Jezirah Island - Cairo
Um episódio que me lembro, um que ainda é recente mas que como tantos outros se perderá seguramente nos meandros do tempo...
A cidade surpreendeu-me tanto pelo tamanho como pela imundisse. Se da minha ampla varanda no 14º andar avistava o explendor exótico do Cairo, quando andava na rua via o 3º mundismo a empregnar-se nos meus olhos.
O carregar no botão do elevador era como entrar numa máquina do Espaço que me levava do luxo das 5 estrelas à miséria do mundo em 15 segundos, e outros tantos para voltar.
Foi no meu 3º ou 4º dia, as reuniões estavam todas a correr bem e embora não tivesse tido ainda tempo para ir ver as pirâmides, tinha dispensado o motorista do Hotel e resolvi passear a pé no meio da confusão, nas backstreets (velhos hábitos Londrinos) e nos transportes públicos. O Cairo é um mercado de rua na quase integralidade do centro urbano.
Faltava menos de uma semana para o início do Ramadão (é pertinente saber o quanto importante é para os muçulmanos este periodo, o que significa e quais os pressupostos do Ramadão) o que exaltava a azafama inerente por natureza às cidades de paises muçulmanos.
Após um fim de tarde de passeio e depois de ter esgotado o cartão de memória da minha Olympus procurei o Metro, o Sol punha-se e tinha andado tanto que se deixasse a noite cair não teria um ponto de referencia para saber em que direcção ficava o o Hotel.
Passei por entre mil e um tendeiros que vendiam mil e uma coisas a mil e uma pessoas que passavam também... Avistei uma estação de metro com nome impronunciavel e dirigi-me para lá sem saber em que direcção deveria apanhar o metro.
Quase tropecei nela, aéreo e quatro-olhos como sou nem a vi ali sentada nos degraus da escada... Vestida de negro e de negro véu a cobrir-lhe o cabelo, se olhasse de relançe poderia tê-la confundido com um saco do lixo fora do caixote, o que aliás seria perfeitamente enquadravel no Cairo, se lá houvessem caixotes do lixo...
Fui tomado por um sobressalto, onde passaria aquela velha senhora o Ramadão? O que comeria? Com quem partilharia a migalha que esmolava? Quanto ganharia por cada pacote de lenços de papel que vendia pela melhor oferta, por umas moedas soltas no bolso de alguém?
Evitei-a e continuei a subir os degraus tentando ignorar aqueles pensamentos.
Foi mais forte do que eu, amaldiçoei a minha consciencia moral e voltei para trás antes que a culpa brotasse dos meus olhos... Desta vez olhei-a de frente, cara enrugada e suja, óculos de armação de massa e lentes riscadas, um leve sorriso escondido em olhos de "petit chien batu"...
Disse-me qualquer coisa em árabe, não preciso de falar a lingua para saber o que me disse... Abaixei-me e peguei num pacote de lenços de papel, tirei o meu molho de notas do bolso das calças e coloquei-o na mão que continuava estendida... Não sei porque o fiz, tentei não acreditar que o meu gesto me fazia sentir superior ou outra idiotisse desse género... Toquei-lhe na mão e com a outra mão mantive a mão dela no meio das minhas, um ou dois deliciosos segundos... Por mais que escreva não poderia nunca transmitir o que senti... Lembro-me de quase me arrepender do meu gesto quando tive que voltar a pé para o Hotel por não poder pagar o bilhete do metro... Passou-me pela cabeça que comprei o direito de lhe tocar, de lhe transmitir um toque humano. Não sei quanto dinheiro lhe dei, sei que foi muito, mas sei que não foi bastante, mais que tivesse comigo e mais lá ficava. Deliciei-me a imagina-la a comemorar o Ramadão, talvez com um neto, um puto como eu...
A cidade surpreendeu-me tanto pelo tamanho como pela imundisse. Se da minha ampla varanda no 14º andar avistava o explendor exótico do Cairo, quando andava na rua via o 3º mundismo a empregnar-se nos meus olhos.
