Vila assaltada, tronqueiras à porta.Alguém em nosso redor se referiu à Feira de Maio como sendo uma espécie de “ópio do povo”, uma tradição que tem tanto de popular como de populista, onde o pretexto de fundo serve sobretudo para lançar areia nos olhos do povo.
Não concordamos de todo com essa interpretação, seguramente bocas da oposição.
A Feira de Maio é um dos eventos mais nobres que o Ribatejo promove a nível nacional e que coloca, por uma vez no ano que seja, a Vila de Azambuja no mapa, e apenas por bons motivos, festas, danças, alegrias e celebrações que, embora já ninguém se lembre bem quais são servem na mesma, afinal somos Portugueses e somos Ribatejanos e Fados à parte, qualquer motivo serve para se fazer uma festa!
A esse pretexto, chega a Maio e penduram-se capas e mantas nos varandins e janelas, arejam-se as tertúlias em edifícios semi-devolutos, plantam-se as tronqueiras em lugares estratégicos e com um mês de prenúncio, e quando chegada a semana da feira sai o povo à rua. Uns tiram férias e outros já nem precisam de as tirar. Depois, depois é a festa, revêem-se pessoas que não se viam desde a feira passada, a Vila enche-se de forasteiros, as casas estão abertas, o cheiro do torricado abafa-se em cerveja e corre-se e brinca-se e come-se e bebe-se mais numa semana que no resto do ano inteiro, factura-se também, e bem, seguramente que sim. Por fim, a jóia da coroa, sobre um lençol de areia estendido na rua soltam-se mais uns quantos bois para brincar aos toureios, para brincar com a vida Ribatejana.
Nessa semana, nessa única semana, a Vila enche-se de vida ao mesmo tempo que a vida fica em suspenso e pouca gente se lembra dos males da vida, males que perduram durante o resto do ano, mas não na semana da Feira.
No fim da feira agradece-se a quem a organiza, não porque o fazem melhor ou pior, mas porque lhes foi incumbida a tarefa de a organizar e por tal lhes é devido o agradecimento, e até porque nessa semana nem sequer há politica, somos todos protagonistas.
Este ano, para quem vem de fora, os belos jardins e amplos parques de estacionamento que apresentam a Vila a quem cá chega já não são os cavalos de batalha política que os erigiram, ninguém se lembra das ETAR, das rotundas alagadas, das inundações e das escolas que fecham por falta de empenho de quem tem incumbida a tarefa de pelo menos tentar mantê-las abertas. Não, os jardins, os parques de estacionamento e as rotundas decoradas a enxerto de oliveira são simplesmente infra-estruturas que, sem terem nada a ver com a Feira de Maio, não só não estavam cá antes e faziam cá falta, como acabam também por contribuir para a festa, quanto mais não seja para que quem cá vem possa estacionar o carro na relva!
Mas enquanto a Feira de Maio não chega, outras iniciativas são também organizadas, por quem lhes foi incumbida a tarefa de as organizar. Algumas dessas outras iniciativas (para não dizer a maioria) são genuínas e procuram o desenvolvimento do concelho, e por parcas que sejam, não deixam de ser boas iniciativas, isentas, democráticas e livres, dirigidas ao povo e não a uma pretensa pseudo-elite do costume, implantada e inerte, proteccionista e tradicionalmente acomodada.
Assim, não compreendemos como foi possível que numa dessas outras iniciativas da Câmara Municipal de Azambuja, que nada tem de calendário político, não serve para aproveitamento económico, e para variar não leva água no bico, como foi possível que tenha passado ao lado de tanta gente!?
Falamos da concessão do café-bar do jardim municipal de Azambuja, concurso publico que decorreu entre o mês de Março e o mês de Abril, que foi aprovado em reunião de Câmara e confirmado em Assembleia Municipal, publicado em Edital, publicado na imprensa local, no Diário da Republica e difundido no zum-zum do boca-a-boca pela Vila fora.
Em suma, tratou-se de uma concessão de um espaço de 140 metros quadrados, por um período de 25 anos (renovável daí em diante por períodos de 5 anos), com uma renda irrisória (base de licitação de 250 Euros por mês), com projecto arquitectónico já elaborado (meio tosco, mas lá estava) e nitidamente muito bem localizado!
Pergunta-se com alguma ansiedade quantas candidaturas terá a Câmara Municipal recebido para tal concurso (leia-se oportunidade de investimento)… Terá recebido 20 candidaturas? 50? 100? Provavelmente mais de 100… Afinal, ainda não caiu no esquecimento da memória colectiva que deambulam por aí umas largas centenas de desempregados da Fábrica da Opel, pessoas que supostamente anseiam por iniciativas destas para refazerem as suas vidas.
Para tal concurso, que a nosso ver é uma iniciativa positiva, saiba-se então que a Câmara Municipal recebeu uma única candidatura! Uma só, umazinha apenas, uma candidatura!
Perguntemo-nos então, terá havido falta de comunicação, ou estamos tão bem na vida que não precisamos de montar negócios? Será a febre da OTA? Ou terá sido a areia da feira de Maio que nos começou já a enublar a vista?
Perguntemo-nos também, nós que somos quem de direito, ilustres e eleitos, terá tal concurso decorrido de forma minimamente ortodoxa? O formato do concurso serviu o seu propósito? Os critérios de adjudicação estariam correctos? …e a pergunta mais pertinente, vamos realmente validar o concurso?
A resposta é simples, infelizmente sim, o concurso é válido e deve ir para a frente, para bem do concessionado, bravo, e da CMAz, boa sorte…
…Porque talvez daí possa resultar mais uma possível falta de pagamento da renda de uma concessão, com tanto zum-zum, é possível que nem fosse caso único.
Viva a feira de Maio!