Geração Caralhete - recebido por email
"A SIC montou uma gigantesca campanha de promoção para a sua nova série/novela/monte de merda, que dá pelo nome de Rebelde Way. Depois de anos a apanhar bonés, percebeu que a melhor maneira de combater a morangada da TVI era...imitar. É lógico. Era inevitável.Depois de 20 minutos a ver a nova série (o que me provocou uma crise de cólicas da qual só um dia depois começo a recuperar) sinto-me preparado para uma análise. Bora lá. A fórmula é a mesma nos dois canais. Aqui fica a receita: 1 - Pitas boas. Muitas, quanto mais descascadas melhor (as séries de verão são, naturalmente, as melhores, porque eles vão todos juntos para a praia). 2 - Gajos "estilosos". A coisa divide-se em dois: há aqueles que têm quase 30 anos mas fazem de adolescentes, e depois há os que são mesmo adolescentes. Estes últimos são aqueles que se levam a sério enquanto "actores". O requisito essencial para qualquer gajo que entre nestas séries é ter um penteado ridículo.3 - O Rebelde Way tem gajas do norte. Fazem de gajas daqui, mas aquele sotaque é fodido de perder. Fica ridículo, mas as gajas são boas.4 - Nos Morangos, a palavra "pessoal" é dita 53 vezes por minuto, normalmente inserida nas frases "Eh pá, pessoal!", no início de cada conversa, ou então "Bora lá, pessoal", antes do início de qualquer actividade. Agora vamos à bosta que a SIC acabou de parir, com pompa, circunstância, varejeiras e mau cheiro. Chama-se Rebelde Way. Cool, man! O slogan dos Morangos era "Geração Rebelde", mas a inspiração deve ter vindo de outro lado, de certeza. O que me irrita na poia da SIC é que os gajos são todos betinhos (até os mânfios são todos giros e cool e com uma caracterização ridícula, como se fossem a um baile de máscaras vestidos de agarrados ou arrumadores de carros). Mas depois são bué rebeldes. São bué mauzões, man! A brincar com os seus iPhone, com as suas roupinhas fashion, grandes vidas, mas muita mauzões. Se há algo que esta geração de morangada não pode ser, não tem direito a ser, é ser rebelde. Rebelde porquê, contra quê? Nunca houve em Portugal geração mais privilegiada do que a actual, à qual esses putos pertencem. Nunca qualquer puto teve tanta liberdade e tanta guita no bolso como esta malta. Nunca as pitas foram tão boas e tão disponíveis para foder com a turma inteira como agora. Nunca houve tamanha liberdade de mandar os pais à merda e exigir uma melhor mesada porque é altura dos saldos. Rebelde porquê? Em nome de quê? É claro que isto são pormenores com os quais as novelas não se deparam, nem têm de o fazer. O objectivo é simples: para uma geração tão privilegiada como aquela que é retratada, há que criar uma rebeldia fictícia, porque não é cool ser dondoca aos 16 anos. Mas é o que todos eles são. Há uns tempos vi, no Largo do Carmo, um bando de uns 15 putos e pitas, vestidos à "dread" com roupinha acabada de comprar na "Pepe Jeans". Um dos putos que ia à frente, não devia ter mais de 16 anos, vem a falar à idiota como se fosse dono da rua, saca duma lata de tinta e escrevinha qualquer coisa de merda na parede. Todos se riram, todos adoraram, e ele foi, durante cinco minutos, o maior do bairro. Não fiz nada, mas devia ter-lhe partido a boca toda.Todas as últimas gerações antes desta (incluindo a minha, a Geração Rasca, que se transformou na Geração Crise - bem nos foderam com esta merda) tiveram de furar, de lutar, de fazer algo. Havia uma alienação mais ou menos real, que depois se podia traduzir nalguma forma de rebeldia. Não era o 25 de Abril como os nossos pais. A nossa revolução é a dos recibos verdes e da consolidação orçamental. Mas esta morangada sente-se, devido à merda que a televisão lhes serve e aos paizinhos idiotas que (não) a educaram, que é dona do mundo. Quando já és dono do mundo, vais revoltar-te contra quem? E por que raio haverias de o fazer?! E assim vamos nós. Com novelas de putos "rebeldes", feitas por "actores" cujo momento de glória é entrar numa boys band ou aparecer de cú ao léu na capa da FHM, ensinando a todos os outros putos que temos que ter cuidado com as drogas (mas todos os agarrados são limpinhos, assépticos, com os mesmos penteados ridículos), que a gravidez adolescente é má (mas todas as pitas querem foder à grande, porque são donas da sua própria vida e os pais não sabem nada, etc) e que, sobretudo, este mundo lhes deve alguma coisa. Os tomates.A mim e aos meus, o mundo deve alguma coisa. Aos que foram atrás da merda do canudo para trabalhar num call center, aos que se matam a trabalhar e são forçados a ser adultos antes do tempo. Não a esta cambada de mentecaptos.E depois estas séries vão retratando "problemas sociais da juventude", afagando a consciência de quem "escreve" aquela merda, enquanto ao mesmo tempo incentivam esta visão egocêntrica, egoísta e vácua desta geração acabadinha de sair do forno. Talvez eu esteja a ficar velho e a soar como o meu pai. Lamento se não é cool. Mas esta merda enoja-me.» Vão ser rebeldes pó caralhete.
