segunda-feira, abril 28, 2008

Passa o tempo, violento












Passa o tempo nos ponteiros
A cada instante passado
Passam-se dias inteiros
No meu Rolex dourado

Tem mecanismo precioso
Faz do presente futuro
Que o tempo é valioso
Quando o passado foi duro

Um segundo faz-se tempo
Um minuto é tentação
Mas o tempo passa lento
E não dá corda ao coração

O dia desfaz-se em horas
Que não passam a correr
Porque tempo acenta escoras
Com as horas a bater

Tenho o olhar atento
Nos ponteiros fixado
O dos segundos corre lento
E o das horas está parado

Vejo as horas a passar
O tempo no meu encalço
Que me apanha devagar
Porque o Rolex é falso

E tento-me hipnotizar
Com o pêndulo embalado
Mas basta ficar a olhar
Para o relógio vidrado

Cada hora é um sentimento
Que o coração não sente
Que bate no esquecimento
Ponteiro que segue em frente

Pergunto-me que horas são
No outro lado do mundo
E prende a minha atenção
Um tic-tac de fundo

Um cucu que quer cantar
Mas por hora está calado
Está mortinho por espreitar
Cantar o tempo anunciado

Às nove, às dez ou às onze
Quando ao longe bate o sino
É o som que faz o bronze
Ou no pulso o ouro fino

Eu quero um relógio de Sol
A queimar horas na sombra
Que é dos relógios do rol
Que menos gente me lembra

Ou a areia na ampulheta
Tempo que passa a escorrer
Que se vira à hora certa
Sem ter tempo a perder

Areia em relógio de água
Em numeração romana
Passa o tempo e fica a mágoa
Que a água não se engana

E o tempo faz-se de chuva
Que há dias não se via
Cada gota é uma ruga
Uma nova a cada dia

Cada gota um batimento
Que com tempo esmorece
Bombeia a cada momento
O sangue que arrefece

É um passatempo violento
Ter tempo de envelhecer
Viver ao sabor do vento
Num passado para esquecer

Esquecer as horas passadas
Um tempo que nunca pára
Que as horas são badaladas
O tempo marcado na cara

Marco as horas num diário
Engenho feito por mim
Para mudar o calendário
Viajar no tempo assim

E no horário oficial
Com tempo cronometrado
O mostrador é digital
E está sempre avariado

Comboio em partida adiada
Sem bilhete ou passaporte
Tenho a sorte carimbada
E uma bússola no Norte

Tanto tempo foi perdido
Não faço ideia da hora
O ponteiro está partido
Será hora de ir embora?

Porque o tempo sou eu
Estou à espera de viver
Que o tempo me prometeu
Conseguir sobreviver

E a caneta desafia
Mais um verso a cada hora
Vinte-e-quatro num só dia
É o tempo que demora

1 passageiros clandestinos:

Anonymous Anónimo chamou a hospedeira e disse:

Gosto da tua poesia F.
É simples na estrutura mas é cheia de musicalidade, de ritmo e com as palavras muito bem escolhidas.

10:16 da tarde  

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