Por cada paragem surge a perspectiva de uma nova viagem… Gosto de viajar de comboio, gosto de sentir que os carris não são hereméticos e não reduzem as curvas da viagem ao pontilhado que cada paragem faz no mapa, porque a viagem extrapola para além dos carris. Gosto do cheiro dos comboios, dos sons, das cores, da heterogeneidade das pessoas que se vêem nos comboios, e gosto particularmente de escrutinar cada recanto visível de cada estação onde passo mas onde não saio, lugares que me fazem lembrar destinos passados e fantasiar com destinos futuros, e fazê-lo antes de chegar à estação onde finalmente me apeio, sem chegar a escrutinar seja lá o que for, permite-me descomplicadamente apenas seguir viagem até ao destino presente…
Escreveram-se inumeras histórias e novelas sobre viagens de comboio, dramas, comédias, mistérios e romances, alguns particularmente distintos e imortalizados por escritores famosos, outros meramente esquecidos na imensidão literária que se lhes seguiu, mas todas elas copiosamente revestidas na génese das suas narrativas com a mística própria da viagem de comboio, que quanto mais longa for mais propícia é a uma narrativa qualquer que a anime, ao relato possivel,
seja incisivo e pertinente, ou seja escrita a metro, palavras para encher chouriço, o sexo dos anjos, a falta de traquejo de vida escarrapachada na escrita, um méro
bla bla bla de trazer por casa e encantar conquistas fáceis... Enfim, perco-me com algumas futilidades que tenho lido nesta minha estranhamente pacífica
rentrée.
A minha viagem de
hoje pauta-se pela vontade de lá chegar, pelo pouca-terra, pouca-terra repetitivo do tempo passado aqui dentro encafuado a desejar que inventem de uma vez um teletransporte molecular tipo Star Trek, de preferência de ida e volta… mas enquanto isso não acontece, por mim, tragam o TGV o mais rápido possível, estou preparado para, por uma vez na vida, fazer o mesmo
erro uma segunda vez.