Anónimo (senão ainda vou dentro)..."
Anónimo (senão ainda vou dentro)..."
15 passageiros clandestinos:
Não poderia estar mais de acordo com o anónimo (da geração rasca, como eu!) que escreveu isso. Bem "apanhado".
Kiss
"Geração Rasca" não sei se sou, mas serei "Geração X" até morrer, e nunca fui rebelde, não tinha tempo...
...estava muito ocupado a ser delinquente.
... Eu sempre fui uma "rebelde camuflada" (mas sem os penteados ridículos e afins). No fundo sou mais "uma geração à rasca"....
Tem piada, mas cabelos à parte e roupas de marca, substituindo as telenovelas pela sociedade, a falta de diversidade verbal e o constante recorrer do vernáculo, e eu já li crónicas jornalísticas, contemporâneas do Fernando Pessoa a dizer o mesmo, a queixarem-se do mesmo. Aliás com algum esforço (e não muito), consigo recuar a Platão e a conversa sobre as novas gerações, é exactamente a mesma.
Mas que fazer, eu sou assim: Vive e deixa viver! Compreendo esta geração da mesma forma que compreendi a minha que lutava contra a ridícula PGA, como a dos meus pais com o 25 de Abril e o fim de uma ditadura, com a dos estudantes republicanos, com os Batidos pela vida (beatniks, aliás obrigada pelo jazz), com os hippies...
Creio que é sempre muito simples criticar quem ainda mal começou a viver, tem na cabeça ideais que precisa praticar, um corpo para descobrir, sensações para sentir, hormonas para controlar.
Se gosto das séries em questão? Não! Fazer a passagem daquilo que foi mal escrito para a realidade e achar que é verdadeiro?! Definitivamente, não! Se os jovens de hoje têm que se rebelar? Certamente! Se não o fizerem, como poderia o mundo ficar pior, ou melhor do que estamos a deixar (sim a nossa geração rasca que já tem idade para impedir o que está a acontecer e continua de braços cruzados a chorar pelo azar que tiveram na vida e a maldizerem a época em que nasceram), como os nossos pais nos deixaram e como os nossos avós deixaram para eles?!
A rebeldia é parte integrante do crescimento, a forma de criar noções próprias, criar personalidade.
Mas se calhar sou só eu!
Abraço,
Mais verdadeiro impossível....o paragrafo a vermelho então está de longe o melhor....
Haja pachorra !
o melhor post que vi até hoje
liberdade sim
mas com responsabilidade
coisa que os pais dizem que não tem tempo de ensinar
porque toda a gente anda a procura de não sei o quÊ
culpa de quem diz que temos que ser felizes e ter tudo e ser muito importantes
quando a realidade apenas se baseia em só estarmos cá uma vez e aproveitar ao maximo
sendo fieis a nós mesmos
Dei com o teu blog por curiosidade, e tenho lido alguma coisa e tenho até gostado,isto é um pouco novo para mim, embora já tenha 32 anos, sou dessa "Geração Rasca", como o anónimo fala, e dou lhe toda a razão, quanto a esta nova geração tem tudo muito facilitado.Peço desculpa só agora comentar mas sou novata nestas coisas, ainda não sei bem como funcionam.Enfim....vou aprendendo.
Bom fim de semana
Pelos vistos sou só eu...
Fabuloso "mano". Eu pela minha parte gostava de os ver a viver os atribulados anos do PREC. A descobrir a "erva" que chegou vinda de áfrica e a ir comprar umas "quarteiras" ao Aleixo. E que tal tentares dançar um "Slow" com a amiga que desejamos "engatar" mas que tá dificil. Calça os "calcantes" e vai até ao café para estares com os Amigos (pois não tens télélé). E não é inveja pois nós éramos mais solidários e mais comunicativos (pelo menos cara-a-cara). O que sabem eles ???
Manda-me um SMS...
Estou no chat...aparece...
A globalização é uma merda, e esta geração vive de show-off.
Um forte abraço.
Bah, conversa de velhos! Eu tb nao sou desta geraçao retratada (tenho 31), mas sei bem reconhecer que ja nao tenho tanta tolerancia e quando vejo um "puto" a fazer as merdas que eu proprio fazia quando era novo, apetece-me dar-lhe um par de chapadas. Deixem la os putos curtir as cenas deles! nao tem as coisas nem mais nem menos facilitadas, sao epocas diferentes.
PS: que fique bem claro que nao suporto novelas!
Não podia estar mais de acordo com o texto. Os putos nem se apercebem de quanto são privilegiados, relativamente à geração anterior. Nem sequer sabem contra o que se revoltar, mas arranjam sempre umas crises de identidade ou umas anorexias por se deixarem influenciar por todas as mensagens "mal passadas".
Muito bom! :)))
Beijinhos :)
Pelos vistos houve mais um!
Muito bem e, com a devida reverência, vai para a rubrica "lido noutros blogs" do Sempre a Produzir.
Um abraço
João
Também recebi este mail e vim logo procurá-lo na net para poder comentar, nem que seja um coisa muito simples:
Parabéns, porque está sem dúvida... REAL.
Beijinhos :)
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