Contadores a "zero"
Nunca fui muito de seguir horóscopos, antes pelo contrário, mas não deixo de achar graça ao fenómeno… Gosto particularmente de observar o efeito que os horóscopos têm nas pessoas que seguem o seu horóscopo como se de uma profecia divina se tratasse… Nessa observação, constato que da curiosidade ao hilariante vai apenas um passo; tal como é curta distância que vai entre a leitura ocasional que eu próprio faço do meu horóscopo e a coincidência da sua eventual aplicação à ocorrência real do momento. Por mais que seja uma distorção da realidade ou uma adaptação mal esgalhada, e mesmo que o ocasional wishful thinking semeie a dúvida, o horóscopo é como uma peça de um puzzle que quase que serve naquele local... mas nem por isso. Por vezes faz-me rir, mas outras vezes o meu cepticismo quase que desmorona pela força da coincidência…
Dito isto contudo, depois de ter testemunhado à minha volta tomadas de decisões de vida baseadas numa leitura de cartas de tarôt, ou de ter sentido (pré)juízos de valor baseados numa leitura de “aura” (whatever the fuck that is) feita em regime de estágio, e por muito desinteresse que eu lhe pudesse dedicar, o que não é necessariamente o caso, não deixo de manter a curiosidade alerta, é um pouco como dizem os outros ali ao lado: “pero que las hay, las hay”…
…e que o meu feriado do 5 de Outubro tenha sido passado em 2 locais diferentes ao mesmo tempo: Em casa em S. João do Estoril e em casa em S. João da Madeira, e isso não seria nada de especial ou de inédito, não teria sido mais do que também eu saber forjar falsos álibis ou promover o desengano pela arte da negação, todavia, antes de tirar a foto do horóscopo no jornal (de dia 6 de Outubro), comecei por ter vontade de escrever sobre o dia anterior e quanto me espanta que já perto de ter 80.000kms, a minha Virago faz o IP4 a subir a Serra do Marão a 140km/h, a roçar com as péseiras no alcatrão e a dar baile aos TDi’s, e que o feriado do 5 de Outubro, na realidade, foi passado com a minha Mãe, em casa dela, em Trás-os-Montes, numa Aldeia nas montanhas, numa casa de pedra, com o jardim florido e o sorriso dos olhos da minha Mãe, com o cão preto aos saltos só por me ver e gato preto a dormir no muro do alpendre...
...e nos lábios o moscatel com sabor a mel que me alimenta a alma, e nos olhos a paisagem eterna, e na memória, confusa, ora avivada, ora dormente, a esvair-se derramada, a perder-se, imortalizada, “nos montes ao longe”, a saudade escondida na estupidez natural...
Depois do feriado do 5 de Outubro, das idas e vindas do interior para o quase litoral, de Norte a Sul e por onde mais possa ter passado, veio o dia 6 e o horóscopo da foto, e foi assim uma coisa por demais, com os contadores a zero - porque entretanto deixei de fumar outra vez e entrei no que adivinho venham a ser umas 3 semanitas de deficit de pachorra e de pequenos ataques de cólera, controlados e cirúrgicos - surge então nesse 1º dia de negação de nicotina, um episódio alucinado, inesperado, mas que nem merece ser contado… São piadas privadas, dão para rir, para gozar mesmo, tirar ilações repetidas e renovar constatações, e rir ainda mais um bocadinho, e ao fazer a ligação desse episódio com a tal aplicação distorcida do horóscopo do dia 6, num qualquer encaixe de esguelha à vida real, não posso deixar de me sentir algo confuso com a parte que diz “enfrentando-a com valentia”, pela simples razão que isso me faz dispersar sobre qual será afinal a “situação que me está a afectar” (?) e sobre a qual devo eu “colocar um ponto final” , só porque o horóscopo mo diz, quando na realidade, tudo isto, tudo, me estimula e me tira da letargia e me dá um gozo enorme, quase sexual, semente desperdiçada...
