ConGestão 7
VOLTA A PORTUGAL... ...dos pequeninos.
Verão... tempo de calor e de férias. Este ano a expressão “Vá para fora cá dentro” parece ter feito sentido para muito boa gente, gente que decidiu mesmo assim tirar uns dias em época alta. Tendências de Agosto a que chamamos “modas” e “estilos de vida”, mas que na maior parte dos casos são condições forçadas pela pobre gestão da economia familiar. Mesmo assim, férias em Agosto, a velha história de manter as aparências...
Ora então, ir para fora cá dentro... Quisemos (note-se o “nós” Real) fazer algo parecido, parecido mas diferente, a diferença entre o ser e o só parecer, e aproveitando a boleia da 69ª Volta a Portugal em Bicicleta, fizemos a trouxa e fizemo-nos à estrada, não de bicicleta mas de Moto, com alforges e indumentária a rigor. Um homem, montado num cavalo de ferro, ao sabor do vento.
O itinerário, coisa que em época baixa muito boa gente deixa a cargo das Agências de Viagens quando rumam a destinos pseudo-exóticos em regime de meia-pensão, foi no nosso caso um itinerário algo planeado, contudo com alguma flexibilidade, afinal de contas há sempre uma tabuleta na beira da estrada, com um nome de uma terra por onde nunca passámos e que nos faz mudar de caminho, ou mesmo caminhos que conhecemos e que mesmo sem tabuletas sabemos que vão dar a terras por onde já passamos anteriormente. Assim, Flexibilidade e Liberdade, dois conceitos que, para quem não deve nada a ninguém nos seus itinerários de férias, falam por si. Em suma, concentrámo-nos mais em apreciar o trajecto do que em alcançar um destino predefinido.
Subimos do Ribatejo pelo IC2 em direcção a Coimbra. Em Pombal, cruzamos destinos com um Deficiente-Motor que, em cadeira de rodas, fazia também uma volta a Portugal, mas por uma causa muito mais nobre que a nossa. Bem haja.
Chegados a Coimbra tomámos a N17, a Estrada da Beira, uma estrada sinuosa mas serena, sobretudo desde que o IP3 e a A23 absorveram grande parte do trafego das Beiras. Um breve almoço em Arganil e subimos a Serra da Estrela pelo lado de Seia. Direcção: Aldeia do Sabugueiro. Objectivo: Encomendar umas luvas no artesão do costume (veio de lá o blusão de cabedal preferido). Às vezes sabe bem sermos reconhecidos longe de casa, outras vezes nem por isso...
Ao descer a Serra, já por outro lado, antecipava-se a passagem da Volta a Portugal em Bicicleta cuja etapa do dia iria acabar em Gouveia. Muita emoção mas pouco público, muitos média mas Marketing demais. Desviámos a atenção para a paisagem da Serra da Estrela, sempre linda e atractiva. Já perto de Gouveia, um simpático GNR com um axentuado xotaque da xerra informou-nos que a estrada estaria cortada dada a passagem do pelotão da Volta, tínhamos que fazer um desvio por “Aldeias”, “Moimenta” e “Nespereira”. Ora já por ali tínhamos andado antes, pelo que até resolvemos parar um instante, refrescar a tarde com uma “mini” e gozar o momento, incógnito... Mas não, a Moto é bandeirosa demais e Ele há coincidências do caraças, se fosse de propósito não lhe acertava... Olha, azarito, Agosto é Agosto, e até podia ter sido pior, ter tido um furo num pneu ou algo assim. Bebemos a “mini” com a distinta noção de que preferimos óculos-escuros “Persol”, afinal de contas, já provámos que por muito que se tire a pessoa das Berças, as Berças nunca saem da pessoa. É tudo uma questão de aldeia e este Portugal é uma aldeia, é o Portugal dos pequeninos. Seguimos viagem que a etapa da Volta a Portugal em Bicicleta (que nos desviou do caminho) já acabou. Nesse dia Cândido Barbosa vestiu de amarelo e o resto passou-nos tudo ao lado, literalmente!
