segunda-feira, janeiro 31, 2005

Do princípio até ao fim

Esta história passou-se no Inverno, o contexto físico, emocional e temporal vem deste post , seguido deste. A pedido de uma leitora amiga (que provavelmente quando ler isto se vai arrepender), seguem os eventos dessa noite.



Voltei a subir a rua, tinha parado de nevar mas o frio continuava, e adivinhava-se ainda mais frio durante a madrugada. Cheguei perto da porta e ela já estava na rua à minha espera... “Vamos ali ter com uma amiga minha, combinamos encontrar-nos no centro” O beijo de quem não se via há mais de 1 mês passou despercebido no entorpecimento dos nossos lábios frios.

Fomos a um bar chamado “American Dream”, tinha uma decoração a condizer com o nome e que estava muito bem aquecido. Não estava ainda cheio, as pessoas normais àquela hora costumam estar a jantar...

A amiga dela já lá estava, chamava-se Olga, a Maria já me tinha falado dela, era muito bonita de cara, como as Russas são quase todas, da altura da Maria mas com as curvas escondidas na roupa folgada.

Lembro-me que a atmosfera cresceu e evoluiu ao passo de cada rodada de cerveja que íamos pedindo... Nessa altura o meu entender de Russo permitia-me acompanhar a maior parte da conversa, por vezes alternávamos para Inglês e quando eu ou a Maria queríamos dizer algo mais privado dizíamos em Francês... Ocasionalmente elas trocavam uma ou outra frase em Holandês mas isso não me fazia confusão.

A determinada altura a Maria ausentou-se e a Olga, perfeitamente out of the blue disse uma Frase: “A Maria gosta muito de ti Francisco, ela nunca faria nada com outro homem...” Sorri, “Ainda bem” disse eu “Também gosto muito dela...”.

A Maria voltou com um empregado que trazia uma bandeja com 3 cervejas e 3 shots de Vodka. Continuamos animados, a tensão inicial libertou-se com o alcool e deu lugar a alguma intimidade. O tal “Doomflower” que eu tinha fumado no “Schmurf” já se tinha esvanecido e hesitei em ir à casa de banho enrolar “uma”, “uma” pequena, só para mim... Mas deixei-me estar, de qualquer forma já estava a ficar meio bezâno...

Daí a pouco a Olga ligou ao marido para ele a vir buscar, ou pelo menos para vir beber um copo connosco. A Maria explicou-me que era um casamento de conveniência, ele era Holandês, quarentão e tinha um Porsche 911. A Olga era estudante, boa nas horas do caraças e precisava de um Visto de residente. Dormiam em quartos separados e mais uma série de pormenores que fariam bastante confusão a qualquer Católico.

Mandamos vir mais uma rodada, já para 4, o marido da Olga apareceu pouco depois...

O resto da noite são breves episódios na minha memória, sem continuidade, dispersos e sem eu saber muito bem a justificação de alguns acontecimentos.

Lembro-me de irmos para um outro bar em frente à Estação Central... Estávamos numa mesa de quatro, dois a dois, a Olga ao meu lado direito, a Maria em frente da Olga, e o bacâno (não me lembro o nome dele) ao lado da Maria, ou seja à minha frente.

Elas envolveram-se numa conversa qualquer de gaja, em Russo, cheias de risos e animação. Eu e o Marido da Olga falamos de coisas de gajo, futebol, carros e gajas, em Inglês (Ele não falava Russo, e eu pouco percebia).

A determinada altura a Maria e a Olga pararam de falar uns instantes e sem que a minha mais profunda intuição o pudesse prever, levantaram-se das suas cadeiras e aproximaram-se uma da outra sobre a mesa num gesto simultâneo e continuo que culminou num beijo, um beijo languido e sensual, um beijo linguado... Eu e ele paramos de falar um instante e olhamos para elas, sorrimos, depois a falar como se nada fosse... Elas voltaram a sentar-se e continuaram a conversa delas.

O sangue nas minhas veias começou a borbulhar, ou então era o álcool a preparar das suas. Fiz um esforço para controlar os maus fígados, aqueles que tinha quando era adolescente e me metia em zaragatas sempre que bebia. Mantive um ar sereno, sereno mas dinâmico.