Senão vejamos, desencravo uma facada da homoplata e com o balanço dou uma lição de vida à esquerda e por tabela uma lição de homem à direita, demonstro a quem não sabia que as pessoas são mais importantes do que o dinheiro e as relações mais importantes que os materiais; que só amizade genuína é digna do nome e ainda atiro para o ar que os maus conselhos são apenas isso, maus conselhos; renovo em mim (e em quem queira aprender) que a noção de que ter planos é bem mais importante do que ter sonhos; e escrevo, grito e esperneio que por muito que o sangue seja mais espesso que a água, o amor será sempre mais espesso que o sangue, e por isso o “tentar” nunca servirá de desculpa para não se “conseguir”, porque se tenta até se conseguir... De resto, não preciso de valentia nenhuma para colocar um ponto final em seja lá o que for, porque tudo à minha volta parece que só anda a navegar à vista, às apalpadelas, a dar de si sem saber a quem, do seu corpo e das suas réstias d’alma, gratuitamente, à espera quem sabe de repescar um sonho vão qualquer, sempre sem mapa nem GPS para lá chegar, como uma lotaria, arriscar a vida... Não preciso de valentia mais do que de estômago, para assistir, de camarote mas sem ter nada para aplaudir, tornar-me no “Homem Invisível”, outra vez... Corta-me por dentro, e só preciso de valentia para ser igual a mim mesmo, porque se bem que a nobreza ande de mão dada com a coragem, já a valentia trilha um caminho muito parecido com o da burrice… e valentes e estúpidos tenho conhecido uns poucos, não é esse um tipo de característica que eu aprecie; prefiro a frontalidade, a sinceridade, prefiro algo diferente do que ensaios de valentia e eloquência ao telefone, mas que na prática é algo muito rasteiro e traiçoeiro, e esconde-se por trás de uma desculpa esfarrapada, da cobardia juvenil de voluntariar uma vesga qualquer para dar a cara por sí, pelas trapalhadas que se faz e que não se tem coragem de admitir, como um puto que parte uma jarra mas nega que o fez e põe as culpas no cão, ou na cadela, e que empurra o animal para a sua frente, como um escudo, porque sabe que o cão (ou a cadela), lá estará, de cauda instrumentalizada a abanar, à espera de uma festinha, da mão passada no pêlo, ou de outra coisa qualquer, sim, porque cada canídeo com a sua panca!
Assim sendo, horóscopos, zodíacos, lições, vitórias pírricas e afins...
Nasci em 1970, é o ano do cão.
-Ponto final!
A puta da ironia parte-me todo!
Dito isto contudo, depois de ter testemunhado à minha volta tomadas de decisões de vida baseadas numa leitura de cartas de tarôt, ou de ter sentido (pré)juízos de valor baseados numa leitura de “aura” (whatever the fuck that is) feita em regime de estágio, e por muito desinteresse que eu lhe pudesse dedicar, o que não é necessariamente o caso, não deixo de manter a curiosidade alerta, é um pouco como dizem os outros ali ao lado: “pero que las hay, las hay”…
…e que o meu feriado do 5 de Outubro tenha sido passado em 2 locais diferentes ao mesmo tempo: Em casa em S. João do Estoril e em casa em S. João da Madeira, e isso não seria nada de especial ou de inédito, não teria sido mais do que também eu saber forjar falsos álibis ou promover o desengano pela arte da negação, todavia, antes de tirar a foto do horóscopo no jornal (de dia 6 de Outubro), comecei por ter vontade de escrever sobre o dia anterior e quanto me espanta que já perto de ter 80.000kms, a minha Virago faz o IP4 a subir a Serra do Marão a 140km/h, a roçar com as péseiras no alcatrão e a dar baile aos TDi’s, e que o feriado do 5 de Outubro, na realidade, foi passado com a minha Mãe, em casa dela, em Trás-os-Montes, numa Aldeia nas montanhas, numa casa de pedra, com o jardim florido e o sorriso dos olhos da minha Mãe, com o cão preto aos saltos só por me ver e gato preto a dormir no muro do alpendre...
...e nos lábios o moscatel com sabor a mel que me alimenta a alma, e nos olhos a paisagem eterna, e na memória, confusa, ora avivada, ora dormente, a esvair-se derramada, a perder-se, imortalizada, “nos montes ao longe”, a saudade escondida na estupidez natural...
