Capítulo III
No dia seguinte apanhei um táxi para a estação dos comboios, levantei o bilhete que a Seguradora me tinha reservado na bilheteira e esperei pelo comboio regional da Virgin Rail em direcção a Southampton. Por qualquer motivo só me tinham arranjado um carro em Southampton, que ficava 50 Kms para lá de Bournemouth, enfim, mais uma vez não discuti.
Tinha dormido num Bed & Breakfast mas não tinha acordado a tempo de tomar o pequeno-almoço, estava cheio de fome. Comi uma sandes caríssima, à pressa, e agora só me faltava ir buscar o carro alugado para poder continuar viagem. Na oficina da Nissan tinham-me dito que era preciso encomendar uma peça directamente da fábrica, no Japão. A reparação não era cara mas ia ficar sem carro durante 2 semanas. …e eu a ver a aventura a adensar-se, o que era para ser uma simples viagem de carro de Portugal até Inglaterra transformou-se em algo muito mais elaborado, se tivesse planeado a viagem desta maneira acho que tinha dado barraca, assim limitei-me a seguir o curso dos acontecimentos. Meti-me no comboio e contemplei a paisagem do Sudoeste da Inglaterra, basicamente verde, verde e mais verde, não me impressionava tanto como o Sudeste, talvez porque faltava lá a neve de Fevereiro…
Ia ter que passar o fim-de-semana para cá e para lá: De Plymouth para Southampton de comboio, depois de carro alugado de Southampton para Bournemouth, registar-me na residência universitaria onde ia ficar, depois continuar em direcção a Plymouth, passar as minhas bagagens do meu carro para o carro alugado e fazer o mesmo caminho para voltar para Bournemouth. Ai tinha que descarregar as coisas e depois voltar a Southampton para devolver o carro à Avis. Finalmente tinha que apanhar um comboio para voltar para Bournemouth.
A viagem de comboio demorou 4 horas, cheguei a Southampton ao fim do dia, entrei no balcão da Avis Rent-a-Car que ficava mesmo em frente da estação. Contrato assinado e chaves na mão dirigi-me ao parque de estacionamento do Aeroporto –também perto da estacão - procurei o lugar P31 onde não sabia que carro ia encontrar. Era um Fiat Punto, modelo de base, branco, poucos quilómetros e… …volante à direita.
“Bonito!”
Instalei-me no lugar do condutor e senti logo uma falta de à vontade enorme, o habitáculo era minúsculo comparado com a banheira do Datsun e estava tudo ao contrario… Deixei-me ali ficar alguns minutos para me habituar, passei a cassete dos Headphones para o auto-radio, enrolei a última que tinha e acendi-a, uma pequena como sempre, para não ficar muito broado, só para pôr um sorrisinho nos lábios e fazer olhar à matador.
Pensei nos meus amigos filigrees, no que estariam agora a fazer, concerteza todos no café a ter conversas da bola e a não fazer mais do que no dia anterior. Provavelmente nos copos, antes de irem para o Louvre, ou para o Ruína, era sábado à noite…
Devagarinho lá tirei o carro do estacionamento, pedi direcções a um funcionário do aeroporto que me indicou que, para ir para Bournemouth, tinha que entrar na A31 em direcção a Este, para a direita do mapa, e ir sempre em frente até encontrar a tabuleta para Bournemouth, sair aí que depois era sempre em frente até lá chegar, pareceu-me ser suficientemente simples.
“Follow the signs, mate.” Disse-me ele.
A A31 estava mesmo ali perto, segui os painéis como ele me tinha indicado e encontrei-me do lado errado da estrada, quer dizer, do lado certo para eles mas do lado errado para mim. Que confusão, tudo ao contrario, as saídas e entradas do lado esquerdo da faixa de rodagem bem como os sinais de trânsito, os nomes de terras e as distâncias até lá chegar. A faixa de ultrapassagem era do lado direito –levei algum tempo e algumas buzinadelas até me aperceber que ultrapassar também se faz ao contrário - não é que fosse a ultrapassar, mas ia devagar demais na faixa de ultrapassagem.
Entretanto a noite tinha caído outra vez. “Epá, é verdade, os dias aqui são mais pequenos.”
