sexta-feira, maio 04, 2012

Reinventado

Os minutos passam e ela não chega, o local faz-se de gente que entra e sai e segue em frente, e eu perco-me no caos da minha mente, sentimento que me tente a cortar o cabelo rente sem querer ser diferente, genuinamente. Calo-me compenetrado nas palavras batidas no teclado, estou entusiasmado e manifesto-o assim, calado, saído do fundo de mim, grito em silêncio pela calma que me assola, contrassenso silencioso do grito que não ouço, que a violência da albarda não me larga, destino fecundo, cavalo de carga, saco sem fundo… vontade de ir onde tudo me faz rir, por onde calha, no fio da navalha, plano traçado que a pena valha, que a vontade não falha. Sonho acordado, viajo deitado, calado no desafio do desespero escondido na voz que se liberta sem som do meu peito, e me faz voar sem saber onde ou como vou aterrar, e não me importar, apenas para dizer que gosto de cá estar. Sentir os dias passar. Os momentos sucedem-se, horas passadas devagar, mesmo quando vou trabalhar, que o tempo tarda a chegar quando as palavras que digo se tingem de verso num descontrolo total, verdadeira masturbação verbal que mesmo que não queira, se acerca da minha beira, faz de mim perverso e sorridente, mais um no meio da gente, uma voz perdida na multidão que trago no peito, sem jeito, carregado de emoção. Transpiro dos olhos palavras que me fazem tremer, impulsos malucos, pensamentos caducos, vontade de correr por ter que o fazer, mesmo sem querer, fazer mais do que as algemas me permitem poder e gritar sem nada dizer, mostrar o fogo no olhar, e avançar, sem nada a perder. Em vão carrego no botão de protelar o despertar para mais tarde acordar, que é o presente que arde quando o mundo se faz pequeno e cobarde, à minha volta, nesta curiosa cidade, vencida pela idade. Faço de mim bravado, solto sons de revolta, coragem para ser assaltado por um turbilhão emocional antecipado. Estou tão excitado, perdido pela excitação de me ter encontrado, que é este o meu fado, não ficar calado quando o caldo está entornado, no chão, no sofá, na cama, no carro, na escada do prédio, na rua, no coração, nos beijos e desejos, explosão de paixão, em mim. Reinventado por me sentir assim, apaixonado.

2 passageiros clandestinos:

Anonymous Anónimo chamou a hospedeira e disse:

Peceras de amor

Nuestros cuerpos de peces
se deslizan uno al lado del otro.
Tu piel acuática nada en el sueño
junto a la mía
y brillan tus escamas en la luz lunar
filtrándose por las rendijas.
Seres traslúcidos flotamos
confinados al agua de nuestros alientos confundidos.
Aletas de piernas y brazos se rozan en la madrugada
en el oxígeno y el calor
que sube de las blancas algas
con que nos protegemos del frío.
En algún momento de la corriente
nos encontramos
lúcidos peces se acercan a los ojos abiertos
peces sinuosos reconociéndose las branquias agitadas.
Muerdo el anzuelo de tu boca
y poco después despierto
pierdo la aleta dorsal
las extremidades de sirena..

Gioconda Belli


* Rapaz, para essa tua maravilhosa Reinvenção, eu só poderia deixar-te um poema da Gioconda Belli, em jeito de comentário...
Adorei!

Beijo
Sara

2:31 da manhã  
Blogger Piloto Automatico chamou a hospedeira e disse:

Sara, não conhecia, nem o poema nem a autora, obrigado e...
...obrigado :-)
Bjs
F

7:08 da tarde  

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