Mais adiante, em Arcozelo da Serra, visitámos a propriedade de um familiar, a casa está limpa, a vinha verde e carregada, a batata já está arrancada e arrecadada e o muro caiado de fresco por ser altura das festas. Não nos demorámos muito, e como o Sol já começava a descer, fizemos uma tirada sem parar até Vila Real, a tempo de jantar em Alijó, beber um Moscatel em Favaios e jogar uma suecada noutra Aldeia, noutra Serra, noutro lugar... ...é tudo uma questão de Aldeia.
Este foi o primeiro dia. No total percorremos mais de dois mil quilómetros em doze dias tranquilos, de Norte a Sul fomos para fora em Portugal, sobrou-nos a memória de mil lugares onde passámos e um vergonhoso bronzeado à padeiro, mas o relato dos outros dias fica para outra oportunidade, com mais ou menos “teor”, depende de quem lê. O resto da viagem foi tempo de férias... ou não?
O telemóvel esteve sempre ligado e fartou-se de tocar, consultámos o email diariamente, enviamos um fax, fizemos contactos com alguns produtores e até uma venda: vinho do Douro e vinho a granel... Férias são férias!
De regresso a Azambuja constatámos que as férias também passaram por aqui, e enquanto regressamos à nossa indisciplinada rotina lembramos com emoção a Volta a Portugal do tal Deficiente-Motor com quem nos cruzámos em Pombal, que em 21 dias percorreu oitocentos quilómetros em cadeira de rodas. Constatámos então, com agrado, que os lancis dos passeios, enfim, de alguns dos novos passeios em Azambuja, estão rebaixados nas passadeiras de peões para facilitar o acesso dos Deficientes-Motores e dos Obesos. Deixamos assim uma nota de apreço ao Presidente da CMAz que, directa ou indirectamente, teve em atenção esse “pequenino” pormenor.
O autor desta Crónica deseja expressar sentidas condolências aos Bombeiros Voluntários de Azambuja e aos familiares do Bombeiro Pedro Salema, recentemente falecido. FGA
Verão... tempo de calor e de férias. Este ano a expressão “Vá para fora cá dentro” parece ter feito sentido para muito boa gente, gente que decidiu mesmo assim tirar uns dias em época alta. Tendências de Agosto a que chamamos “modas” e “estilos de vida”, mas que na maior parte dos casos são condições forçadas pela pobre gestão da economia familiar. Mesmo assim, férias em Agosto, a velha história de manter as aparências...
Ora então, ir para fora cá dentro... Quisemos (note-se o “nós” Real) fazer algo parecido, parecido mas diferente, a diferença entre o ser e o só parecer, e aproveitando a boleia da 69ª Volta a Portugal em Bicicleta, fizemos a trouxa e fizemo-nos à estrada, não de bicicleta mas de Moto, com alforges e indumentária a rigor. Um homem, montado num cavalo de ferro, ao sabor do vento.
O itinerário, coisa que em época baixa muito boa gente deixa a cargo das Agências de Viagens quando rumam a destinos pseudo-exóticos em regime de meia-pensão, foi no nosso caso um itinerário algo planeado, contudo com alguma flexibilidade, afinal de contas há sempre uma tabuleta na beira da estrada, com um nome de uma terra por onde nunca passámos e que nos faz mudar de caminho, ou mesmo caminhos que conhecemos e que mesmo sem tabuletas sabemos que vão dar a terras por onde já passamos anteriormente. Assim, Flexibilidade e Liberdade, dois conceitos que, para quem não deve nada a ninguém nos seus itinerários de férias, falam por si. Em suma, concentrámo-nos mais em apreciar o trajecto do que em alcançar um destino predefinido.
Subimos do Ribatejo pelo IC2 em direcção a Coimbra. Em Pombal, cruzamos destinos com um Deficiente-Motor que, em cadeira de rodas, fazia também uma volta a Portugal, mas por uma causa muito mais nobre que a nossa. Bem haja.
