Lapso
Há dias em que me sinto possuido por uma alma que não reconheço nem consigo explicar. É como se tivesse sob o efeito de um venêno, uma espécie de "dopping", uma puta duma vitamina maluca que me corre nas veias a velocidade vertiginosa e toma conta de mim... e eu gosto desse venêno.
Há dias em não me revejo nem no espelho, e olho para mim e simplesmente me escondo da imagem em chamas que o reflexo mostra de mim.
Nesses dias, o céu perde a cor e o dia apaga-se antes do nascer do Sol.
Em dias assim escrevo coisas deste género:
Bradem sinos sem parar
Cubram de negro o firmamento
Levantem-se as ondas do mar
Sopre violento o vento
Ateiem fogo à floresta
Ponha-se o sol de vez
Padeça Deus da testa
Cristo na cruz outra vez
Chorem as flores no campo
Gritem abutres a voar
Os reis tirem o manto
Lancem crianças a afogar
Parem festas parem danças
Roubem as jóias do altar
Matem anjos com lanças
Flagelem-nos até sangrar
Sequem os rios do mundo
Sofram doentes com dores
Arranquem dos lagos o fundo
e do arco íris as cores
Morram soldados nas fileiras
Violem as leis da guerra
Arrasem cidades inteiras
Mova-se o céu e a terra
Queimem todas as searas
Arranquem da noite a lua
Extingam espécies raras
Draguem o Douro e o tua
Fechem para sempre o caixão
E fiquem cegos como eu
Os homens com vida de cão
Porque o meu pai morreu
(Julho de 1991)
Em dias assim, lembro-me de dias passados que a memória não consegue apagar, lembro-me de um certo dia de Verão, há já 15 anos atrás, e de outro dia, mais recente, mas no mesmo lugar.
Hoje, dia 13 de Novembro, o meu Pai faria 78 anos, e ao chegar a casa eu teria um sorriso para lhe mostrar, algo para lhe dizer, uma conversa qualquer, ou qualquer coisa para lhe perguntar. Teria seguramente vontade de jogar Xadrez e de lhe conseguir ganhar por uma vez que fosse.
Eu sou o 7º filho, fui cuspido do ventre para o mundo como se fosse o ùltimo e desejado raio de Sol... Tenho obrigação de brilhar!
Tinha planeado fazer uma viagem no dia de hoje, uma viagem parecida com esta, mas não, hoje não é um bom dia para viajar... Em dias como hoje lembro-me de mim, da coragem que vive em mim, da vontade de acordar e vingar, vingar na vida, vingar-me da puta da vida!
Em dias como hoje, para mim, por lapso, é dia internacional da vingança!
Adiei a viagem para amanhã...
Há dias em não me revejo nem no espelho, e olho para mim e simplesmente me escondo da imagem em chamas que o reflexo mostra de mim.
Nesses dias, o céu perde a cor e o dia apaga-se antes do nascer do Sol.
Em dias assim escrevo coisas deste género:
Bradem sinos sem parar
Cubram de negro o firmamento
Levantem-se as ondas do mar
Sopre violento o vento
Ateiem fogo à floresta
Ponha-se o sol de vez
Padeça Deus da testa
Cristo na cruz outra vez
Chorem as flores no campo
Gritem abutres a voar
Os reis tirem o manto
Lancem crianças a afogar
Parem festas parem danças
Roubem as jóias do altar
Matem anjos com lanças
Flagelem-nos até sangrar
Sequem os rios do mundo
Sofram doentes com dores
Arranquem dos lagos o fundo
e do arco íris as cores
Morram soldados nas fileiras
Violem as leis da guerra
Arrasem cidades inteiras
Mova-se o céu e a terra
Queimem todas as searas
Arranquem da noite a lua
Extingam espécies raras
Draguem o Douro e o tua
Fechem para sempre o caixão
E fiquem cegos como eu
Os homens com vida de cão
Porque o meu pai morreu
(Julho de 1991)
Em dias assim, lembro-me de dias passados que a memória não consegue apagar, lembro-me de um certo dia de Verão, há já 15 anos atrás, e de outro dia, mais recente, mas no mesmo lugar.
Hoje, dia 13 de Novembro, o meu Pai faria 78 anos, e ao chegar a casa eu teria um sorriso para lhe mostrar, algo para lhe dizer, uma conversa qualquer, ou qualquer coisa para lhe perguntar. Teria seguramente vontade de jogar Xadrez e de lhe conseguir ganhar por uma vez que fosse.
Eu sou o 7º filho, fui cuspido do ventre para o mundo como se fosse o ùltimo e desejado raio de Sol... Tenho obrigação de brilhar!
Tinha planeado fazer uma viagem no dia de hoje, uma viagem parecida com esta, mas não, hoje não é um bom dia para viajar... Em dias como hoje lembro-me de mim, da coragem que vive em mim, da vontade de acordar e vingar, vingar na vida, vingar-me da puta da vida!
Em dias como hoje, para mim, por lapso, é dia internacional da vingança!
Adiei a viagem para amanhã...
5 passageiros clandestinos:
Posso dizer que me deixas.te sem palavras?.. *
Há dias assim...
O poema é excelente.
É assim. A vida é assim.
Aprendemos da forma mais difícil a lidar com o que nos leva a adiar a viagem. E, por vezes, é mesmo adiada por muitos anos...
Abraço!
A vida é feita de encontros e desencontros, de ganho e de perdas. É fácil dizer que vive para sempre o que guardamos no coração. Dificil por vezes é lutar para acreditar nisso.
Dias melhores virão, acredita.
Um beijo, outro, sem mais palavras.
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