terça-feira, maio 30, 2006

Auto-retrato

Enquanto faço a barba a sêco com a minha Aochengshishangjingpin luxury rechargable shaver made in China contemplo no espelho as marcas de 35 Verões que exibo no rosto.
As covinhas das bochechas são agora dois riscos que, embora já me tenham dito que são sexy, começam a estar demasiado alinhados com as 3 ruguinhas de expressão que imprimem um sorriso falso nos cantos dos meus olhos. Não incomoda muito o meu narcisismo já que até serve para compensar o nariz aquilino, estragado por ter sido partido vezes de mais, mas que mesmo parecendo uma batata ainda completa o formato simétrico e aveludado dos lábios, da minha boca, a tal boca das maravilhas.
Por cima de mim, a lâmpada de 40 wts chega e sobra para iluminar minusculos reflexos brancos mal semeados nas minhas temporas, pequenos cabelos brancos de que me orgulho estupidamente e sem saber porquê. Nitidamente dentro de 10 anos terei o cabelo grizalho como um tal de Amadeu Eduardo, que morreu há uns anos e mandava nisto tudo.
O barulho da máquina-de-barbear incomoda-me, quase tanto quanto me incomoda questionar-me se ainda tenho idade para andar com esta argola pendurada na orelha... Felizmente a unica tatuagem que tenho é na alma.
Olho para os braços musculados que contraio automaticamente a cada gesto e com uma ligeira rotação do tronco mostro a uma audiencia invisivel que os dorsais fazem um “V” e ligam os peitorais minimamente bem definidos numa mancha de pilosidade uniformemente distribuida e que nunca me pareceu ser demasiada.
Afasto da cabeça o pensamento que já estive com mulheres com menos mãmas que eu...
Mais abaixo, enquanto sacudo os pêlos cortados das lâminas, tomo consciencia que o six-pack abdominal ainda está todo lá, definido como uma embalagem de ½ duzia de ovos, mas meio escondido pelos 3 kilos a mais que me fazem agora usar calças 42 em vez dos 40 que usava nem há 5 anos atrás.
Sem me perder com a idolatração phaelica que tinha na puberdade volto a passar a máquina pela pele da garganta, contornando a maçã de adão, e pelo meio do som da música que vem da sala ensaio a voz grave que se perde no eco dos azulejos côr-de-burro-quando-foge.
A sombra que projecto na parede atrás de mim chama a minha atenção e lembro o meu antigo barbeiro a dizer-me que tenho o craneo bem feito para usar cabelo curto.
Tenho é o craneo cheio Ó Sô Joaquim, cheio a abarrotar...
Olho-me no espelho e vejo que sou um reflexo de mim, é tudo o que sou, e apago a luz.

Já vestido penso nestas palavras que escrevo e caio na realidade.
Eu não sou só aquilo que vejo no espelho, também sou o que sinto, o que acredito, e o que faço. Não tenho duvidas de mim, do que já fiz, que por muito que seja, não é nada perto do que ainda quero fazer. Eu também sou o que digo ...e se hoje a minha palavra vale ouro, foi porque dei tudo o que tinha quando só tinha a minha palavra para dar.
A palavra tem o peso que tem, tem o peso que lhe é dado quando é verdade e o peso inverso quando é mentira. Mas paradoxalmente com uma palavra apenas se promove a verdade, e com uma palavra apenas se perdoa a mentira.
Eu sei que por ter dúvidas da verdade não vou saber perdoar a mentira, e vou morrer um bocadinho todos os dias, porque eu não sou só o que mostro, também sou o que sinto, e na dúvida, o que sinto morrerá comigo um bocadinho por dia também e a escolha que faço, faço-o da melhor maneira que sei, mas já não sei bem o que estou a escolher, como se escolhesse sem saber.
As palavras são por vezes tudo o que tenho, e eu faço o que digo e digo o que faço, e quando as palavras que existem não me chegam, eu crio palavras novas, re-invento a gramática para me fazer entender.
Hoje não sei conjugar o verbo “Saber”, nem no modo Passado, nem no modo Presente, e muito menos no modo Futuro. Só sei conjugar o verbo no modo Intemporal, o modo da Dúvida.