As luzes dos carros que vinham em sentido contrário faziam-me uma grande confusão. “-Ai, Vai bater, vai bater, vai bater…” mas passavam mesmo rentinho ao meu lado direito.
Tinha perdido os meus óculos duas semanas antes, no Algarve, e faziam-me uma falta do caraças, cada vez que parava para olhar para o mapa não reconhecia nenhum dos nomes que via nas tabuletas. Continuei assim durante uma hora. Passei por uma saída para a M23, em direcção a Londres. Imaginei que me ia divertir brevemente a curtir umas viagens até Londres, ir lá desbundar aquilo, talvez passar um fim-de-semana, talvez a caminho de Canterbury, em Kent. Sim, contava ir a Canterbury o mais depressa possível. Para mim ir a Canterbury fazia parte desta aventura, desde o momento em que resolvi meter-me nisto… Depois passei por Farham, Hilsea, Portsmouth e ao chegar perto de Chichester vi uma estacão de serviço a tempo de poder sair da estrada e parar. Consultei o mapa e nada de nomes conhecidos.
“Já me perdi…” Fiquei logo carêto.
Com o meu sotaque apurado de Turista perdido, perguntei o caminho ao homem da bomba de gasolina, disse-lhe de onde vinha e para onde ia, mostrei-lhe o mapa. Ele olhou para mim, depois olhou para o mapa, apontou para o sitio onde estávamos e sem dizer uma palavra seguiu a linha da A31 com o dedo até Bournemouth… …passando por Southampton, no lado esquerdo do mapa!
Pois, com a história da esquerda e da direita tinha-me enganado quando entrei na A31, em Southampton, e tinha vindo na direcção oposta, em direcção a Este. Não admira que não reconhecesse os nomes das terras, estava a olhar para o lado errado do mapa, quer dizer, estava a olhar para o lado certo do mapa mas eu é que estava no sitio errado, enfim. Um erro legítimo, mas lembro-me de pensar que esta era uma daquelas cenas que nunca ia contar a ninguém…
Meti-me no carro, meia volta na rotunda seguinte e fiz os 150 quilómetros de volta até Bournemouth num instante. Já estava mais habituado a conduzir à esquerda da estrada e com volante à direita, isto apesar de ainda abrir a porta cada vez que queria meter uma mudança, de fazer grandes rasas ao trânsito que vinha em sentido contrário, e de deixar a roda de trás subir o passeio cada vez que virava à esquerda.
A cegada em Espanha e o facto que o meu carro – com as minhas coisas todas - ainda estar avariado em Plymouth passou-me ao lado. Estava extasiado com a vida que me esperava, com aquele momento, o triunfo de muitos esforços e o primeiro dia de um plano ambicioso a que me tinha proposto. Fumei um saboroso cigarro ao som de “Time” dos Pink Floyd.
“Home
Home again
I like to come here
When I can
And when I come home
Cold and tired
It’s good to warm my bones
Beside the fire…”
A paisagem de verdura e árvores da New Forest começou a dar lugar às primeiras casas, abrandei um pouco…
A determinada altura coroei a minha já longa viagem com uma acolhedora e bem iluminada tabuleta dizer WELCOME TO BOURNEMOUTH, o tal destino final que a gaja da Seguradora nem conhecia mas que para mim era o El Dorado há mais de dois anos.
Tinha dormido num Bed & Breakfast mas não tinha acordado a tempo de tomar o pequeno-almoço, estava cheio de fome. Comi uma sandes caríssima, à pressa, e agora só me faltava ir buscar o carro alugado para poder continuar viagem. Na oficina da Nissan tinham-me dito que era preciso encomendar uma peça directamente da fábrica, no Japão. A reparação não era cara mas ia ficar sem carro durante 2 semanas. …e eu a ver a aventura a adensar-se, o que era para ser uma simples viagem de carro de Portugal até Inglaterra transformou-se em algo muito mais elaborado, se tivesse planeado a viagem desta maneira acho que tinha dado barraca, assim limitei-me a seguir o curso dos acontecimentos. Meti-me no comboio e contemplei a paisagem do Sudoeste da Inglaterra, basicamente verde, verde e mais verde, não me impressionava tanto como o Sudeste, talvez porque faltava lá a neve de Fevereiro…
Ia ter que passar o fim-de-semana para cá e para lá: De Plymouth para Southampton de comboio, depois de carro alugado de Southampton para Bournemouth, registar-me na residência universitaria onde ia ficar, depois continuar em direcção a Plymouth, passar as minhas bagagens do meu carro para o carro alugado e fazer o mesmo caminho para voltar para Bournemouth. Ai tinha que descarregar as coisas e depois voltar a Southampton para devolver o carro à Avis. Finalmente tinha que apanhar um comboio para voltar para Bournemouth.
