Um Domingo diferente...
Ao sair de casa não me preocupei muito com a indumentária… andar de mota sem blusão de cabedal é o mesmo que fazer surf sem fato - só mesmo com condições favoraveis, como era o caso. O barulho do motor em V, como sempre, encheu-me de vontade de enrolar o punho, mas a missão a que me lancei trouxe ainda mais determinação à resistência das curvas da marginal, e deixei-me simplesmente rolar com o fluir do trânsito de Domingo, fiz a marginal a 70. Já na A5 libertei o animal a subir para Linda-a-Velha/Carnaxide, 180 a subir, nada mal para uma chopper, ainda por cima naked… depois abrandei, naturalmente, não gosto de andar a abrir.
Na ponte apanhei uns salpicos de chuva na cara e na roupinha de Verão que me fizeram pensar no blusão de cabedal, mas o vento quente do Mar secou-me antes de chegar à outra margem… Apanhei a via rápida em direcção à Costa de Caparica e fui ver o Mar à praia de S. João, do lado da Trafaria. Já gostei mais daquilo, já tive melhores motivos para lá ir passear, já foi um local mais bem frequentado mas em anos recentes aumentou substancialmente a escumalha dos dormitórios da periferia de Lisboa que lá vai encher o passeio maritimo, conspurcar a areia e estragar as ondas… Vim-me embora sem mesmo tomar um café. No regresso passei no Funchalinho (outro buraco) para fazer um recado/favor a alguém, parte da missão mas que serviu mais de desculpa que de outra coisa… Continuei em frente e ao fundo da Via rápida, já em Almada, cheguei finalmente ao destino inicial, um cafézinho de bairro junto ao parque da paz num edificio eternamente semi-construido (é curioso como recentemente o locus-horrendus, o urbano e o pós-industrial me deixaram de seduzir). Mas gosto daquele café, gosto das pessoas mesmo sem saber se gostam de mim, gosto de ser bem recebido e reconhecido mesmo sem saber se é apenas por ser um cliente como outro qualquer, gosto que seja um local para fumadores mesmo que eu já não fume há algum tempo… Gostei particularmente de sentir perfeitamente ultrapassado fosse lá o que fosse que me arrastou algumas vezes até aquele local ao longo do último ano, fosse lá o que fosse, o que as mentes mais pequeninas vão achar, que é isto ou foi aquilo, mas que para mim está muito à frente de fosse lá o que tenha sido. Gosto de lá ir e do alto da minha sobrevivência de conseguir olhar para baixo e ver pegadas agora invisiveis que um dia deixei que se imprimissem em mim… gosto de olhar para trás e conseguir sorrir sem rancor, sem paranóias, sem assuntos mal resolvidos, sem mossas no caracter nem falhas de frontalidade. Gosto de passar por 300 cafés entre a minha casa e aquele local, mas de me permitir o luxo e a excentricidade de ser ali que gosto de ir tomar café ao fim de semana, a 50 kilometros de casa, num café mal decorado num bairro mal acabado à beira de um parque.
Não telefonei, não enviei um sms, nem um email… escrevi uma nota explicativa que enfiei no livro e no dia em que bate 1 ano exactamente… enfim, adiante, coincidências de calendário à parte lembrei o despertar do bom meu gosto como quem se lembra de um filme que se viu anteriormente mas que já não se lembra de quem eram os protagonistas, porque tudo se renova, as fasquias elevam-se sempre um bocadinho mais… Enfiei o livro (ver post abaixo) na caixa do correio e deixei uma marca de pneu – coisa de puto – na calçada. Soube bem ter podido deixar de ver aquele livro sempre a estorvar na minha secretária em casa.
No regresso apressei-me a voltar para a minha margem do Tejo, gosto de jogar em casa, mesmo que me sinta sempre bem a jogar fora de casa. A Ponte tinha mais trânsito, saí logo em Alcântara e visitei a Lex (que não estava em casa) por baixo da ponte, mais adiante em Algés tentei visitar a Mafralda e o seu novo gato, mas também não estava em casa… Gosto dos amigos que tenho, alguns há mais de 30 anos, outros há menos de 10, ou até 5… Gosto também das minhas amigas, e tenho várias, algumas que vejo com mais frequência que outras, mas são definitivamente as que vejo mais esporadicamente as que gosto mais, com quem me sinto melhor. Gosto que sejam amigas apenas, gosto que não me passem mensagens erradas e se mantenham amigas a uma distância segura… tenho pensado bastante nisso, na facilidade com que se passa a mensagem errada sem se dar conta, a facilidade como se cái no enredo de um qualquer documentário da National Geographic, macho atrás da femea, femea à procura de macho… e mais grave que isso, na facilidade com que por falta de atenção uma mensagem errada pode ser mal interpretada, e o quanto isso por vezes acontece à nossa volta. Mas isso é outra história...
