Passa o tempo, violento
Passa o tempo nos ponteiros
A cada instante passado
Passam-se dias inteiros
No meu Rolex dourado
Tem mecanismo precioso
Faz do presente futuro
Que o tempo é valioso
Quando o passado foi duro
Um segundo faz-se tempo
Um minuto é tentação
Mas o tempo passa lento
E não dá corda ao coração
O dia desfaz-se em horas
Que não passam a correr
Porque tempo acenta escoras
Com as horas a bater
Tenho o olhar atento
Nos ponteiros fixado
O dos segundos corre lento
E o das horas está parado
Vejo as horas a passar
O tempo no meu encalço
Que me apanha devagar
Porque o Rolex é falso
E tento-me hipnotizar
Com o pêndulo embalado
Mas basta ficar a olhar
Para o relógio vidrado
Cada hora é um sentimento
Que o coração não sente
Que bate no esquecimento
Ponteiro que segue em frente
Pergunto-me que horas são
No outro lado do mundo
E prende a minha atenção
Um tic-tac de fundo
Um cucu que quer cantar
Mas por hora está calado
Está mortinho por espreitar
Cantar o tempo anunciado
Às nove, às dez ou às onze
Quando ao longe bate o sino
É o som que faz o bronze
Ou no pulso o ouro fino
Eu quero um relógio de Sol
A queimar horas na sombra
Que é dos relógios do rol
Que menos gente me lembra
Ou a areia na ampulheta
Tempo que passa a escorrer
Que se vira à hora certa
Sem ter tempo a perder
Areia em relógio de água
Em numeração romana
Passa o tempo e fica a mágoa
Que a água não se engana
E o tempo faz-se de chuva
Que há dias não se via
Cada gota é uma ruga
Uma nova a cada dia
Cada gota um batimento
Que com tempo esmorece
Bombeia a cada momento
O sangue que arrefece
É um passatempo violento
Ter tempo de envelhecer
Viver ao sabor do vento
Num passado para esquecer
Esquecer as horas passadas
Um tempo que nunca pára
Que as horas são badaladas
O tempo marcado na cara
Marco as horas num diário
Engenho feito por mim
Para mudar o calendário
Viajar no tempo assim
E no horário oficial
Com tempo cronometrado
O mostrador é digital
E está sempre avariado
Comboio em partida adiada
Sem bilhete ou passaporte
Tenho a sorte carimbada
E uma bússola no Norte
Tanto tempo foi perdido
Não faço ideia da hora
O ponteiro está partido
Será hora de ir embora?
Porque o tempo sou eu
Estou à espera de viver
Que o tempo me prometeu
Conseguir sobreviver
E a caneta desafia
Mais um verso a cada hora
Vinte-e-quatro num só dia
É o tempo que demora
1 passageiros clandestinos:
Gosto da tua poesia F.
É simples na estrutura mas é cheia de musicalidade, de ritmo e com as palavras muito bem escolhidas.
Chamar a hospedeira para Enviar um comentário
<< Regressar ao cockpit