Eu sei
Que tu sabes
Que eu sei.
Também sei
Que tu me sabes dizer
Aquilo que eu sei.
Mas eu não sei
Se tu sabes,
Que eu não sei nada
E tu nada sabes,
Se não me souberes dizer
Aquilo que tu não sabes
Se eu sei

O Blog da “Interferência Sensitiva” acaba aqui.

segunda-feira, maio 22, 2006

Interferência sintonizada

I will scream again
"I am perfectly sane"
But I am
The invisible man

Tudo começou num momento em que as cartas do baralho já não aguentavam mais serem as fundações e alicerces do meu castelo. Mas de repente, como um sopro de esperança lido e ouvido numa música épica e longa demais aparece um conceito para eu me entreter a sonhar com dias mais fortes e sem interferências indesejadas. Daí ao blog foi um dia a aprender como isto funciona e quase 2 anos a postar idiotisses terapeuticas.
Hoje, o Homem Invisivel completou o ciclo da condensação à evaporação.

sexta-feira, maio 19, 2006

true lies

Escreve-se assim o principio do fim

quarta-feira, maio 17, 2006

Gravidade Zero

Just when I thought I'd seen the last of you
You come here scratchin' at my door
Your pain and anger's in the howling dark
Of every corridor I walk

So tell me more about the love that you rejected
Tell me more about the trust you disrespected
I still don't know, why did you hurt the very one
Why did you hurt the very one
That you should have protected?

Signs of Change

The wind changed
I felt it run beneath my hair
Like silk drawn across my neck
And the medium wave
Brought signals here from far away
Something in the air
For those who know the signs
Something in the air...
A storm!


Marillion, "Ocean Cloud" (adapted)

terça-feira, maio 16, 2006

Há filmes e filmes

Uns ficam na memória...
...outros não!

Deste filme ficou-me na memória uma passagem particularmente lúdica:

"Ahh... AAhh... ATCHIM!
Sorry, I'm alergic to bullshit"

segunda-feira, maio 15, 2006

Jogo perigoso

Não gosto nada de jogar ao "vale-tudo", perco sempre... os meus escrupulos não me deixam arrancar olhos!

sábado, maio 13, 2006

Parabéns

Hoje é o teu dia
de festa!
Para a minha querida Patita
Parabéns...
...e palmas!
831F
(Ainda bem que não te chamas Maria de Fátima!)

segunda-feira, maio 08, 2006

Quando a Terra parou de girar

Interrompi tudo o que estava a fazer,
Parei,
De repente
E tudo o que ainda não tinha feito
Ficou ainda por fazer.
Interrompi o cigarro e esmaguei-o no cinzeiro,
Carreguei no pause do CD,
Arranquei o fio ao telefone
E parei o programa da máquina de lavar.
Interrompi o noticiário em directo,
Fechei o livro,
Formatei o disco
Larguei o garfo
Pousei o copo
E desliguei o quadro da luz.
Parei, escutei e olhei
E saltei do 3º andar
Sustive a respiração
Abrandei o ritmo cardiaco
Perdi a conta à pulsação
Saí à rua
Estacionei em contra-mão
Cortei o trânsito,
Desviei o Rio
E até desviava um avião
Soprei ao vento,
Apaguei o Sol
Parei o tempo
Interrompi a História
E parei aqui
Para te dizer
Assim
Enquanto o mundo não gira outra vez
Que eu também te amo
Porque ao contrário do Mundo
Tu
Nunca páras de mo dizer.

sábado, maio 06, 2006

Diálogo Motard

Depois da concentração, num momento de descontracção numa esplanada junto ao rio Tejo:
"-Estou tão excitada por ter aprendido a guiar a mota que fiquei cheia de fome..."
"-Também eu... já te comia qualquer coisa!"

quarta-feira, maio 03, 2006

Honda Civic 1.5 LSi 130cv (automatico)

Estava parado há 6 mêses, pegou à primeira!
Adoro o meu carro!

terça-feira, maio 02, 2006

Uma viagem feita em números

14 dias
1500 Kms (600 Kms por caminhos desconhecidos)
1 pneu da frente careca
90 litros de combustivel (7 depósitos)
1 x 36 rôlo de photos
24 photos digitais
300 Cigarros
0,5 litros de “bicas”
3 litros de "minis"
0,9 litros de Moscatel
0,4 litros de vinho do Porto
50 jogos de “Sueca”
6 jogos de futebol na TV
1 concentração Motard (Alijó)
10 SMS Enviadas
17 SMS Recebidas
1 Cerca construida em madeira (com duas cancelas)
6 dobradiças
3 x 2,4 Metros quadrados de madeira de cofragem
1 x 2,4 Metros quadrados de madeira de forro
(5 x 12) molhos de ripas de pinheiro abeto com “tratamento”
1 Kilo de pregos de “ripa”
1500 marteladas (média de 5 por prego)
200 cortes com serra tico-tico
30 furos com berbequim
12 metros de rede de jardim (com plastificado verde)
2 kilos de arame (idem)
4 esticadores
10 Estacas
100 marretadas (média de 10 por estaca)
4 x 1 metros quadrados de calçada de paralelo de granito
20 metros de fio tri-fásico com “terra”
4 casquilhos E27
1 x 10 barras de junção
4 lâmpadas de 60Wts
1 porta arrombada
1 fechadura trocada
1 caixa de correio feita de madeira (falta o acabamento)
50 horas de trabalho
3 horas (aprox) na Internet
3 sarapitolas
1 casamento
1 funeral