sábado, dezembro 19, 2009

Capitulo XIX - (...fragmento...)

(...)
Despedi-me dela com um beijo e com uma frase que me saiu no momento: “I’ll see you when I’ll see you” e tive que lutar com todas as minhas forças para não ter ficado ali com ela.
Entrei para o autocarro sem olhar para trás, tinha ficado com o som das minhas próprias palavras a fazer eco na cabeça... subi as escadas para o andar de cima do autocarro e deixei-me cair num assento livre à janela. O dia estava cinzento e frio e a neve tinha voltado, a viagem até à estação dos comboios durou menos de 15 minutos.
Quando lá cheguei comprei um bilhete até Victoria Station e fui comer qualquer coisa antes do comboio chegar.
Enquanto comia vi as noticias que passavam na televisão e apercebi-me que a neve tinha feito grandes estragos no resto do Reino Unido, tal como pelo norte da Europa, sobretudo cortes de estradas, de electricidade e de transportes. Aparentemente os principais aeroportos tinham estado fechados na noite anterior e os Ferrys tinham sido cancelados. A situação já estava normalizada mas temiam-se novos nevões ao fim do dia. Nem assim os comentários cépticos do apresentador mostraram entusiasmo em ver a abertura dentro de poucos meses do Eurotunel, no canal da Mancha. Enfim, desde que não nevasse até eu ter descolado tudo bem, o meu vôo era às 14h, no aeroporto de Gatwick.
No comboio ìa a reviver aquela louca semana que tinha passado, sentia-me triste por ter que deixar uma pessoa como a Hilary para trás, e mesmo que tivesse uma vontade de ferro sabia que não ia ser fácil voltar a Canterbury com tanta frequência como gostava. Lembrei-me do que ela me tinha dito momentos antes de eu partir e pensei que gostava de lhe ter dito a mesma coisa, mesmo que eu achasse que ainda era cedo demais. Apeteceu-me ter um daqueles telefones portáteis, tipo walky-talky, como o Mulder e a Scully dos X-Files, tirá-lo do bolso, esticar a antena e telefonar-lhe para lhe dizer que também a amava! Mas no meu íntimo ainda não me sentia confiante suficiente para dizer isso a alguém.

O medo do escuro não desaparece só por se acender a luz.

Encontrei-me a divagar sobre o que via pela janela do comboio. A paisagem de Kent correspondia à ideia que eu tinha da paisagem inglesa no Inverno, longos campos verdes, rios e vilas com ar medieval. A neve cobria certas partes da paisagem o que através do embaciado da janela do comboio lhe dava um aspecto de aguarela.
No banco ao lado do meu ia um homem a ler o “SUN”, um jornal tablóide, tinha uma manchete que me chamou a atenção:
“EUROPE IS ISOLATED FROM BRITAIN”
Deu-me vontade de rir da estupidez a que os bifes às vezes se entregam, quer dizer, a Europa é que está isolada?!
-É pá, bute mandar mantimentos p’rós gajos da Europa antes que eles morram de fome!
Bifes cromos, julgam que são o centro do Universo.
Cheguei a Vitoria e apanhei o Gatwick Express para o aeroporto. A viagem foi rápida, 30 minutos.
Gatwick estava num pandemónio devido às medidas excepcionais de segurança que o governo do John Major tinha posto em prática por causa do IRA. Lembro-me de ver isso no telejornal em Portugal: Tinham rebentado com um Centro Comercial no centro de Belfast.
Para juntar à festa havia pequenas patrulhas de Policia anti-terrorista e de soldados tipo SAS a marchar em todas as direcções, pareciam Ninjas todos vestidos de preto, de metralhadora com silenciador, faca-de-mato na anca, máscara de ski, óculos infra-vermelho e mini-antenas nas orelhas.
O meu voo Air Colombus estava atrasado mais de 6 horas o que significava uma seca enorme plantado no Hall do aeroporto, - meses mais tarde essa companhia Madeirense viria a abrir falência.
Por causa do estado de alerta Anti-terrorismo do IRA não podia pousar a mochila no chão. Mas isso não me incomodou muito, pelo contrario, era mais um aspecto maluco para pimentar a minha aventura.
Sentei-me num café do “Costa” na zona de fumadores e comecei a escrever o que se transformou num poema, estava tão excitado e inspirado que os versos saiam-me de primeira, sem ter que pensar muito nisso.
Escrevi bem:

(...)

Guardei o bloco e escrevi também os últimos postais que tinha, depois fui pô-los no correio e fui comer qualquer coisa com um vaucher de 5 Libras que a companhia aérea tinha dado aos passageiros enquanto secavam pelo voo. Entretanto conheci duas Tugas que também estavam à espera do mesmo voo que eu. Uma delas andava na Universidade com um antigo amigo meu, enfim, mesmo em Londres, Lisboa é uma cidade muito pequena. Trocámos números de telefone mas eu sabia que nunca lhes iria telefonar, depois levantei-me e fui ver as lojas do Duty Free.
Na loja da Body Shop descobri finalmente aquele perfume, chamava-se Dewberry, impregnei a bracelete do meu relógio com várias vaporisadelas do Sampler de amostras e, cheirando as horas relembrava de 5 em 5 minutos o cheiro do tempo passado. Sentia-me outra vez como o Jean-Baptiste Grenouille do livro “O Perfume”.
Finalmente o embarque ía começar, eram quase 8 da noite quando passei pelo Check in e me dirigi para o local de embarque, mostrei o bilhete à bacana sorridente que estava à porta e entrei para o Avião.

(...)

3 passageiros clandestinos:

Blogger nina chamou a hospedeira e disse:

Welcome back!
Saudades das tuas escrituras.
«...Mas no meu íntimo ainda não me sentia confiante suficiente para dizer isso a alguém.

O medo do escuro não desaparece só por se acender a luz»
(adorei, principalmente, estas.
Bjo

4:26 da tarde  
Blogger amor de uma mae chamou a hospedeira e disse:

lindo
são estes momentos que faz a vida ter sentido

8:53 da tarde  
Blogger Smootha chamou a hospedeira e disse:

(Por este andar, só em 2014... :) )

Retomaste? Ou estás ainda a ganhar balanço?

Beijo grande

12:23 da manhã  

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