Despojos
É sexta-feira, já é de noite mas ainda não é muito tarde.
Enquanto escrevo contemplo a tarefa inacabada que acabei de me fartar de executar...
-Não é facil esventrar bocados dos seus próprios despojos-
A musica transporta-me para onde lhe apetece, aleatóriamente, mas como se tivesse uma vontade própria que escapa à minha vontade. Sinto pela primeira vez que perdi o controlo da música, porta mágica que abro a e que me transporta para onde eu quero, ou assim julgava eu...
A minha vida tomou muitos rumos nos últimos anos, tantos rumos que já não sei bem em que rumo estou. Lembro vagamente um poema que escrevi justamente sobre esse sentimento de estar em completo desnorte e querer desesperadamente encontrar o caminho certo por artes mágicas: “A Ponte”, bonito poema de que me orgulho.
Mas continuo assim, agora, a escrever em frente dos meus despojos espalhados na mesa. Caixas de CDs vazias e pilhas de CDs amontoados sem caixa. Tantos anos passados e tantas mudanças por que passei que acabei por perder o brio que tinha na minha colecção de CDs, hoje mero acumular de despojos a que já chamei memórias, despojos que arrastei comigo em malas e caixas e sacos e carros e motos e barcos e aviões e boleias com desconhecidos e paises diferentes onde vivi e outros por onde passei sem me lembrar já muito bem porquê... Lugares que eram meus e outros que nem por isso, casas alugadas e quartos de hotel, e residências de estudantes e outros lugares que prefiro já não me lembrar pois só serviram para escapar ao frio amargo e por vezes solitário da rua.
Já foram só 20 os meus CDs, depois cresceram, uns comprados novos, outros verdadeiras raridades encontradas em lojas obscuras de música em segunda mão que encontrei nas ruas escondidas de cidades por onde passei. Outros CDs não eram meus, pedi-os emprestados e não os devolvi, ou simplesmente roubei-os, descaradamente, sem remorso, como um cleptomaniaco.
Começaram por ser só 20, depois 50, e 200 e mais de 500! Depois a vida dava daquelas voltas que me faziam ter que vender os meus CDs, porque tinha que ser, e não descansava até mais tarde os poder gradualmente comprar outra vez... tenho CDs que já tive que comprar 2 e 3 vezes.
Hoje mal passam de 200 os meus CDs, e muitos são meras cópias que não têm sequer uma triste fotocopia da capa do original a ilustrar-lhes as caixas.
Tenho assim à minha frente um amontoado de CDs onde cada um que ouço é uma viagem.
Já vou na 3ª viagem desde que aqui me sentei a arruma-los, e viajo ao som da música, e regresso a cada trago de moscatel que engulo em seco sem chegar a saborear.
É curioso que os despojos de que falo hoje andam sempre de mão dada com um outro despojo de mim, a Mãe de todos os despojos do meu passado: A minha bela aparelhagem! Um par de despropositadamente grandes colunas Pioneer de 120wts que foram dropinadas da sala de aerobica do Dramático de Cascais (acredite-se!), o amplificador de valvulas “Galaxy” com 4 saidas (que comprei em 1995 por 20 Libras numa loja de artigos em segunda mão em Canterbury, a Sul de Londres) e os auxiliares que eu lhe queira aplicar num dado momento.
Ao fim de tantos anos sem poiso fixo, para mim, era a localização da minha aparelhagem (e dos meus CDs) que acabava por designar o local a que chamava “Lar”.
Hoje tudo parece ter mudado, estabilizado, e o poiso, que parece ser cada vez mais fixo cada vez menos parece ser “Lar” (Sinto-me completamente deslocado – Pronto, está dito!) mas é o poiso que escolhi, que quero que seja o meu poiso, o local onde a minha colecção de CDs se poderá fundir com outra colecção, e onde estará a minha bela aparelhagem, velha, que deixará de ser só minha, cada vez mais...
Sim, os CDs já cá estão... Mas a aparelhagem é o tal passo sem retorno que ainda não consegui dar, ainda não está tudo a jogar a meu favor, pelo contrário, parece que tudo em que acredito anda às avéssas neste momento (o filho da puta do vento ainda não virou para o meu lado, cabrão!)
Entretanto troquei de viagem (Brave – Marillion – 1994), a viagem mais intensa que alguma vez fiz, talvêz por ter sido a primeira... (Guardo ainda os escritos dessa viagem num caderninho azul com páginas amarelecidas pelo tempo e pelo uso. Há coisas que pura e simplesmente não são possiveis de partilhar, são unicas e tão nostalgicas, tão pessoais que até doi re-vivê-las... A música tem esse poder em mim, é assustador!).
...e os despojos amontoam-se à minha frente, como se já estivessem arrumados, e provavelmente vão ficar assim a maior parte do fim de semana.
Não vou beber mais, a canêta já anda aos tropeções, já estou tonto e com uma sede danada para emborcar a segunda metade da garrafa...
-Falta-me a neve de Fevereiro... HA, HA, HA...
Enfim, no inicio da semana passada escrevi com uma canêta, hoje, quase no fim da mesma semana reincidi, escrevi com uma canêta, por linhas que me parecem tortas de dislexia. Há uns bons 10 anos que não escrevia assim.
