O Velho Que Encontrou O Amor Na Repartição De Finanças (Parte IV)
Esta saga começou aqui...
-----------------------------------
Não sabia que tinha de usar perfume, Não sabia que tinha de usar perfume, Não sabia que tinha de usar perfume… Esta frase martelava-lhe a mente, insistentemente, ecoava. Ferreira havia finalmente tomado uma decisão que o tiraria da vida letárgica que levava, há tanto tempo… Sentia-se agora como um adolescente que aprende a cantiga do engate pela primeira vez. A imagem da loura das finanças a piscar-lhe o olho deu-lhe alento, voltou para trás, queria fazer as coisas bem feitas. Na sala, Graciete de vassoura na mão procurava o ânimo de limpar os cacos do tapete de imitação de arraiolos, já não estava a gritar mas continuava atónita, queria compreender o marido, por uma vez que fosse, tarde de mais, tarde demais…
Ferreira olhou-a, olhos ao rubro, apanhou os óculos do chão e forçou-os de novo no bolso da camisa suada, depois pegou na garrafa e em dois copos, serviu o champanhe, deu um copo à mulher e tocou-lhe no ombro com a outra mão “tchin-tchin meu amor”. Depois meteu a mão no bolso e tirou o post-it amarelo, colou-o no bordo da mesa e fitando-a, meigo, como sempre foi… “foste a melhor esposa que um homem pode ter…” Pousou o copo, todo ele era serenidade, sem estremecer, sem se pentear, despiu o velho casaco de malha verde alface, dobrou-o e pousou-o na mesa, depois virou-se e saiu para a rua, sabia que nunca mais voltaria a entrar naquela casa. Eram já 17:25h, iria ter com ela, fugiriam para propriedade do Norte, uma cabana talvez, criaria coelhos, ela havia de o aceitar, assim, usado, reformado, reciclado enfim.
Chegou à porta da repartição e ela estava do outro lado da estrada, de pé, carteira na mão e saia rodada. Ferreira quiz-se pentear mas não o fez, atravessou a estrada para ir ter com ela sem ver o camião carregado de liquido depilador concentrado que se aproximava… O condutor evitou-o à justa batendo contra a murada do edifício público, o choque foi violento e a cisterna rebentou. Ferreira sentiu o liquido queimar-lhe a pilosidade como se cada cabelo fosse arrancado um a um.
Quando acordou estranhou-lhe o cheiro anticéptico do ar, ela estava sentada à cabeceira da cama.
----------------------------------
...e se tudo correr bem esta saga continúa no mesmo sítio
-----------------------------------
Não sabia que tinha de usar perfume, Não sabia que tinha de usar perfume, Não sabia que tinha de usar perfume… Esta frase martelava-lhe a mente, insistentemente, ecoava. Ferreira havia finalmente tomado uma decisão que o tiraria da vida letárgica que levava, há tanto tempo… Sentia-se agora como um adolescente que aprende a cantiga do engate pela primeira vez. A imagem da loura das finanças a piscar-lhe o olho deu-lhe alento, voltou para trás, queria fazer as coisas bem feitas. Na sala, Graciete de vassoura na mão procurava o ânimo de limpar os cacos do tapete de imitação de arraiolos, já não estava a gritar mas continuava atónita, queria compreender o marido, por uma vez que fosse, tarde de mais, tarde demais…
Ferreira olhou-a, olhos ao rubro, apanhou os óculos do chão e forçou-os de novo no bolso da camisa suada, depois pegou na garrafa e em dois copos, serviu o champanhe, deu um copo à mulher e tocou-lhe no ombro com a outra mão “tchin-tchin meu amor”. Depois meteu a mão no bolso e tirou o post-it amarelo, colou-o no bordo da mesa e fitando-a, meigo, como sempre foi… “foste a melhor esposa que um homem pode ter…” Pousou o copo, todo ele era serenidade, sem estremecer, sem se pentear, despiu o velho casaco de malha verde alface, dobrou-o e pousou-o na mesa, depois virou-se e saiu para a rua, sabia que nunca mais voltaria a entrar naquela casa. Eram já 17:25h, iria ter com ela, fugiriam para propriedade do Norte, uma cabana talvez, criaria coelhos, ela havia de o aceitar, assim, usado, reformado, reciclado enfim.
Chegou à porta da repartição e ela estava do outro lado da estrada, de pé, carteira na mão e saia rodada. Ferreira quiz-se pentear mas não o fez, atravessou a estrada para ir ter com ela sem ver o camião carregado de liquido depilador concentrado que se aproximava… O condutor evitou-o à justa batendo contra a murada do edifício público, o choque foi violento e a cisterna rebentou. Ferreira sentiu o liquido queimar-lhe a pilosidade como se cada cabelo fosse arrancado um a um.
Quando acordou estranhou-lhe o cheiro anticéptico do ar, ela estava sentada à cabeceira da cama.
----------------------------------
...e se tudo correr bem esta saga continúa no mesmo sítio
0 passageiros clandestinos:
Chamar a hospedeira para Enviar um comentário
<< Regressar ao cockpit