O carregar no botão do elevador era como entrar numa máquina do Espaço que me levava do luxo das 5 estrelas à miséria do mundo em 15 segundos, e outros tantos para voltar.
Foi no meu 3º ou 4º dia, as reuniões estavam todas a correr bem e embora não tivesse tido ainda tempo para ir ver as pirâmides, tinha dispensado o motorista do Hotel e resolvi passear a pé no meio da confusão, nas backstreets (velhos hábitos Londrinos) e nos transportes públicos. O Cairo é um mercado de rua na quase integralidade do centro urbano.
Faltava menos de uma semana para o início do Ramadão (é pertinente saber o quanto importante é para os muçulmanos este periodo, o que significa e quais os pressupostos do Ramadão) o que exaltava a azafama inerente por natureza às cidades de paises muçulmanos.
Após um fim de tarde de passeio e depois de ter esgotado o cartão de memória da minha Olympus procurei o Metro, o Sol punha-se e tinha andado tanto que se deixasse a noite cair não teria um ponto de referencia para saber em que direcção ficava o o Hotel.
Passei por entre mil e um tendeiros que vendiam mil e uma coisas a mil e uma pessoas que passavam também... Avistei uma estação de metro com nome impronunciavel e dirigi-me para lá sem saber em que direcção deveria apanhar o metro.
Quase tropecei nela, aéreo e quatro-olhos como sou nem a vi ali sentada nos degraus da escada... Vestida de negro e de negro véu a cobrir-lhe o cabelo, se olhasse de relançe poderia tê-la confundido com um saco do lixo fora do caixote, o que aliás seria perfeitamente enquadravel no Cairo, se lá houvessem caixotes do lixo...
Fui tomado por um sobressalto, onde passaria aquela velha senhora o Ramadão? O que comeria? Com quem partilharia a migalha que esmolava? Quanto ganharia por cada pacote de lenços de papel que vendia pela melhor oferta, por umas moedas soltas no bolso de alguém?
Evitei-a e continuei a subir os degraus tentando ignorar aqueles pensamentos.
Foi mais forte do que eu, amaldiçoei a minha consciencia moral e voltei para trás antes que a culpa brotasse dos meus olhos... Desta vez olhei-a de frente, cara enrugada e suja, óculos de armação de massa e lentes riscadas, um leve sorriso escondido em olhos de "petit chien batu"...
Disse-me qualquer coisa em árabe, não preciso de falar a lingua para saber o que me disse... Abaixei-me e peguei num pacote de lenços de papel, tirei o meu molho de notas do bolso das calças e coloquei-o na mão que continuava estendida... Não sei porque o fiz, tentei não acreditar que o meu gesto me fazia sentir superior ou outra idiotisse desse género... Toquei-lhe na mão e com a outra mão mantive a mão dela no meio das minhas, um ou dois deliciosos segundos... Por mais que escreva não poderia nunca transmitir o que senti... Lembro-me de quase me arrepender do meu gesto quando tive que voltar a pé para o Hotel por não poder pagar o bilhete do metro... Passou-me pela cabeça que comprei o direito de lhe tocar, de lhe transmitir um toque humano. Não sei quanto dinheiro lhe dei, sei que foi muito, mas sei que não foi bastante, mais que tivesse comigo e mais lá ficava. Deliciei-me a imagina-la a comemorar o Ramadão, talvez com um neto, um puto como eu...
1 passageiros clandestinos:
:) Fez.me lembrar um antigo vizinho meu, poucos meses mais velho, que um dia ficou tão impressionado com um miúdo cigano que tinha viajado sozinho para a nossa terra em busca de um bocadinho de felicidade que o levou para casa, fez.lhe um lanche, e partilharam histórias. No fim, é o dinheiro e a despedida que se sabe que será para sempre.. É pouco. Mas acho que só quem o faz sabe o triste que é ter de haver solidariedade a nível individual.
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