Vilar, verde, com fitinhas nos punhos
Talvez eu até pudesse estar a fazer outra coisa qualquer neste momento… Mas gosto de escrever e não o tenho feito tanto quanto gosto de fazer, não tanto quanto estava a escrever a determinado momento, recentemente, antes do Rio desaguar no Mar e a vontade de escrever se começar a afundar. Mas neste momento, contudo, neste exacto momento, escrever surge simplesmente como algo que vai servir para eu passar uns momentos entretido enquanto não chega a hora da reunião…
Gosto de reuniões fora do expediente, são as minhas preferidas, longe de mesas ovais e salas austeras, ou do requintado de uma elaborada mesa de refeição num restaurante mal iluminado e sobrevalorizado.
As reuniões também podem ser informais, com blusão de cabedal em vez de fato e gravata, num banco de jardim ou na mesa de um café, e os assuntos a tratar são tratados com a mesma seriedade, simplesmente a tensão é muito menor e produz-se uma certa sensação de descontracção que (e isto não é para qualquer um), se for bem gerida, até facilita bastante a negociação, seja ela qual for.
A negociação…
De facto há coisas que é como andar de bicicleta, mas mais por ser algo que se aprende e não necessariamente por ser algo que não se esquece.
Isto faz-me lembrar a “minha” bicicleta Vilar, aquela verde que tive há quase 30 anos e que foi a primeira bicicleta que tive, a primeira de muitas que roubei aqui nas redondezas. Roubei-a sem ter bem a real e abrangente noção do que significava roubar, e embora com os meus mal feitos 9 aninhos na altura eu já soubesse que roubar era errado, a verdade é que me fazia bastante confusão ser o único miúdo da minha rua que não tinha bicicleta, e mais grave ainda (algo que era tratado como segredo de Estado), que não sabia andar de bicicleta, e isto era gravissimo para mim, mesmo que os outros miúdos também só soubessem andar nas suas bicicletas com “rodinhas”.
Seja como for, roubei essa bicicleta fruto de uma ocasião, uma oportunidade que se apresentou e que a minha consciência moral ainda em formação não questionou mais do que considerar que se a bicicleta estava encostada a um muro sem ninguém com ar de dono por perto, então se calhar até podia estar perdida, ou ter sido abandonada … e nesse caso se calhar eu estava a acha-la na rua e não a rouba-la… Enfim, não me lembro exactamente do processo de decisão de pegar nela e leva-la, mas deve ter sido mais ou menos esse. Adiante. Nessa tarde aprendi a andar de bicicleta, sozinho, primeiro a empurra-la para ganhar balanço e a saltar para o acento enquanto arrastava os pés no chão até parar. Depois fui para uma descida para não ter que empurrar e pouco a pouco já conseguia levantar os pés do chão e mantê-los levantados mas sem os conseguir pôr nos pedais. Com algum treino já punha os pés nos pedais mas só conseguia andar a direito… depois aprendi a fazer curvas, inclinado e tudo, e a fazer mini derrapagens nos sítios onde o alcatrão tinha areia. Até conseguia subir e descer passeios sem cair e sem joelhos esfolados, sem quedas aparatosas, apenas um sorriso maior que o mundo e muitas manchas de óleo da corrente no fundo das calças (o que levantou suspeitas lá em casa, naturalmente).
Ao fim do dia a minha Mãe contou a minha façanha ao meu Pai e ele calmamente “acompanhou-me” ao local de onde eu tinha trazido a bicicleta “emprestada” para a devolver e agradecer ao dono.
Duas grandes lições: Roubar é errado e ser apanhado é uma vergonha!.
Naturalmente que todas as outras bicicletas que roub… que trouxe “emprestadas” durante a infância, foram geralmente usadas durante umas horas e foram devolvidas ao fim do dia. Por vezes em dias consecutivos e muitas vezes acho que os donos nem se aperceberam. Mas porque é que eu não tinha bicicleta?
Acho que nunca perdoei ao meu Pai ele nunca me ter comprado uma bicicleta, nem mesmo quando aos 14 anos ele me comprou uma acelera, e eu passei a ser o único puto da minha rua que tinha mota.
Obrigado Papá, entre outras coisas por tudo o que me ensinaste, e pela forma como sempre me protegeste de tudo. Toda essa (sobre)protecção vale hoje mais do que ouro, deu fruto e provocou efeito. Serviu por um lado para me mostrar os perigos da vida, e por outro para eu desenvolver a habilidade de os saber contornar sem correr riscos!
Gosto de reuniões fora do expediente, são as minhas preferidas, longe de mesas ovais e salas austeras, ou do requintado de uma elaborada mesa de refeição num restaurante mal iluminado e sobrevalorizado.