Chegados a Coimbra tomámos a N17, a Estrada da Beira, uma estrada sinuosa mas serena, sobretudo desde que o IP3 e a A23 absorveram grande parte do trafego das Beiras. Um breve almoço em Arganil e subimos a Serra da Estrela pelo lado de Seia. Direcção: Aldeia do Sabugueiro. Objectivo: Encomendar umas luvas no artesão do costume (veio de lá o blusão de cabedal preferido). Às vezes sabe bem sermos reconhecidos longe de casa, outras vezes nem por isso...
Ao descer a Serra, já por outro lado, antecipava-se a passagem da Volta a Portugal em Bicicleta cuja etapa do dia iria acabar em Gouveia. Muita emoção mas pouco público, muitos média mas Marketing demais. Desviámos a atenção para a paisagem da Serra da Estrela, sempre linda e atractiva. Já perto de Gouveia, um simpático GNR com um axentuado xotaque da xerra informou-nos que a estrada estaria cortada dada a passagem do pelotão da Volta, tínhamos que fazer um desvio por “Aldeias”, “Moimenta” e “Nespereira”. Ora já por ali tínhamos andado antes, pelo que até resolvemos parar um instante, refrescar a tarde com uma “mini” e gozar o momento, incógnito... Mas não, a Moto é bandeirosa demais e Ele há coincidências do caraças, se fosse de propósito não lhe acertava... Olha, azarito, Agosto é Agosto, e até podia ter sido pior, ter tido um furo num pneu ou algo assim. Bebemos a “mini” com a distinta noção de que preferimos óculos-escuros “Persol”, afinal de contas, já provámos que por muito que se tire a pessoa das Berças, as Berças nunca saem da pessoa. É tudo uma questão de aldeia e este Portugal é uma aldeia, é o Portugal dos pequeninos. Seguimos viagem que a etapa da Volta a Portugal em Bicicleta (que nos desviou do caminho) já acabou. Nesse dia Cândido Barbosa vestiu de amarelo e o resto passou-nos tudo ao lado, literalmente!
Mais adiante, em Arcozelo da Serra, visitámos a propriedade de um familiar, a casa está limpa, a vinha verde e carregada, a batata já está arrancada e arrecadada e o muro caiado de fresco por ser altura das festas. Não nos demorámos muito, e como o Sol já começava a descer, fizemos uma tirada sem parar até Vila Real, a tempo de jantar em Alijó, beber um Moscatel em Favaios e jogar uma suecada noutra Aldeia, noutra Serra, noutro lugar... ...é tudo uma questão de Aldeia.
Este foi o primeiro dia. No total percorremos mais de dois mil quilómetros em doze dias tranquilos, de Norte a Sul fomos para fora em Portugal, sobrou-nos a memória de mil lugares onde passámos e um vergonhoso bronzeado à padeiro, mas o relato dos outros dias fica para outra oportunidade, com mais ou menos “teor”, depende de quem lê. O resto da viagem foi tempo de férias... ou não?
O telemóvel esteve sempre ligado e fartou-se de tocar, consultámos o email diariamente, enviamos um fax, fizemos contactos com alguns produtores e até uma venda: vinho do Douro e vinho a granel... Férias são férias!
De regresso a Azambuja constatámos que as férias também passaram por aqui, e enquanto regressamos à nossa indisciplinada rotina lembramos com emoção a Volta a Portugal do tal Deficiente-Motor com quem nos cruzámos em Pombal, que em 21 dias percorreu oitocentos quilómetros em cadeira de rodas. Constatámos então, com agrado, que os lancis dos passeios, enfim, de alguns dos novos passeios em Azambuja, estão rebaixados nas passadeiras de peões para facilitar o acesso dos Deficientes-Motores e dos Obesos. Deixamos assim uma nota de apreço ao Presidente da CMAz que, directa ou indirectamente, teve em atenção esse “pequenino” pormenor.
O autor desta Crónica deseja expressar sentidas condolências aos Bombeiros Voluntários de Azambuja e aos familiares do Bombeiro Pedro Salema, recentemente falecido. FGA
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