Cáustico
Em vão me refugío no chamado “bloqueio de escritor”. Faço birra comigo próprio e não escrevo, faço um favor ao mundo, não exteriorizo, não nada, protejo-me mas não sei muito bem de quê, ou porquê… Talvez de momento eu prefira evitar mais exposições gratuitas; mostrar o que se sente é dar o flanco, e mostrar a própria natureza ainda mais flanco dá. Ele é valente, tem as costas largas e é o maior da rua dele, ou talvez não seja tanto assim, talvez o saco já esteja tão cheio que se torna cada vez mais dificil de carregar com ele ao lombo... O que escrevo não ilustra de longe o que sinto, não encontro as palavras certas, e a fluidez de pensamento não se materializa na escrita. Perco-me em devaneios e anseios... e sem saber como, guiado por aquela luz de presença que insiste em se manter acesa, passo a passo, arrasto a âncora e vou conseguindo não ser levado pela maré, nem pela corrente de ar. Na minha cabeça ecoam citações sem sentido aparente, referências pessoais e memórias ocasionais, e a escrita alimenta e não seca um lacrimejar eminente e persistente que eu nem consigo perceber, quanto mais explicar… e perco-me no conflito entre a memória e a consciência, numa batalha que perco, num arrependimento de que não me consigo libertar e que nem sei porque tenho que o sentir…
…foda-se, ‘tou todo queimadinho!
Escondo-me em casa e na rua, escondo-me do trabalho e da noite, escondo-me de mim e do mundo, escondo-me estupidamente do passado e do futuro, e vivo o presente a esconder-me do dia seguinte, e do acordar em sobressalto e olhar para o lado e não me lembrar com quem é que estou a acordar …e fugir, não telefonar e não aparecer e tomar banhos e duches uns atrás dos outros para lavar o corpo e expurgar a mente, afastar da memória a troca de fluidos, a carne e o nôjo que me mete. O refugío é vão, e mais vale nem me tentar esconder, mais vale mesmo escrever, escrever até adormercer …como se o que escrevo fosse algo de muito importante.
Vence-me a indiferença, a falta de vontade de gostar seja do que for, seja de quem for, o tédio de tudo o que me rodeia, o desinteresse total nas coisas que gosto de fazer, nas pessoas com quem gosto de estar, nas pessoas de quem gosto, e nas pessoas de quem não gosto e que por mim até podiam morrer amanhã.
...e enquanto a música marca passo e eu não substituo a pilha do relógio de parede, o caderno, por não ter teclado nem rato nem ecran, faz-me sentir cego. Apercebo-me disto e fixo a caneta na mão, mais forte que uma baioneta, e escrevo ao compasso da música até ficar rouco, até ficar louco, até as benzodiazepinas deixarem de fazer efeito e eu poder voltar a sentir o peito esmagado pela ansiedade de cada novo dia, e sentir o moscatel, com sabor a mel, a correr-me na alma e não nas veias. Sentir-me vivo na escrita, hoje como ontem e sem mêdo de amanhã, enfrentar o mundo, confrontar-me com o que escrevo...
-Puta que pariu esta merda! Nem me reconheço...
…foda-se, ‘tou todo queimadinho!
Escondo-me em casa e na rua, escondo-me do trabalho e da noite, escondo-me de mim e do mundo, escondo-me estupidamente do passado e do futuro, e vivo o presente a esconder-me do dia seguinte, e do acordar em sobressalto e olhar para o lado e não me lembrar com quem é que estou a acordar …e fugir, não telefonar e não aparecer e tomar banhos e duches uns atrás dos outros para lavar o corpo e expurgar a mente, afastar da memória a troca de fluidos, a carne e o nôjo que me mete. O refugío é vão, e mais vale nem me tentar esconder, mais vale mesmo escrever, escrever até adormercer …como se o que escrevo fosse algo de muito importante.
Vence-me a indiferença, a falta de vontade de gostar seja do que for, seja de quem for, o tédio de tudo o que me rodeia, o desinteresse total nas coisas que gosto de fazer, nas pessoas com quem gosto de estar, nas pessoas de quem gosto, e nas pessoas de quem não gosto e que por mim até podiam morrer amanhã.
...e enquanto a música marca passo e eu não substituo a pilha do relógio de parede, o caderno, por não ter teclado nem rato nem ecran, faz-me sentir cego. Apercebo-me disto e fixo a caneta na mão, mais forte que uma baioneta, e escrevo ao compasso da música até ficar rouco, até ficar louco, até as benzodiazepinas deixarem de fazer efeito e eu poder voltar a sentir o peito esmagado pela ansiedade de cada novo dia, e sentir o moscatel, com sabor a mel, a correr-me na alma e não nas veias. Sentir-me vivo na escrita, hoje como ontem e sem mêdo de amanhã, enfrentar o mundo, confrontar-me com o que escrevo...
-Puta que pariu esta merda! Nem me reconheço...
3 passageiros clandestinos:
Francisco,
Nem te preciso explicar o que as tuas palavras fizeram sentido em mim. Como se servisses de difusor daquilo que não consigo, ainda que tente dizer. Mas isso não interessa nada. Eu sei. Tu sabes. E basta bateres á porta sempre que precisares. O ombro está lá, a porta está lá, o silêncio está lá e até o Moscatel se arranja. Mas há algo que peço que nunca te esqueças, a bem de mim e do mundo. Nunca esqueças que ser frontal e honesto é dar o flanco, mas é tambén ser o que de mais verdadeiro existe:matéria prima de gente. Gente. Pessoa. Sem título ou rótulo. Nos dias que correm em que uma maioria não é mais que cópias com defeito de modelos pseudo-artisticos de criaturas politicamente correctas, sabe bem saber que tu, quando te cortas, vertes sangue. O teu.
Obrigado amigo. Gosto muito de ti.
Tens noção do quanto enorme ser humano tu és? Liberta-te desses fantasmas de uma vez por todas.
E do outro lado da barricada dos que não se moldam ao "status" e ao "sistema" um gajo do Norte simplesmente diz FORÇA COMPANHEIRO.
Um forte abraço patricio e continua - Bom ano 2009
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