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Dantes escrevia muito, a caneta nos dedos como uma baioneta, com a mão trémula e o olhar dislexico, o papel tinha linhas ou não, geralmente A4 mas qualquer bloquinho de bolso servia. Um café, um copo de agua e um cigarro numa esplanada qualquer. A defeito de o dizer escrevia o que me ia na alma, a defeito de o cantar chorava as palavras que escrevia, tingia o papel de azul e sal, e inspirava-me no Mar e pouco me importava de quem estava a olhar.
Agora, carrego no botão, ouço um barulhinho arrastado e um beep e enquanto o PC arranca e não arranca insisto em fazer alguma coisa para não desperdiçar esses segundos entre um ecran escuro e um prompt a chamar pelos meus clics em banda larga. Não muito longe está o zumbido de 56kb que transformavam a minha acessibilidade telefónica em sinal de interrompido. Introduzo uma password, o ecran acende-se e um estalido imperceptível diz-me que estou online
Mas hoje não. A tempestade e a distância mantiveram-me aqui, atirado para a mesa do canto com vergonha de abrir o laptop. Tenho 3 redes sem fios disponíveis, a promiscuidade propaga-se às telecomunicações. Não me ligo. Escrevo com os dedos frios a acariciarem as teclas frias também, o olhar continua dislexico mas tenho um par de óculos novos que enganam qualquer um. Escrevo o que me vai na alma, não canto porque há música ambiente, não choro porque tenho razões para sorrir…
…e enquanto escrevo penso nos cabelos grisalhos que se começam adivinhar nos meus trinta e poucos anos, penso que devo sair ao meu Pai que só conheci com o cabelo branco, penso que prefiro não sair ao meu avô que não conheci, que foi Herói de Guerra mas era careca.
Escrevo de hoje para amanhã, o presente projectado num futuro que quando chegar servirá para falar deste presente que amanhã será passado.
…e enquanto escrevo o tempo presente passa, “corre lento, imenso, devagar”. Amanhã será presente, e depois também, e depois, e depois, e depois…
Agora, carrego no botão, ouço um barulhinho arrastado e um beep e enquanto o PC arranca e não arranca insisto em fazer alguma coisa para não desperdiçar esses segundos entre um ecran escuro e um prompt a chamar pelos meus clics em banda larga. Não muito longe está o zumbido de 56kb que transformavam a minha acessibilidade telefónica em sinal de interrompido. Introduzo uma password, o ecran acende-se e um estalido imperceptível diz-me que estou online
Mas hoje não. A tempestade e a distância mantiveram-me aqui, atirado para a mesa do canto com vergonha de abrir o laptop. Tenho 3 redes sem fios disponíveis, a promiscuidade propaga-se às telecomunicações. Não me ligo. Escrevo com os dedos frios a acariciarem as teclas frias também, o olhar continua dislexico mas tenho um par de óculos novos que enganam qualquer um. Escrevo o que me vai na alma, não canto porque há música ambiente, não choro porque tenho razões para sorrir…
…e enquanto escrevo penso nos cabelos grisalhos que se começam adivinhar nos meus trinta e poucos anos, penso que devo sair ao meu Pai que só conheci com o cabelo branco, penso que prefiro não sair ao meu avô que não conheci, que foi Herói de Guerra mas era careca.
Escrevo de hoje para amanhã, o presente projectado num futuro que quando chegar servirá para falar deste presente que amanhã será passado.
…e enquanto escrevo o tempo presente passa, “corre lento, imenso, devagar”. Amanhã será presente, e depois também, e depois, e depois, e depois…
2 passageiros clandestinos:
Que o pré-grisalho dos teus cabelos seja sinónimo de consciência, coerência, maturidade, Espírito elevado...e não de ralações e stresses desnecessários...!
Não te preocupes que sais à tua mãe. ;-)
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