Lembro-me de ter tido uma vez uma qualquer daquelas epifanias que me fazem vir aqui escrever sobre o sexo dos anjos… Recordo-me que na altura a coisa prendia-se, para variar, com algo relacionado com fazer escolhas impossíveis ponderadas pelo mínimo dano possível e atribuir-lhes a correlação de ser a escolha do caminho certo. Escolhas feitas para resolver complicações, como se cada complicação nova fosse apenas um dia diferente dos outros, longe da rotina, forma de não cortar os pulsos com os ponteiros do relógio que não uso.
São escolhas que me vejo forçado a fazer com a dose certa de ousadia, de desafio despreocupado e desprendido do monstro a que alguns, fracos de espirito, chamam o destino…
Escolher é a coisa mais fácil do mundo, e tem tudo a ver comigo:
“-Venham eles, quantos são?” Cenas deste tipo… e depois optar entre a diplomacia e o charme, ou partir a loiça toda, endireitar os dentes a uns e estraçalhar a alma a outros, e avançar pá, sem remorso e sem olhar para trás… Tudo isto dito de forma muito pouco ortodoxa, mas o sentimento – e o histórico – é mais ou menos este. Bola para a frente.
É um handicape fodido não se ter medo de nada, viver sem receios, não é bem ter a mania que se é o maior, é antes algo parecido com não se prender a nada que se tenha receio de perder, e convidar assim o desafio do azar, do complicar para se poder reconstruir, melhor, mais sólido, chame-se-lhe calejado.
Os anos passam, as escolhas sucedem-se, e o cálculo do mínimo dano possível torna-se gradualmente na maximização do ganho…
Sobe-se a fasquia mais um bocadinho.