Deve ser dos ansioliticos que ando a tomar...
Enquanto escrevo contemplo a tarefa inacabada que acabei de me fartar de executar...
-Não é facil esventrar bocados dos seus próprios despojos-
A musica transporta-me para onde lhe apetece, aleatóriamente, mas como se tivesse uma vontade própria que escapa à minha vontade. Sinto pela primeira vez que perdi o controlo da música, porta mágica que abro a e que me transporta para onde eu quero, ou assim julgava eu...
A minha vida tomou muitos rumos nos últimos anos, tantos rumos que já não sei bem em que rumo estou. Lembro vagamente um poema que escrevi justamente sobre esse sentimento de estar em completo desnorte e querer desesperadamente encontrar o caminho certo por artes mágicas: “A Ponte”, bonito poema de que me orgulho.
Mas continuo assim, agora, a escrever em frente dos meus despojos espalhados na mesa. Caixas de CDs vazias e pilhas de CDs amontoados sem caixa. Tantos anos passados e tantas mudanças por que passei que acabei por perder o brio que tinha na minha colecção de CDs, hoje mero acumular de despojos a que já chamei memórias, despojos que arrastei comigo em malas e caixas e sacos e carros e motos e barcos e aviões e boleias com desconhecidos e paises diferentes onde vivi e outros por onde passei sem me lembrar já muito bem porquê... Lugares que eram meus e outros que nem por isso, casas alugadas e quartos de hotel, e residências de estudantes e outros lugares que prefiro já não me lembrar pois só serviram para escapar ao frio amargo e por vezes solitário da rua.
Já foram só 20 os meus CDs, depois cresceram, uns comprados novos, outros verdadeiras raridades encontradas em lojas obscuras de música em segunda mão que encontrei nas ruas escondidas de cidades por onde passei. Outros CDs não eram meus, pedi-os emprestados e não os devolvi, ou simplesmente roubei-os, descaradamente, sem remorso, como um cleptomaniaco.
Começaram por ser só 20, depois 50, e 200 e mais de 500! Depois a vida dava daquelas voltas que me faziam ter que vender os meus CDs, porque tinha que ser, e não descansava até mais tarde os poder gradualmente comprar outra vez... tenho CDs que já tive que comprar 2 e 3 vezes.
Hoje mal passam de 200 os meus CDs, e muitos são meras cópias que não têm sequer uma triste fotocopia da capa do original a ilustrar-lhes as caixas.
Tenho assim à minha frente um amontoado de CDs onde cada um que ouço é uma viagem.
Já vou na 3ª viagem desde que aqui me sentei a arruma-los, e viajo ao som da música, e regresso a cada trago de moscatel que engulo em seco sem chegar a saborear.
É curioso que os despojos de que falo hoje andam sempre de mão dada com um outro despojo de mim, a Mãe de todos os despojos do meu passado: A minha bela aparelhagem! Um par de despropositadamente grandes colunas Pioneer de 120wts que foram dropinadas da sala de aerobica do Dramático de Cascais (acredite-se!), o amplificador de valvulas “Galaxy” com 4 saidas (que comprei em 1995 por 20 Libras numa loja de artigos em segunda mão em Canterbury, a Sul de Londres) e os auxiliares que eu lhe queira aplicar num dado momento.
Ao fim de tantos anos sem poiso fixo, para mim, era a localização da minha aparelhagem (e dos meus CDs) que acabava por designar o local a que chamava “Lar”.
Hoje tudo parece ter mudado, estabilizado, e o poiso, que parece ser cada vez mais fixo cada vez menos parece ser “Lar” (Sinto-me completamente deslocado – Pronto, está dito!) mas é o poiso que escolhi, que quero que seja o meu poiso, o local onde a minha colecção de CDs se poderá fundir com outra colecção, e onde estará a minha bela aparelhagem, velha, que deixará de ser só minha, cada vez mais...
Sim, os CDs já cá estão... Mas a aparelhagem é o tal passo sem retorno que ainda não consegui dar, ainda não está tudo a jogar a meu favor, pelo contrário, parece que tudo em que acredito anda às avéssas neste momento (o filho da puta do vento ainda não virou para o meu lado, cabrão!)
Entretanto troquei de viagem (Brave – Marillion – 1994), a viagem mais intensa que alguma vez fiz, talvêz por ter sido a primeira... (Guardo ainda os escritos dessa viagem num caderninho azul com páginas amarelecidas pelo tempo e pelo uso. Há coisas que pura e simplesmente não são possiveis de partilhar, são unicas e tão nostalgicas, tão pessoais que até doi re-vivê-las... A música tem esse poder em mim, é assustador!).
...e os despojos amontoam-se à minha frente, como se já estivessem arrumados, e provavelmente vão ficar assim a maior parte do fim de semana.
Não vou beber mais, a canêta já anda aos tropeções, já estou tonto e com uma sede danada para emborcar a segunda metade da garrafa...
-Falta-me a neve de Fevereiro... HA, HA, HA...
Enfim, no inicio da semana passada escrevi com uma canêta, hoje, quase no fim da mesma semana reincidi, escrevi com uma canêta, por linhas que me parecem tortas de dislexia. Há uns bons 10 anos que não escrevia assim.
Deve ser dos ansioliticos que ando a tomar...
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