A viagem de comboio demorou 4 horas, cheguei a Southampton ao fim do dia, entrei no balcão da Avis Rent-a-Car que ficava mesmo em frente da estação. Contrato assinado e chaves na mão dirigi-me ao parque de estacionamento do Aeroporto –também perto da estacão - procurei o lugar P31 onde não sabia que carro ia encontrar. Era um Fiat Punto, modelo de base, branco, poucos quilómetros e… …volante à direita.
“Bonito!”
Instalei-me no lugar do condutor e senti logo uma falta de à vontade enorme, o habitáculo era minúsculo comparado com a banheira do Datsun e estava tudo ao contrario… Deixei-me ali ficar alguns minutos para me habituar, passei a cassete dos Headphones para o auto-radio, enrolei a última que tinha e acendi-a, uma pequena como sempre, para não ficar muito broado, só para pôr um sorrisinho nos lábios e fazer olhar à matador.
Pensei nos meus amigos filigrees, no que estariam agora a fazer, concerteza todos no café a ter conversas da bola e a não fazer mais do que no dia anterior. Provavelmente nos copos, antes de irem para o Louvre, ou para o Ruína, era sábado à noite…
Devagarinho lá tirei o carro do estacionamento, pedi direcções a um funcionário do aeroporto que me indicou que, para ir para Bournemouth, tinha que entrar na A31 em direcção a Este, para a direita do mapa, e ir sempre em frente até encontrar a tabuleta para Bournemouth, sair aí que depois era sempre em frente até lá chegar, pareceu-me ser suficientemente simples.
“Follow the signs, mate.” Disse-me ele.
A A31 estava mesmo ali perto, segui os painéis como ele me tinha indicado e encontrei-me do lado errado da estrada, quer dizer, do lado certo para eles mas do lado errado para mim. Que confusão, tudo ao contrario, as saídas e entradas do lado esquerdo da faixa de rodagem bem como os sinais de trânsito, os nomes de terras e as distâncias até lá chegar. A faixa de ultrapassagem era do lado direito –levei algum tempo e algumas buzinadelas até me aperceber que ultrapassar também se faz ao contrário - não é que fosse a ultrapassar, mas ia devagar demais na faixa de ultrapassagem.
Entretanto a noite tinha caído outra vez. “Epá, é verdade, os dias aqui são mais pequenos.”
As luzes dos carros que vinham em sentido contrário faziam-me uma grande confusão. “-Ai, Vai bater, vai bater, vai bater…” mas passavam mesmo rentinho ao meu lado direito.
Tinha perdido os meus óculos duas semanas antes, no Algarve, e faziam-me uma falta do caraças, cada vez que parava para olhar para o mapa não reconhecia nenhum dos nomes que via nas tabuletas. Continuei assim durante uma hora. Passei por uma saída para a M23, em direcção a Londres. Imaginei que me ia divertir brevemente a curtir umas viagens até Londres, ir lá desbundar aquilo, talvez passar um fim-de-semana, talvez a caminho de Canterbury, em Kent. Sim, contava ir a Canterbury o mais depressa possível. Para mim ir a Canterbury fazia parte desta aventura, desde o momento em que resolvi meter-me nisto… Depois passei por Farham, Hilsea, Portsmouth e ao chegar perto de Chichester vi uma estacão de serviço a tempo de poder sair da estrada e parar. Consultei o mapa e nada de nomes conhecidos.
“Já me perdi…” Fiquei logo carêto.
Com o meu sotaque apurado de Turista perdido, perguntei o caminho ao homem da bomba de gasolina, disse-lhe de onde vinha e para onde ia, mostrei-lhe o mapa. Ele olhou para mim, depois olhou para o mapa, apontou para o sitio onde estávamos e sem dizer uma palavra seguiu a linha da A31 com o dedo até Bournemouth… …passando por Southampton, no lado esquerdo do mapa!