Cheguei a casa e falei horas ao telefone, e que bem que me soube. 831F
Na ponte apanhei uns salpicos de chuva na cara e na roupinha de Verão que me fizeram pensar no blusão de cabedal, mas o vento quente do Mar secou-me antes de chegar à outra margem… Apanhei a via rápida em direcção à Costa de Caparica e fui ver o Mar à praia de S. João, do lado da Trafaria. Já gostei mais daquilo, já tive melhores motivos para lá ir passear, já foi um local mais bem frequentado mas em anos recentes aumentou substancialmente a escumalha dos dormitórios da periferia de Lisboa que lá vai encher o passeio maritimo, conspurcar a areia e estragar as ondas… Vim-me embora sem mesmo tomar um café. No regresso passei no Funchalinho (outro buraco) para fazer um recado/favor a alguém, parte da missão mas que serviu mais de desculpa que de outra coisa… Continuei em frente e ao fundo da Via rápida, já em Almada, cheguei finalmente ao destino inicial, um cafézinho de bairro junto ao parque da paz num edificio eternamente semi-construido (é curioso como recentemente o locus-horrendus, o urbano e o pós-industrial me deixaram de seduzir). Mas gosto daquele café, gosto das pessoas mesmo sem saber se gostam de mim, gosto de ser bem recebido e reconhecido mesmo sem saber se é apenas por ser um cliente como outro qualquer, gosto que seja um local para fumadores mesmo que eu já não fume há algum tempo… Gostei particularmente de sentir perfeitamente ultrapassado fosse lá o que fosse que me arrastou algumas vezes até aquele local ao longo do último ano, fosse lá o que fosse, o que as mentes mais pequeninas vão achar, que é isto ou foi aquilo, mas que para mim está muito à frente de fosse lá o que tenha sido. Gosto de lá ir e do alto da minha sobrevivência de conseguir olhar para baixo e ver pegadas agora invisiveis que um dia deixei que se imprimissem em mim… gosto de olhar para trás e conseguir sorrir sem rancor, sem paranóias, sem assuntos mal resolvidos, sem mossas no caracter nem falhas de frontalidade. Gosto de passar por 300 cafés entre a minha casa e aquele local, mas de me permitir o luxo e a excentricidade de ser ali que gosto de ir tomar café ao fim de semana, a 50 kilometros de casa, num café mal decorado num bairro mal acabado à beira de um parque.
Não telefonei, não enviei um sms, nem um email… escrevi uma nota explicativa que enfiei no livro e no dia em que bate 1 ano exactamente… enfim, adiante, coincidências de calendário à parte lembrei o despertar do bom meu gosto como quem se lembra de um filme que se viu anteriormente mas que já não se lembra de quem eram os protagonistas, porque tudo se renova, as fasquias elevam-se sempre um bocadinho mais… Enfiei o livro (ver post abaixo) na caixa do correio e deixei uma marca de pneu – coisa de puto – na calçada. Soube bem ter podido deixar de ver aquele livro sempre a estorvar na minha secretária em casa.
No regresso apressei-me a voltar para a minha margem do Tejo, gosto de jogar em casa, mesmo que me sinta sempre bem a jogar fora de casa. A Ponte tinha mais trânsito, saí logo em Alcântara e visitei a Lex (que não estava em casa) por baixo da ponte, mais adiante em Algés tentei visitar a Mafralda e o seu novo gato, mas também não estava em casa… Gosto dos amigos que tenho, alguns há mais de 30 anos, outros há menos de 10, ou até 5… Gosto também das minhas amigas, e tenho várias, algumas que vejo com mais frequência que outras, mas são definitivamente as que vejo mais esporadicamente as que gosto mais, com quem me sinto melhor. Gosto que sejam amigas apenas, gosto que não me passem mensagens erradas e se mantenham amigas a uma distância segura… tenho pensado bastante nisso, na facilidade com que se passa a mensagem errada sem se dar conta, a facilidade como se cái no enredo de um qualquer documentário da National Geographic, macho atrás da femea, femea à procura de macho… e mais grave que isso, na facilidade com que por falta de atenção uma mensagem errada pode ser mal interpretada, e o quanto isso por vezes acontece à nossa volta. Mas isso é outra história...
Cheguei a casa e falei horas ao telefone, e que bem que me soube. 831F
Isto foi ontem; Hoje vou para Norte...
5 passageiros clandestinos:
Parece ter sido um dia diferente dos outros, abafado e húmido.
Ainda bem que te livraste do livro.
Isso das amigas e das mensagens erradas dá sempre umas histórias muito mal contadas.
PS: Boa viagem
mensagens erradas...há tantas e dão sempre azo a histórias mto mal contadas que normalmente acabam mal.
A distância segura é sempre a melhor política, deixando sempre à parte contrária o avanço ou não , o esclarecimento ou não da mensagem que existe ou não...
Boa Viagem ! bjs
Parece-me que finalmente te livraste de algum lastro emocional.
Fico feliz por ti, acredita. Nada me deixa mais feliz do que saber/sentir que estás bem (cada vez melhor).
P.S.: Já sentia falta de te ler "assim".
Beijos enormes
P.S.2: Que a tua viagem até lá se faça num vapt-vupt ;) Mas com cuidado, ok?
Mais dois beijos enormes
mas ha pessoas que foram da nossa vida que depois passam a amigas e que mensagem passas agora?
de um amigo, certo?
nao dá pra complicar, certo?
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