segunda-feira, janeiro 03, 2005

Na Brasileira

Vestida de luz, ensolarada

Com uma caneta na mão

Sentada, a perna cruzada

No meio da multidão



Olho para ti disfarçado

O teu gesto é doce e lento

Cabelo escuro e risca ao lado

Penteada pelo vento



Diz-me para onde vais

Não sei porque estás aqui

Nesta margem, neste cais

O que é escrever p’ra ti ?



Olhas p’ra mim descarada

Tenho um perfil d’Aquilino

Que eu sou tudo e não sou nada

Com esta pinta de Latino



Dois estranhos inspirados

Com vontade de escrever

Neste bairro feito em fados

Sem saber o que dizer



Numa esplanada sentados

Nesta rua de Lisboa

A escrever compenetrados

Eu e tu e o Pessoa



De que cor são os teus olhos ?

- De sorrisos para mim !

Os teus seios são dois molhos

Simplesmente os vejo assim



Tenho vontade de riscar

Estes meus versos roubados

À delicadeza do teu ar

Aos teus olhares cruzados



Os teus olhos cor do mel

Já os vi olhar p’ra mim

Levantados do papel

Lêem-me do princípio ao fim



O que escreves tu não sei

Já fechaste a tua carta

Mas com palavras te toquei

Perguntei, chamas-te Marta



E com um sorriso vestida

Cheia de brilho no olhar

Deste cor à minha vida

Resolveste aqui ficar



E a conversar divagámos

A misturar o som da voz

De tudo um pouco falámos

De ti, de mim e de nós



Fez-se de fogo esta tarde

Para escrever um sarrabisco

E disse como quem arde

Que há quem me chame Francisco



E se chegar ao fim o dia

Nesta cidade, neste cais

Que digas adeus e que eu sorria

Até sempre ou nunca mais

0 passageiros clandestinos:

Chamar a hospedeira para Enviar um comentário

<< Regressar ao cockpit