Depois do feriado do 5 de Outubro, das idas e vindas do interior para o quase litoral, de Norte a Sul e por onde mais possa ter passado, veio o dia 6 e o horóscopo da foto, e foi assim uma coisa por demais, com os contadores a zero - porque entretanto deixei de fumar outra vez e entrei no que adivinho venham a ser umas 3 semanitas de deficit de pachorra e de pequenos ataques de cólera, controlados e cirúrgicos - surge então nesse 1º dia de negação de nicotina, um episódio alucinado, inesperado, mas que nem merece ser contado… São piadas privadas, dão para rir, para gozar mesmo, tirar ilações repetidas e renovar constatações, e rir ainda mais um bocadinho, e ao fazer a ligação desse episódio com a tal aplicação distorcida do horóscopo do dia 6, num qualquer encaixe de esguelha à vida real, não posso deixar de me sentir algo confuso com a parte que diz “enfrentando-a com valentia”, pela simples razão que isso me faz dispersar sobre qual será afinal a “situação que me está a afectar” (?) e sobre a qual devo eu “colocar um ponto final” , só porque o horóscopo mo diz, quando na realidade, tudo isto, tudo, me estimula e me tira da letargia e me dá um gozo enorme, quase sexual, semente desperdiçada...
Senão vejamos, desencravo uma facada da homoplata e com o balanço dou uma lição de vida à esquerda e por tabela uma lição de homem à direita, demonstro a quem não sabia que as pessoas são mais importantes do que o dinheiro e as relações mais importantes que os materiais; que só amizade genuína é digna do nome e ainda atiro para o ar que os maus conselhos são apenas isso, maus conselhos; renovo em mim (e em quem queira aprender) que a noção de que ter planos é bem mais importante do que ter sonhos; e escrevo, grito e esperneio que por muito que o sangue seja mais espesso que a água, o amor será sempre mais espesso que o sangue, e por isso o “tentar” nunca servirá de desculpa para não se “conseguir”, porque se tenta até se conseguir... De resto, não preciso de valentia nenhuma para colocar um ponto final em seja lá o que for, porque tudo à minha volta parece que só anda a navegar à vista, às apalpadelas, a dar de si sem saber a quem, do seu corpo e das suas réstias d’alma, gratuitamente, à espera quem sabe de repescar um sonho vão qualquer, sempre sem mapa nem GPS para lá chegar, como uma lotaria, arriscar a vida... Não preciso de valentia mais do que de estômago, para assistir, de camarote mas sem ter nada para aplaudir, tornar-me no “Homem Invisível”, outra vez... Corta-me por dentro, e só preciso de valentia para ser igual a mim mesmo, porque se bem que a nobreza ande de mão dada com a coragem, já a valentia trilha um caminho muito parecido com o da burrice… e valentes e estúpidos tenho conhecido uns poucos, não é esse um tipo de característica que eu aprecie; prefiro a frontalidade, a sinceridade, prefiro algo diferente do que ensaios de valentia e eloquência ao telefone, mas que na prática é algo muito rasteiro e traiçoeiro, e esconde-se por trás de uma desculpa esfarrapada, da cobardia juvenil de voluntariar uma vesga qualquer para dar a cara por sí, pelas trapalhadas que se faz e que não se tem coragem de admitir, como um puto que parte uma jarra mas nega que o fez e põe as culpas no cão, ou na cadela, e que empurra o animal para a sua frente, como um escudo, porque sabe que o cão (ou a cadela), lá estará, de cauda instrumentalizada a abanar, à espera de uma festinha, da mão passada no pêlo, ou de outra coisa qualquer, sim, porque cada canídeo com a sua panca!
Assim sendo, horóscopos, zodíacos, lições, vitórias pírricas e afins...
Nasci em 1970, é o ano do cão.
-Ponto final!
A puta da ironia parte-me todo!
4 passageiros clandestinos:
A Virgem ficou para o Leão?!
O texto vem ou não vem?
O texto saiu completamente ao lado!
Grande texto e grande música!
simplesmente anónimo/a
Chamar a hospedeira para Enviar um comentário
<< Regressar ao cockpit