quarta-feira, novembro 02, 2011

The bigger picture is outside the box!

Fragmento de 1994

(...) “Estas gajas são atrevidas” pensei para mim enquanto escondia uma expressão envergonhada com outra passa no cigarro. A Hilary fez-me uma festa no ombro e sorriu-me com um levantar de sobrolho de como quem é cúmplice de alguma coisa. Sorri também e continuamos a andar. Na minha mente contrastei aquele momento com a situação umas horas antes, ao pé do telefone. Aquilo tinha sido o pico mais baixo do ciclo negativo, eu tinha mesmo batido no fundo do buraco, com estrondo e com estrago. Olhando para mim próprio naquele momento não conseguia bem realizar que tinha estado ali nuns preparos tão indignos, a lamentar as mágoas da minha intimidade no ombro uma estranha. Mas o mais estranho era que a estranha estava agora ali ao meu lado, sorridente e bonita, como se fosse uma amiga de longa data, com a vocação de uma assistente social e a dedicação de uma jovem Mãe que encoraja um filho a dar os primeiros passos.
Assim sendo, um factor externo tinha aparado a minha queda-livre e tinha-me lançado de volta para o alto, como uma bola de borracha que salta quando cai ao chão.
Gostava poder ter contado esta história ao meu Pai, mesmo se eu e ele nunca nos tivéssemos permitido grandes intimidades, gostava de lhe ter podido mostrar que conseguia ser forte nos maus momentos, que sabia sobreviver… e que afinal a sua teoria dos ciclos estava incompleta.

(Num dos muitos jogos de Xadrez que tinha feito com o meu Pai, quando andava na escola primária, ele explicou-me que tal como no Xadrez, tudo na vida se passa em ciclos de altos e baixos que escapam à compreensão humana. Lembro-me de o ver com o dedo a desenhar uma onda hertziana no ar, enquanto me explicava a sua teoria do destino. Aquilo fascinou-me.
Eu viria a passar bastante tempo da vida para tentar provar a mim próprio que a cadência e duração desses ciclos não eram só obra do destino, que podiam ser influenciados por outros factores e por acções próprias e consequentemente podem ser controlados.)

Chegamos perto da casa onde era a festa e já se ouvia o barulho cá fora. Entramos e circulamos por entre gente que dançava bem disposta ao som de música moderna. Haviam vários quartos, todos mal iluminados à luz de velas o que dava um ar doméstico mas aconchegado ao ambiente, via-se mal mas de qualquer forma os meus olhos já vinham habituados com a fraca iluminação da rua.
(...)

Hoje de manhã, ao acordar, lembrei-me deste episódio e das experiências do passado transpostas para o presente, e naturalmente, dum post para o dia de hoje (que já devia ter sido ontem ou não se lembrassem de colocar um feriado no primeiro de Novembro... é todos os anos a mesma história, e os cemitérios por um dia têm mais vivos que mortos!)

1 passageiros clandestinos:

Anonymous Anónimo chamou a hospedeira e disse:

tu não existes

1:27 da tarde  

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