Lembro-me de ter pensado num filme com o Richard Gere e o Andy Garcia e numa cena em particular, uma daquelas cenas à filme que quando vemos na tela temos a certeza que são perfeitamente irreais. Naquele momento essa cena acendeu-se na minha cabeça, veio à luz, real, mais real que o filme alguma vez a poderia representar. Continuei a conversa com o outro idiota gesticulando com a mão esquerda... Com a determinação cega pela intensidade dos eventos coloquei a mão direita no entre-pernas da Olga, senti o formato, o calor e o húmido que as calças deixavam passar... 1 minuto... 2 minutos... 5 minutos... A conversa continuou animada, contei-lhes uma anedota sobre o milénio novo que se aproximava e os medos do Y2K, rimo-nos todos. A Olga de vez em quando ajeitava a posição do corpo, abria ou fechava as pernas consoante o meu toque se intensificava ou abrandava. Estava tão absorvido no que estava a fazer que a mão dela a tocar em mim me passou perfeitamente despercebida...

Durante a hora que se seguiu elas repetiram a façanha do beijo umas duas ou três vezes, a minha reacção foi a mesma, mas a dificuldade em me controlar aumentou exponencialmente. Esforcei-me por fazer um ar igual ao outro otário, como se nada me surpreendesse... Acho que fui bem sucedido nesse esforço.

Passadas mais umas rodadas de cervejas mal bebidas pagámos e saímos... A Olga anunciou que o Marido se ia embora. Lembro-me de me despedir dele com um aperto de mão, por uma vez não tinha a mão gelada ao cumprimentar alguém.

Enquanto eu fui comprar cigarros eles foram andando para o parque de estacionamento, comprei uma garrafa de 200cl de J&B que bebi pelo gargalo num trago e aproveitei um canto refundido para fumar um charro. No percurso de regresso tirei do bolso a base de copo do “The Schmurf”” e re-li o que tinha escrito algumas horas antes, o poema parecia uma peça daquele puzzle:



Debut IV



O princípio sou eu

Sou princípio

E sou o fim

Sou presente respirado

Que se sente indiferente

À frente de toda a gente

Inspirado no passado

Respirado no presente

Sou desejo

Sou vontade

Sou ensejo

Sou saudade

O princípio e o fim

Sei que os sinto assim



Quando voltei para junto delas o outro otário já se tinha ido embora. Dirigimo-nos para casa da Maria e noite envolveu-nos aos três.

Nos dois anos que se seguiram eu e a Maria nunca falámos daquela noite, nunca comentámos, nunca manifestámos um ao outro se tinha sido bom para nós ou não.

A frase descabida que a Olga me tinha dito no “American Dream”, quando a Maria se tinha levantado da mesa, instalou-se na minha mente indelevelmente.

Mas essa história fica para outra vez...

.

4 passageiros clandestinos:

Anonymous Anónimo chamou a hospedeira e disse:

Está a ficar linda a história está......bem,não só a história todo o blog está super interessante.
Qualquer dia ficas à seco a denunciares assim as amigas
eheheheh
Fico à espera da continuação da história.
Abraço.

2:39 da tarde  
Anonymous Anónimo chamou a hospedeira e disse:

:) Erraste. Não estou nadinha arrependida, antes pelo contrário. Parece que te motivei para esta escrita, o que já é um elogio. =o) Agora: o que te levou a escrever, para além disso? Necessidade de expurgar o passado? Ou...?

5:24 da tarde  
Anonymous Anónimo chamou a hospedeira e disse:

Muito bem Pec, muito bem... Falando de fazer biografias, parece que corta para os dois lados não é verdade?
Em resposta à tua observação digo-te que o titulo deste Post esteve para ser "Exorcismo", aliás, para começar uma série de posts sob a tónica do Exorcismo...

5:28 da tarde  
Anonymous Anónimo chamou a hospedeira e disse:

eheh O que nos leva à conclusão que há mais para vir. :)

pergunta de curiosa: os nomes são reais ou fictícios?

5:42 da tarde  

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