Inteligência Emocional - É a expressão da moda. Uma nova disciplina das Ciências Sociais que aplica a Psicologia Comportamental ao estudo das Organizações e das relações entre grupos. Pode ser aplicada tanto na Gestão de grupos como na Gestão de relações interpessoais. A Inteligência Emocional explica-se como sendo a habilidade que se tem para aperceber-se, avaliar e gerir as emoções, tanto as próprias emoções, como as emoções dos outros ou até as de um grupo. A Inteligência Emocional, nestes termos, pode servir para beneficiar a capacidade pessoal para gerir conflitos. Mas que conflitos são esses? Sabe-se dos conflitos que estes existem e são inevitáveis, isto porque haverá sempre pessoas com opiniões, ideias e pontos de vista diferentes umas das outras. Existem 2 níveis distintos de conflitos: Interpessoais e Intergrupos. Identificar as fontes de um conflito não é uma tarefa evidente pois geralmente os conflitos suscitam emoções, sentimentos ou ressentimentos, que muitas vezes tendem a ofuscar a verdadeira causa ou origem do conflito.
Os métodos mais comuns, mas sem serem necessariamente os mais eficazes, para resolver conflitos são os seguintes e explicam-se
per se: A Negação, a Confrontação, e a Arbitragem por uma parte alheia. Sabe-se que a maior parte das situações de conflito resultam primordialmente da interacção entre indivíduos ou entre indivíduos e entidades (onde os interlocutores responsáveis por estas são... indivíduos também, imagine-se!) No nosso quotidiano, enquanto indivíduos, interagimos em permanência com outras pessoas ou com entidades, o que, mais tarde ou mais cedo, culpa nossa ou não, pode resultar em situações de potencial conflito.É nesses momentos que importa fazer apelo à inteligência das nossas emoções para resolver esses conflitos. Isso deve ser feito tanto quando estamos no papel de moderador do conflito (no caso de conflitos nas organizações) como quando estamos directamente envolvidos no conflito (no caso de conflitos nas relações interpessoais). Quer o bom senso que as situações de conflito estejam no topo da nossa agenda de assuntos a resolver. Assim, numa organização, a Inteligência Emocional é essencialmente uma ferramenta da Gestão de Recursos Humanos, mas que curiosamente está presente em todos os indivíduos dessa organização, pois na sua génese, é uma característica individual, intrínseca, mensurável e tem a particularidade de poder ser desenvolvida.
Considerando que o Homem funciona numa base emotiva que o distingue dos outros animais, a Inteligência Emocional é então um pacote de habilidades mentais, comportamentais, emotivas e reactivas, que nos permitem facilitar a forma como interagimos com os demais através da percepção das emoções envolvidas nessa interacção. Desengane-se contudo quem julgar que ser-se Emocionalmente Inteligente é um atributo ou uma vantagem qualquer que os outros não têm, pois não é bem assim; A Inteligência Emocional é uma espécie de pêndulo moral que dita a nossa conduta face a tudo o que nos rodeia. Pode ser usada para gerir e solucionar conflitos, mas se for combinada com características individuais comuns como a falsidade, a manipulação, a mentira e até a cobardia, serve apenas para provocar, promover e alimentar novos conflitos. É algo bastante comum e não é o que se pretende, porque isso corrompe a noção em si de Inteligência Emocional, e dessa forma o que poderia ser uma habilidade não passa de uma vulgar forma de “estupidez emocional” e nunca de inteligência. Ora como vivemos em comunidade e não somos eremitas que se possam permitir enfiar a cabeça na areia e ignorar a realidade à espera que os conflitos se resolvam sozinhos, ou seja, como vivemos em permanente interacção social e pretendemos viver em harmonia com a nossa comunidade, temos que ter a habilidade e maturidade mental e emocional suficientes para discernir que a gestão de conflitos passa em primeiro lugar pelo enfrentar da realidade, pelo identificar das causas do conflito e da sua origem. Apenas depois desse passo inicial se pode considerar uma resolução; dito de outra forma, como diz a sabedoria popular, é preciso saber “agarrar o boi pelos cornos”, dar a cara, enfrentar e mesmo confrontar e por fim resolver. No mínimo é preciso conseguir assumir consigo próprio que se está em situação de conflito, e a partir daí agir para resolver o conflito. Isto não esquecendo que são sempre precisos “dois para dançar o Tango”, por isso convém também saber estar alerta para evitar eventuais golpes baixos, coisa que é frequente nas situações de conflito.
É assim que a Inteligência Emocional pode servir para gerir e solucionar conflitos. O exemplo mais recente que temos de gestão de conflito com recurso à Inteligência Emocional é amplo e à escala Nacional (e neste caso foi moderado pelo factor Democracia, o que lhe confere uma notoriedade elevada): Foi o referendo à despenalização do Aborto. Como sabemos, ganhou o SIM, o que quer dizer que sobre este assunto, a nível de conflito organizacional os recados políticos foram todos dados.É sabido que na política, dadas as exigências dos cargos, face a situações de conflito, a ausência de Inteligência Emocional pode ser compensada com demagogia e algum carisma pessoal, mas isso de nada vale se não houver uma pequena dose de inteligência por trás que seja capaz de gerir o carisma de forma a não evidenciar o excesso de demagogia. Já a nível interpessoal, e porque falamos de gestão de conflitos mas de modo geral, a coisa é mais simples, com a vitória do SIM no referendo do aborto, o recado é para quem anda por aí a emprenhar pelas orelhas, é que agora já se pode abortar à vontade, já se pode enfrentar, confrontar e resolver os conflitos que se criou, sem falsidades, calúnias ou mentiras, sem medo de dar a cara e sem falar nas costas, sobretudo quem tem esqueletos no armário. Mas para isso, a vitória do SIM apenas não basta, convém primeiro estudar e assimilar um bocadinho melhor esta coisa da Inteligência Emocional (o que não é coisa para qualquer um). É só para não se correr o risco de se continuar iludido, a viver de uma imagem artificial e fútil, enfim, a ser burro, inútil, alheio à realidade e socialmente catatónico.
FGA
in "Jornal Fundamental"
Fevereiro de 2007Aplicavel tanto ontem, como hoje ou amanhã.