As reuniões também podem ser informais, com blusão de cabedal em vez de fato e gravata, num banco de jardim ou na mesa de um café, e os assuntos a tratar são tratados com a mesma seriedade, simplesmente a tensão é muito menor e produz-se uma certa sensação de descontracção que (e isto não é para qualquer um), se for bem gerida, até facilita bastante a negociação, seja ela qual for.
A negociação…
De facto há coisas que é como andar de bicicleta, mas mais por ser algo que se aprende e não necessariamente por ser algo que não se esquece.
Isto faz-me lembrar a “minha” bicicleta Vilar, aquela verde que tive há quase 30 anos e que foi a primeira bicicleta que tive, a primeira de muitas que roubei aqui nas redondezas. Roubei-a sem ter bem a real e abrangente noção do que significava roubar, e embora com os meus mal feitos 9 aninhos na altura eu já soubesse que roubar era errado, a verdade é que me fazia bastante confusão ser o único miúdo da minha rua que não tinha bicicleta, e mais grave ainda (algo que era tratado como segredo de Estado), que não sabia andar de bicicleta, e isto era gravissimo para mim, mesmo que os outros miúdos também só soubessem andar nas suas bicicletas com “rodinhas”.
Seja como for, roubei essa bicicleta fruto de uma ocasião, uma oportunidade que se apresentou e que a minha consciência moral ainda em formação não questionou mais do que considerar que se a bicicleta estava encostada a um muro sem ninguém com ar de dono por perto, então se calhar até podia estar perdida, ou ter sido abandonada … e nesse caso se calhar eu estava a acha-la na rua e não a rouba-la… Enfim, não me lembro exactamente do processo de decisão de pegar nela e leva-la, mas deve ter sido mais ou menos esse. Adiante. Nessa tarde aprendi a andar de bicicleta, sozinho, primeiro a empurra-la para ganhar balanço e a saltar para o acento enquanto arrastava os pés no chão até parar. Depois fui para uma descida para não ter que empurrar e pouco a pouco já conseguia levantar os pés do chão e mantê-los levantados mas sem os conseguir pôr nos pedais. Com algum treino já punha os pés nos pedais mas só conseguia andar a direito… depois aprendi a fazer curvas, inclinado e tudo, e a fazer mini derrapagens nos sítios onde o alcatrão tinha areia. Até conseguia subir e descer passeios sem cair e sem joelhos esfolados, sem quedas aparatosas, apenas um sorriso maior que o mundo e muitas manchas de óleo da corrente no fundo das calças (o que levantou suspeitas lá em casa, naturalmente).
Ao fim do dia a minha Mãe contou a minha façanha ao meu Pai e ele calmamente “acompanhou-me” ao local de onde eu tinha trazido a bicicleta “emprestada” para a devolver e agradecer ao dono.
Duas grandes lições: Roubar é errado e ser apanhado é uma vergonha!.
Naturalmente que todas as outras bicicletas que roub… que trouxe “emprestadas” durante a infância, foram geralmente usadas durante umas horas e foram devolvidas ao fim do dia. Por vezes em dias consecutivos e muitas vezes acho que os donos nem se aperceberam. Mas porque é que eu não tinha bicicleta?
Acho que nunca perdoei ao meu Pai ele nunca me ter comprado uma bicicleta, nem mesmo quando aos 14 anos ele me comprou uma acelera, e eu passei a ser o único puto da minha rua que tinha mota.
Obrigado Papá, entre outras coisas por tudo o que me ensinaste, e pela forma como sempre me protegeste de tudo. Toda essa (sobre)protecção vale hoje mais do que ouro, deu fruto e provocou efeito. Serviu por um lado para me mostrar os perigos da vida, e por outro para eu desenvolver a habilidade de os saber contornar sem correr riscos!
4 passageiros clandestinos:
Toda a gente tem uma boa recordação da bicicleta que teve em criança. Tu tens uma boa recordação da bicicleta que não tiveste.
O teu post fez-me lembrar a minha primeira bicicleta, maior que eu, mal chegava aos pedais (tenho de sorrir). Foi a "especial", tal como o 1º carro e tudo o resto que é "primeiro" tem sempre aquele gostinho especial que nunca esqueceremos....
quem em criança nunca levou algo para casa «emprestado»
eu e o meu primo filipe de quem tenho muitas saudades
verdadeiros companheiros
um dia passamos numa quinta
e estava ali uma cadela com os seus filhotes pequeninos
com tantos pensamos vamos levar um para cada um
a dona até era amiga de familia
quando chegamos a casa já estavam as nossas mães com ar zangado e a ordem foi devolver
e lá fomos devolver todos tristes mas felizes porque por alguns segundos fomos donos daqueles cães.
hoje percebo os meus pais quando se sentiam mais orgulhosos pelo bom comportamento do que pelas notas da escola
a minha mãe estava sempre a dizer«nunca pegar naquilo que não é nosso» e«não tratar mal ninguém principalmente os mais velhos»
Lindo! :)
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