Suburbano
Deixei-me ficar quieto, como se a escolha dos lugares vazios fosse tão aleatória que só mesmo à minha frente é que eles se poderiam sentar, e ainda há 10 minutos esta carruagem estava cheia.
O freio fez um barulho estridente que não me deixava ouvir a conversa mas adivinhava-se nas expressões dela o que ele lhe estava a dizer.
A presença deles incomodou-me. Ele continuava a insulta-la e ela a calar-se, a angústia transpirava-lhe dos olhos com medo e os soluços vomitavam envergonhados da boca pequena, e ele continuava.
“A culpa é tua, és sempre a mesma merda, fazem de ti o que querem”.
Cruzei os olhos com ela e pisquei-lhe o olho. Ela parou de soluçar, como se o enchurrilho de ralhetes tivesse parado de repente. Descruzei a perna já dormente e sem querer toquei-lhe no pé, murmurei um desculpe que não teve resposta, mas que foi o suficiente para ele se calar e desviar as atenções para mim.
Fixei-o, grave e agudo.
A voz gravada do intercomunicador anunciou a próxima paragem, a minha, a penúltima deste ramal.
Levantei-me e saí para a plataforma. Coloquei o saco ao tira-colo e acendi um cigarro. Enquanto guardava o isqueiro olhei de relance para dentro da carruagem que se afastava e vi-a a olhar para mim. Pisquei-lhe o olho outra vez e ela acenou com a tira da mochila azul, e sorriu.
Quanto vale o sorriso de uma criança?
Este texto foi escrito sob pseudónimo num blog esquecido que os comentários ao post anterior me fizeram lembrar
O freio fez um barulho estridente que não me deixava ouvir a conversa mas adivinhava-se nas expressões dela o que ele lhe estava a dizer.
A presença deles incomodou-me. Ele continuava a insulta-la e ela a calar-se, a angústia transpirava-lhe dos olhos com medo e os soluços vomitavam envergonhados da boca pequena, e ele continuava.
“A culpa é tua, és sempre a mesma merda, fazem de ti o que querem”.
Cruzei os olhos com ela e pisquei-lhe o olho. Ela parou de soluçar, como se o enchurrilho de ralhetes tivesse parado de repente. Descruzei a perna já dormente e sem querer toquei-lhe no pé, murmurei um desculpe que não teve resposta, mas que foi o suficiente para ele se calar e desviar as atenções para mim.
Fixei-o, grave e agudo.
A voz gravada do intercomunicador anunciou a próxima paragem, a minha, a penúltima deste ramal.
Levantei-me e saí para a plataforma. Coloquei o saco ao tira-colo e acendi um cigarro. Enquanto guardava o isqueiro olhei de relance para dentro da carruagem que se afastava e vi-a a olhar para mim. Pisquei-lhe o olho outra vez e ela acenou com a tira da mochila azul, e sorriu.
Quanto vale o sorriso de uma criança?
Este texto foi escrito sob pseudónimo num blog esquecido que os comentários ao post anterior me fizeram lembrar
2 passageiros clandestinos:
Hoje não tenho tempo de te ler, mas voltarei a voar ctg se tiver bilhete válido.
Agora a sério: bati o olho no teu blog e interessou-me. Encontraste-me através dos Marillion, nice!! É raro encontrar quem goste ou mesmo que conheça :( Reparei que também és Leão. Costuma ser bom encontrar assim deuses como nós pela net :)
Voltarei decerto, e até te adiciono pra não me esquecer.
Ahh, e thanks pla visita ;)
Estas viagens de comboio merecem sempre uma paragem ...
Vou tirar o passe !
BlogAbraço
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