Pois, com a história da esquerda e da direita tinha-me enganado quando entrei na A31, em Southampton, e tinha vindo na direcção oposta, em direcção a Este. Não admira que não reconhecesse os nomes das terras, estava a olhar para o lado errado do mapa, quer dizer, estava a olhar para o lado certo do mapa mas eu é que estava no sitio errado, enfim. Um erro legítimo, mas lembro-me de pensar que esta era uma daquelas cenas que nunca ia contar a ninguém…
Meti-me no carro, meia volta na rotunda seguinte e fiz os 150 quilómetros de volta até Bournemouth num instante. Já estava mais habituado a conduzir à esquerda da estrada e com volante à direita, isto apesar de ainda abrir a porta cada vez que queria meter uma mudança, de fazer grandes rasas ao trânsito que vinha em sentido contrário, e de deixar a roda de trás subir o passeio cada vez que virava à esquerda.
A cegada em Espanha e o facto que o meu carro – com as minhas coisas todas - ainda estar avariado em Plymouth passou-me ao lado. Estava extasiado com a vida que me esperava, com aquele momento, o triunfo de muitos esforços e o primeiro dia de um plano ambicioso a que me tinha proposto. Fumei um saboroso cigarro ao som de “Time” dos Pink Floyd.
“Home
Home again
I like to come here
When I can
And when I come home
Cold and tired
It’s good to warm my bones
Beside the fire…”
A paisagem de verdura e árvores da New Forest começou a dar lugar às primeiras casas, abrandei um pouco…
A determinada altura coroei a minha já longa viagem com uma acolhedora e bem iluminada tabuleta dizer WELCOME TO BOURNEMOUTH, o tal destino final que a gaja da Seguradora nem conhecia mas que para mim era o El Dorado há mais de dois anos.
4 passageiros clandestinos:
Eina pah... tal e qual... a roda de tras a passar os passeios, as rasas 'as arvores 'a esquerda, o frio na barriga cada vez que cruzamos com outro em sentido contrario numa daquelas estradas larguissimas do countryside ingles... Muito bom. Depois daquela aventura que tu comentaste, viajei muito mais perto sudoeste ingles (que no fundo eh onde moro), passando por bournemouth, plymouth, etc ate 'a cornualha, com o idiota do ex... que eh um pessimo passageiro... e bem que tentou conduzir tb, mas e' muito pior condutor que eu. Entretanto ja lhe apanhei o jeito, mas como nao tenho carro, e so alugo de vez em quando para viagens, a primeira horita de viagem e' sempre um calafrio!!
:)
Eu andei a maior parte do tempo (4 anos) com carros com volante à esquerda, o que facilita a adaptação ao lado "errado" da estrada, excepto nas ultrapassagens, que foram sempre verdadeiros actos de fé, porque estás no lado errado do carro para conseguires ver es se vem alguém em sentido contrário.
Outra aventura foi converter mentalmente milhas para Kilometros, porque psicologicamente estimava as distâncias pelo número de milhas, e depois demorava montes de tempo a lá chegar...
Kms >>> Milhas = dividir por 8 e multiplicar por 5
Milhas >>> Kms = dividir por 5 e multiplicar por 8
...nem sempre eram contas faceis de fazer.
Bjs
F
pq nao multiplicar logo por 1.6? Acredita k eh mais facil. Se nao consegues multiplicar, experimenta somar: +50% mais (metade) e +10% mais (decimo)... tipo... 200 milhas = 200km +100km +20km, ie aprox 320km.. parece dificil mas sao segundos.
E o contrario tb... 200km = metade mais 10% = 100m+20=120milhas. Aproximadamente. A margem de erro aumenta com o valor absoluto, porque e' mesmo mais perto de 1.61
LOL, Fantástico, definitivamente falamos a mesma língua...
A conversão "aparece-me" naturalmente na cabeça, a maior parte das vezes por aproximação a multiplos ou partes de 5 e/ou de 8.
...estava a dar a sugestão simplificada que costumo dar às pessoas que se queixam de não conseguir converter milhas para kilometros, nitidamente a ti não preciso de explicar nada deste género.
O "valor absoluto" arrumou comigo...
Bjs
F
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