quinta-feira, abril 28, 2005

Sexto Sentido

Na mente passava-me a ideia de que o meu corpo de ser humano é dotado de cinco sentidos. Levantei o pé do acelerador para reduzir a velocidade e num gesto mecânico abri a janela com um toque prolongado no botão da consola central, o ar quente e poluído cruzou-se com o fumo do cigarro acabado de acender e a deslocação do ar abafou o som da música. Não me importei com a densidade crescente do trânsito, este caminho é sempre o mesmo, vezes houve em que não apanhei trânsito, mas estamos na última semana do mês, a função pública já recebeu. Consequentemente os plafonds negativos das contas ordenado já voltaram a saldo zero. Assim, os automóveis de gama média adquiridos em regime de ALD viram os seus depósitos de combustível atestados a diesel do mais barato, o que os fez saírem de cima dos passeios pedonais dos dormitórios suburbanos que circundam Lisboa, e virem todos infestar a A5 durante as duas primeiras semanas do mês que vem… Ocorre-me uma analogia com os bandos de ratos que corriam atrás do flautista de Hamelin. Ao meu lado pavoneia-se ostensivo um pseudo-bólide a diesel, que bela dívida ali vai, produção alemã a que os alemães chamam “o carro do povo”, made in Palmela seguramente, ou pior, made in Espanha…
Ao passar por uma zona de obras no pavimento senti as narinas invadidas pelo odor intenso do alcatrão derretido acabado de aplicar… a memória de outros locais instalou-se em mim sem eu poder concretamente identificar onde e quando teria já sentido aquele odor, tantas vezes, tantas vezes… A minha memória é o meu sexto sentido, evade-me, torna-me invisível...

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