domingo, novembro 16, 2008

Confétis

Ocorre-me que, no meio de uma tal de guerra de civilizações (que aparentemente é milenar e que a existir é algo que mina a humanidade desde os primordios da história moderna) as caracteristicas humanas têm sido exacerbadas e extrapoladas até ao limite do ridiculo. A realidade é que a natureza humana, independentemente do grau de civilização que se atingiu, não é só racional, a natureza humana é sobretudo animal, é instintiva e em certa medida muito primitiva. O facto de se perceber a razão pela qual se tem determinada atitude é a única caracteristica palpavel que distingue o humano pensante do animal irracional, porque a atitude em si, essa, é igual à do animal irracional, as razões são as mesmas e os exemplos são vastos: O instinto de sobrevivência, a procura de alimento, a defesa do território, a procriação, a protecção das crias, o medo do desconhecido, etc…
Por mim, sei que às vezes sou irreverente, mas não sei bem porquê.
Ao entrar num café onde nunca entrei antes vejo esses exemplos todos de natureza humana espelhados nas caras de quem olha para mim, mas ao entrar num café onde costumo entrar o sentimento é menos evidente. Se me perguntarem se não tenho cafés ao pé de casa… Sim, tenho, mas nem sempre estou ao pé de casa quando me apetece entrar num café, e mais, os cafés onde me apetece entrar nem sempre estão ao pé de casa. É assim a vida.
Onde vais Paco?
Vou andar de mota
E onde vais?
Vou à Caparica
Fazer o quê?
Vou fotografar o pôr-do-sol…

Depois de esgotar o espaço do cartão de memória no “Sabor a Praia” e de beber um leite-com-chocolate cuja única caracteristica particular é ser servido quente; A estrada levou-me da Costa da Caparica, pelo escuro da floresta e da serra, contornando a Lagoa de Albufeira, até às portas de Sesimbra. Comprei uma exarpe nova, preta com um padrão étnico sul americano, para proteger o pescoço do frio da noite, mas incidentalmente amplifiquei o cenário de pinta brava… Gosto de pensar que qualquer trapinho me fica bem. Num café à beira da estrada, a fotografia do Leonel na necrologia do Jornal lembrou-me que amanhã (hoje) é dia de ir espalhar as cinzas dele no mar da praia da Azarujinha. É a ordem natural das coisas, os que partem e os que ficam. Não pensei muito mais nisso, não me parece ordem natural nenhuma um Pai e uma Mãe enterrarem um filho. Tenho consciência do meu distanciamento, o “A” não era maiusculo.
Bebi um moscatel sem sabor a mel e voltei pela Nacional até Almada onde me perdi num emaranhado de caminhos e ruas que parece que é novidade cada vez que lá passo. Na FNAC do Almada Fórum não encontrei aquele CD que me faria sentir normal ao compra-lo, nem um livro de titulo sugestivo que coubesse na algibeira sem eu ter que o dobrar... Não comprei nada, o dia pouco está a ter de normal, afinal de contas a minha Irmã veio-nos visitar e eu pirei-me para parte incerta.
O fim de um jogo de futebol qualquer a esta hora, seja de Sábado ou de Domingo, tornou-se há várias semanas um ritual dos meus fins-de-semana na outra margem. Futebol como unificador das massas, ou simplesmente para acompanhar uma imperial e um pão-com-chouriço aquecido e para alimentar 2 dedos de conversa no Amanhecer do Parque… Sabe-me bem ser reconhecido (ler: ser bem recebido) longe de casa. Olá, como vai isso? Então, veio dar a sua voltinha de mota? O Porto ganhou 2-0, agora vai dar o Leixões, quer o pão-com-chouriço cortado ao meio? Até para a semana.
Curiosamente não acredito muito em coincidências, mas acredito que podem ser mais facil e acidentalmente provocadas do que deliberadamente evitadas…
…e porque tudo o que os sentidos apanham do ar serve para avivar a memória, o aroma fresco do Parque da Paz traz-me sempre uma lembrança qualquer que insistentemente não consigo (ler: não quero) ainda apagar. Passou-me pela cabeça um post que fiz (por sms) sobre subir degraus, mas a forma como subo esses degraus não é aplicavel em Almada. É parecido mas não é comparavel.
Ao passar a ponte de volta para o meu lado do Rio fui brindado por uma chuva de confetis que cairam de um camião e que esvoaçavam como flocos de neve brilhantes sob as luzes da ponte. É o mês de Novembro no seu melhor, e ainda vai a meio. Entretanto iluminaram o Cristo-Rei outra vez...
Fiz as curvas da marginal sem particular intensidade.
Foi ontem, sobre hoje não me apetece escrever agora.

1 passageiros clandestinos:

Blogger Avis Rarum chamou a hospedeira e disse:

Hoje, para não variar, foi dia de Missa e de Bomba... a unica diferença foi... ir prá missa de gravata... pra depois ir/vir trabalhar...

7:07 da tarde  

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