Ferido
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Entretanto o tempo passou, continua a passar, o tempo que tudo deveria curar, mas que a cada dia que passa me continua a esventrar. Que resiste e luta e desiste de lutar sem continuar a tentar, sem tentar parar, parar de magoar…
Não sei quanto tempo vou conseguir aguentar.
Digo a mim próprio que vou tentar, quero tentar, quero fugir do presente, como de um passado que mais ninguém sente. Libertei-me à lei da espada e acabei no meio de uma tourada, um deselegante Paso Double de vaidades, do qual até podia contar umas verdades. Valha-me o altruismo, ser magnânino, é o meu narcisismo que me dá ânimo…
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Esta Vila veste-me de estranho, de forasteiro, nem sei que caminho me trouxe aqui… Algo que eu vi, que eu senti… A doçura de um cheiro, belas papoilas, mais que moçoilas…
Mas hoje caminho no nevoeiro, como a fugir dum perdieiro, à procura de abrigo, de um viveiro, ou de um amigo.
Desfilo pelas ruas e vielas como um fantasma, por entre a chuva, por entre a asma. Saltido de pedra em basalto, percursos que ninguém vê, caminhos escondidos na multidão, e olho o chão e o mijo dos bêbados da noite anterior faz riozinhos nas gretas do asflato que me divertem quase tanto como o desprezo que sinto por tudo que me rodeia, que nem a rima premeia.
Esta Vila faz de mim um estranho… mostro a minha vaidade, acumulada pela idade, e convidam-me para festas e danças, olhares de lanças, com os pés no lôdo.
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Corro assustado, escondo-me emboscado, por um bocado. Os pneus dos carros deixam marcas secas no alcatrão molhado, como pégadas que o vento apaga do caminho empoeirado.
Estou tão cansado…
Mataram-me o sentimento, fiz um poema, não é o meu lema, é um alimento, e eu tento, e falho, e continuo a tentar, e se falhar, azaralho, continuo até acertar. Bola p’ra frente, longe da gente, não me re-vejo neste ansejo, nem no desejo, nem isso eu vejo, mais do que um beijo, que entra e sai, que diz adeus quando se vai, que tropeça mas não cai, que me atravessa quando vem, que me fére.
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