)
XS: Gosto de escrever, gosto de falar de mim e gosto de pensar que me conheço; Daí a dar-me a conhecer é um passo. É o Norte que me corre nas veias (e também gosto de beber café). Obrigado pelas palavras.
Curiosa: Autocrítica, sim, q.b., como forma de (re-)valorização pessoal e para evitar repetir erros, talvez corrigi-los. Acho que saber onde não se quer voltar, por exclusão de partes, ajuda a saber-se saber para onde se quer ir.
Bjs
F
Smootha: Sobre isso de nunca se voltar aos locais onde se foi feliz. Não és a primeira pessoa que ouço dizer isso. Pessoalmente discordo, acho que é apenas uma superstição como outra qualquer, aliás, quando às vezes batem os blues encontro fácilmente consolo em locais/memórias onde fui feliz, e relanço-me assim na conquista da felicidade. Mas eu sou um gajo estranho, não faças nem o que eu faço nem o que eu digo... ;-)
Bjs
F
"quando às vezes batem os blues encontro fácilmente consolo em locais/memórias onde fui feliz"
Possivelmente fizeste as pazes com parte do passado.
Eu não... ;)
Memórias, ainda as visito, sabes bem. Todas, boas e más. Locais, never...
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