quinta-feira, outubro 28, 2004

lençóis de seda rara

Senti-me agradavelmente bem disposto naquele cenário inesperado, perguntava-me a mim próprio se aquela gente toda aos saltos se conhecia ou se estavam simplesmente na mesma festa sem se conhecerem bem.
O clima era bem disposto e a confiança crescia em mim, provavelmente multiplicada pelo tal Blast da cidra que me parecia começar agora a fazer efeito.
A música flutuava no ambiente, era o álbum dos “Deep Forest”, que tinha sido eleito melhor álbum de 93 e era uma das minhas cassetes do momento. Olhei de esguelha para a Hilary. Convencia-me cada vez mais que me sentia irresistivelmente atraído por ela.
A Emma, que entretanto se tinha juntado ao grupo fazendo uma rodinha, apanhou-me a olhar para a Hilary e riu-se para mim com ar de quem consente, eu pisquei-lhe o olho e continuei a embalar-me com música.
A Rhajeena tinha desaparecido para outro quarto e a Hilary, que estava perto, encostou-se a uma parede com uma garrafa de cidra na mão e olhava na nossa direcção com um sorriso enublado, como se conseguisse ver através de nós.
Naquele momento constatei que ela era mesmo muito bonita, tão bonita… tinha um sorriso meigo e uns olhos azuis semicerrados e penetrantes que pareciam iluminar a escuridão daquele canto. O corpo teria sido concerteza esculpido pelo Miguel Ângelo e o decote da blusa deixava adivinhar umas belas curvas, proporcionais ao seu 1,60m. Tinha os cabelos escuros, volumosos e atirados para o mesmo lado do ligeiro inclinar da cabeça expondo um pescoço delicado que terminava num rasgo de ombro onde a pele era clara, perfeita e parecia macia como lençóis de seda rara roubados na noite.
O tipo de rapariga que onde quer que passe por mim me faz virar a cabeça e segui-la com o olhar. Um verdadeiro borracho! Era a sensualidade materializada em pessoa.
Deixei-me enfim conquistar pelo ambiente e pela beleza da Hilary. Poderia permitir-me?
Possuído por uma tentação mais forte que o mundo virei-me e vi-a a fixar o olhar e o sorriso em mim. Fiquei assim durante alguns segundos. Depois aproximei-me dela e senti aquele perfume forte a atingir-me com a intensidade de um néctar de frutos exóticos. Aproximei-me ainda mais, estávamos quase encostados, embalados pela música. Os nossos olhares mantiveram-se fixos um no outro como que a desafiarem-se mutuamente. Um pestanejar de olhos foi o suficiente para descruzar o castanho do azul em direcções opostas e curvei ligeiramente a cabeça em direcção a ela, quase a tocar-lhe com a cara no ombro e no pescoço que se descobria ainda mais. Ela fez deslizar as costas dos dedos pelo meu braço até me tocar na mão e entrelaçou os dedos nos meus.
Toquei-lhe com os lábios na pele e senti-a a encostar-se a mim, lentamente, com a firmeza dos seios a pressionarem o meu peito e a cara a virar-se na minha direcção… Os nossos lábios aproximaram-se e tocaram-se sem se chegarem a beijar. Depois afastamos a cara um do outro durante uns eternos 2 ou 3 segundos, sentia os olhos dela a invadirem os meus.
Beijamo-nos.
A princípio devagarinho, como se cada toque dos lábios fosse uma carícia. Depois beijamo-nos com mais intensidade, com pequenos espasmos ligeiramente bruscos e molhados, mas sem nos abraçarmos, os beijos eram alternados com a respiração e breves momentos de olhos nos olhos a temperarem a dose certa de hiper-sensualidade.
Momentos assim, em que todos os factores estão em harmonia, são momentos raros e preciosos e devem ser bem apreciados, devem ser saboreados, e geralmente ficam gravados no fundo da memória. Quis que aquele momento durasse para sempre…
Passados uns minutos a Emma aproximou-se de nós com ar matreiro, como se os nossos beijos a surpreendessem, tapou a boca fazendo um ar de espanto exagerado desculpando-se de qualquer coisa que eu não percebi muito bem com o barulho da festa, depois virou-se e a Hilary traduziu que era para irmos com ela até ao quarto ao lado ver se víamos a Rhajeena. Fiz que sim com a cabeça e segui-as serpenteando pelo meio das outras pessoas, a música tinha ficado mais animada e as pessoas abanavam em todas as direcções.
Apetecia-me esfaquear a Emma por ter interrompido os nossos beijos para nada.
No quarto ao lado havia menos gente e andava-se sem se ter que dizer “Excuse me” a cada passo. Deixei-me ficar ali uns instantes...

2 passageiros clandestinos:

Blogger XS chamou a hospedeira e disse:

Arrepiaste-me. Pronto.

9:08 da tarde  
Anonymous Anónimo chamou a hospedeira e disse:

ler todo o blog, muito bom

10:14 da tarde  

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